O PRESENTE VALIOSO (conto)
Havia um povoado desolado pela guerra em que a população sobrevivia com o
pouco que restara, as casas em ruínas, poucos móveis, o trabalho escasso,
as pessoas viviam modestamente, com poucos recursos que encontravam e como
o dinheiro também era insuficiente, os habitantes estabeleciam trocas de bens
e de trabalho e tentavam resistir em uma época difícil no meio de tanta desgraça.
Dois jovens sobreviventes viviam juntos e tentavam ser felizes. Acreditavam que
o futuro seria melhor. Quando um esmorecia o outro animava e quando
constatavam a dificuldade daquela vida árdua lembravam que tinham um
ao outro e esse alento garantia a esperança que dias melhores haveriam de surgir.
Como dispunham de poucos objetos de valor e viviam com muita pobreza, nem
sonhavam com presentes, mas ambos acalentavam em segredo o desejo de
oferecer ao parceiro alguma coisa que demonstrasse um pouco da ternura e
amor que sentiam.
A moça tinha um cabelo lindo que valorizava o seu rosto delicado e abrandava um
pouco as feições de sofrimento da labuta diária, aquele era o seu maior tesouro,
que penteava com suas próprias mãos, pois nem pente ela dispunha, tal a miséria
que viviam.
O rapaz igualmente nada tinha de valor, exceto um velho relógio, herança de seu
pai, que guardava com zelo dentro do seu bolso, que nem mais funcionava,
mas era o seu objeto mais precioso, o único que dispunha.
Um dia tiveram a ideia de presentearem um ao outro com alguma coisa que
pudesse demonstrar o grande carinho que sentiam. Coincidentemente, mas
em segredo pensaram em como realizar esse desejo.
A moça lembrou que na cidade havia uma mulher que talvez se interessasse
pelos seus cabelos e foi ao encontro dela, imaginando que pudesse receber
em troca alguma mercadoria para oferecer a seu amado e como todos eram
muito pobres a única coisa que mulher tinha para oferecer em troca dos cabelos
da jovem era uma velha corrente de ouro. A moça ficou feliz com aquela
oferta, pois lembrou-se do relógio do marido e que complementaria
perfeitamente. Sem a menor dúvida, imediatamente aceitou a troca, deixou
que seus cabelos fossem cortados, colocando um véu na cabeça voltou para
casa ansiosa para encontrar seu amor e entregar a surpresa.
Por sua vez o rapaz também procurava algo que pudesse agradar sua esposa
adorada e não pensou duas vezes em se desfazer de seu único bem em troca de
algo especial. Encontrou um comerciante que fazia trocas em sua loja e no
meio de tantas quinquilharias encontrou uma escova com cabo de madrepérola,
desgastada pelo tempo, mas que seria valiosa para sua amada pentear seus lindos
cabelos e sem pestanejar trocou o relógio do seu pai pela escova.
Ambos estavam felizes com suas escolhas e não viam a hora de oferecer a surpresa
para seu amor.
Naquela noite quando se encontraram após o trabalho, ansiosos de como seria
a admiração do companheiro ao receber o presente. A moça não se conteve e
assim que o rapaz entrou em casa entregou-lhe a corrente de ouro e ele,
comovido, ofertou-lhe a escova. Ela deixou cair o véu e o rapaz mostrou
o bolso vazio. Sorriram e entenderam perfeitamente aquele gesto de amor
que fizeram um ao outro, então se abraçaram e comemoraram a alegria
de estarem juntos.
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