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sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

CONVERSANDO COM OS PAIS - Dormir na cama dos pais






DIFICULDADE COM O SONO

A mãe me liga pedindo uma consulta para seu filho de sete anos, conta que teve indicação de meu nome através de uma conhecida comum que, justamente me procurou por um problema semelhante: a dificuldade da criança dormir sozinha em seu próprio quarto aguardando ansiosa por uma solução para essa situação que segundo ela “Já está se prolongando demais!”. Marcamos um encontro para o dia seguinte e pergunto se o pai também poderia comparecer, mas sinto um estranhamento por parte dela com minha pergunta (que considero bastante natural, visto que essa dificuldade deveria afetar toda a família, pensava), mas sua colocação foi dizer, referindo-se ao marido: - “Ele dorme a noite toda e nem liga pra isso”. Fiquei imaginando então o que me aguardava.
Dificuldade com o sono parece ser uma queixa cada vez mais comum, crianças que têm suas atividades escolares no período da tarde, como no caso desse menino, costumam não ter um ritmo diurno e costumam acordar mais tarde e com isso também dormem mais tarde também, justificando que seus compromissos são após o almoço, as manhãs são "encolhidas" ou talvez, melhor definindo, pouco aproveitadas. Nesse caso, como exemplo, a criança acordava depois das nove e meia da manhã e dificilmente dormia antes da meia-noite e  ainda dormia frequentemente na cama dos pais, ou em raras exceções dormia na sala e era levada até o seu quarto, mas no meio da noite ia visitar a cama dos pais e por lá permanecia até a manhã seguinte. A mãe refere desconforto com essa situação, um pouco embaraçada, confessa que embora seja desagradável repartir a cama com o filho, que “se mexe muito e não pára quieto”; sente-se sozinha nessa preocupação, pois o marido parece não se importar tanto com isso e referindo que a criança ainda é muito pequena e que “mais cedo ou mais tarde ele irá aprender a ficar na sua cama sozinho”.
Durante a consulta a criança ficou quase que o tempo inteiro no colo da mãe, que veio sem a companhia do marido, alegando que estava trabalhando naquele horário. Embora seja comum essa desconfiança infantil no início da consulta, por se tratar de um lugar diferente e novo, me chama atenção o grau de simbiose que parece acontecer entre aquela dupla e como me pareceu ser bastante óbvio que essa parelha não conseguiria se separar tão facilmente por um período tão longo como o sono noturno, ainda mais quando a mãe justificava que o filho era ainda muito pequeno e que tinha medo de escuro, embora confessasse que esse temor também ela própria experimentava e aguardando que com o tempo as coisas se resolvessem.
Sua expectativa é que houvesse algum tratamento para isso, talvez algum medicamento, de preferência natural, que fizesse o menino dormir tranquilo, em seu próprio quarto.
As soluções mais simples, nem sempre são as mais fáceis, mas é preciso colocar algumas questões em casos assim, como, por exemplo, dar a devida importância à cama dos pais que não deveria ser repartida com seus filhos, nesse aspecto muitas considerações poderiam ser observadas, como álibi justificável para que o casal adie sua própria relação matrimonial e tenha uma vida sexual preservada e privada, ou ainda o incomodo causado por esse vínculo tão intenso e que necessitaria de alguma intervenção, através do apoio paterno. Sabemos da importância do elo entre a mãe e seu filho, que visceralmente até se justifica através da gestação, se prolongando com o aleitamento e que conforme a criança vá crescendo possa experimentar outras relações e essa ligação vá adquirindo também contornos menos simbióticos. Isso aparenta ser mais tranquilo quando observado de fora e nem sempre é fácil mudar esse quadro, ainda mais quando uma das partes está sozinha e sem saber como agir, como, infelizmente é comum.
O processo de socialização da criança passa de um ambiente doméstico para o coletivo, quando começa a frequentar a escola com a possibilidade de encontrar novas relações e experimentar a novidade, fora do seu ambiente que é seguro e conhecido, esse novo espaço, também causa estranhamento e tem lá seu aspecto assustador, mas é preciso conduzir a criança a esses novos desafios, como à noite assegurar que ela pode dormir sozinha em sua cama, que estará protegida, que o escuro pode ser iluminado e que enfim algo precisa mudar. Logicamente que essa tarefa seria muitíssimo mais facilitada com a presença do casal, que solidário com a preocupação comum visa não só o bem estar da criança, mas a harmonia familiar, enfim uma cumplicidade é necessária no processo criativo, afinal o ritmo fisiológico precisa ser preservado e essa também é tarefa dos pais, assim como introduzir seus filhos à vida fora de casa, com critério, com consciência, mas, sobretudo com coerência e isso não pode ser adiado e prolongado demais, porque os prejuízos não ficam somente na superfície, mas outras implicações psíquicas também poderiam ser resguardadas se os ambientes fossem respeitados.
A criança deveria ter a vivência de brincar e experimentar coisas no seu quarto, lá poderia construir castelos e sonhos e ouvir histórias contadas pelos pais, desse modo esse ambiente vai se tornando acolhedor e familiar, ao invés da sala, na frente da televisão, ou na cama dos pais. Histórias contadas no quarto da criança, com ela deitada em sua cama, tem um significado bastante distinto comparado com outra fora desse ambiente. Também é uma das tarefas dos pais tornar esse local de convívio cativante e acolhedor para seus filhos, mas para isso também precisam abrir mão do seu conforto pessoal e da letargia em considerar que as coisas um dia acabam mudando, certamente, mas algumas vezes com sequelas nem sempre agradáveis e que poderiam ser conduzidas de um modo mais apropriado e coerente.

Dr. José Carlos Machado - pediatra e médico escolar.





CONVERSANDO COM OS PAIS - O choro do bebê









O casal entra no consultório com seu filho de quatro meses, fisicamente parece que o bebê está bem, amamentado exclusivamente com leite materno, com desenvolvimento adequado, tinha acabado de mamar e agora dorme tranquilamente no colo da mãe, que se acomoda no sofá com cuidado para não despertar o bebê que é uma menina de aparência forte e saudável.
Seus pais estão muito orgulhosos com o primeiro filho, dizem que chora muito pouco, ambos concordam que a filha é a melhor coisa que aconteceu na vida deles e o pai se apressa em dizer que o bebê quase não dá trabalho, mas a mãe o interrompe garantindo que a filha passa o dia inteiro no colo e que só não chora porque fica no seio a maior parte do tempo e arremata, dizendo para mim, procurando um aliado: - "Para ele é tudo moleza!" 
Dizem também que estão muito preocupados com o futuro da filha, o pai quer saber quais vacinas ainda precisam ser aplicadas e a mãe se diz preocupada com a possibilidade de diminuir o leite materno e a criança passar fome e como fazer para que fique menos tempo no colo sem chorar, porque não suporta vê-la sofrer.
A mãe quer saber sobre a natureza dos choros e descreve que fica muito angustiada quando o bebê começa a chorar, pois fica aflita por achar que o choro se refere a algum sofrimento que desconhece e isso a incomoda muito, então, instintivamente, coloca-a no seio e, desse modo, a filha parece se acalmar e assim passa grande parte do dia, a mãe comenta que desse modo a criança fica menos irritada e mama melhor, o que a tranquiliza, o pai concorda com o procedimento da mãe e tem questões bem específicas sobre as vacinas e quer saber o que devem fazer e como proteger seu bebê e ainda quais os cuidados que precisam ter com as doenças que podem acometer a saúde da filha; preocupa-se muito com infecções e questões de higiene; nesse ponto divergem um pouco, pois o pai considera que a criança precisa ser imunizada e é favorável a que sejam utilizadas vitaminas e analgésicos e a mãe, por sua vez, defende que a criança é ainda muito pequena e que deveria tomar o mínimo possível de remédios e, se possível, reduzir a vacinação ao mínimo necessário, já que está sendo protegida com o uso de leite materno. São visões e opiniões diferentes a respeito da vida do bebê, existe um confronto entre os dois e delegam a mim a decisão sobre a melhor conduta que deveriam tomar.
Logicamente, as preocupações dos pais são legítimas e válidas, não me parece ser o caso de justificar essas apreensões pelo simples fato de ser esse o primeiro filho do casal, sendo a inexperiência e o ineditismo as únicas justificativas, pois é comum que todos os pais queiram saber o que poderá acontecer aos seus filhos e qual a melhor maneira de evitarem algum contratempo com que venha ocorrer, mas talvez pelo fato de serem mais inexperientes, é natural que considerem o choro como algo assustador, ou na fala da própria mãe quando descreve a filha incomodada: – “É um choro tão intenso, que parece que ela está sentindo alguma dor, mas não sei onde e então fico desesperada”. E pergunto: - “E o que é que você faz nessas horas?” - “Eu a coloco para mamar e mesmo assim ela resiste, mas depois insisto e ela acaba sossegando no peito...”, diz conformada. O pai concorda com a descrição da mãe e se diz incomodado com essa cena repetitiva que não consegue presenciar e quer saber o que poderiam fazer para que a filha não sofresse tanto: - "Existe algum remédio para isso?", ele me questiona. 
A questão aqui é que dificilmente poderemos dar a tranquilidade que esses pais tanto anseiam, pelo menos não de uma maneira mágica e imediata. Responder com absoluta convicção um caminho seguro a ser seguido, quanto mais oferecer um medicamento para isso, não se trata de algo que deveríamos nos comprometer ou iludir. Poderemos sim falar sobre isso, sobre as angústias que todos pais têm a respeito da saúde de seus filhos, opinar sobre algumas possibilidades que possam gerar esse desconforto, mas o que me parece ser particularmente significativo é tentar entender o que afinal gera tamanha frustração e ansiedade nos adultos quando ouvem o choro de um bebê, como no caso desse casal. Lógico que associamos isso como algo desagradável e desconfortável, certamente, deflagrando em nós a impotência de cessar esse desconforto e, geralmente ficamos frustrados, como no caso dessa mãe, e deixamos o desespero nos invadir e nos paralisar, mas também não podemos esquecer que é uma manifestação natural dos bebês e os pais, como nesse caso, ficam em saber como agir e procuram respostas e soluções imediatas e, se possível, garantias que não terão mais que passar por isso. 
Na verdade, imagino que seria esse o objetivo não revelado da consulta quando me procuraram, pois, gostariam mesmo era de perguntar: - “O que precisa ser feito para o bebê não chorar e não termos que passar por isso?”  
Ficam mais frustrados ainda quando lhes digo que desconheço um caminho fácil e seguro que conduza a criança a um futuro feliz, tranquilo, sem choros e sem contrariedades, principalmente porque também faz parte do papel dos pais aprender a lidar com esses descontentamentos e nesse pacote, precisam aprender a abrir mão de algum conforto próprio como, por exemplo, suportar o desconforto de ver seu filho chorando.
Explico melhor, não existem garantias nessa área, pelo menos, não absolutas, o que para alguns pais é algo absolutamente angustiante, porque evoca uma possibilidade, mesmo que remota, de que seu filho possa apresentar algum problema e então eles tentam fechar todas as portas para que isso não aconteça, as crianças então passam a ser super imunizadas e sobrecarregadas com um excesso de medicamentos, muitas vezes desnecessário na tentativa de impedir qualquer contratempo que possa ocorrer; não se trata tampouco de tomar uma conduta displicente ou naturalista, mas enfatizar o bom senso, transferindo também para os pais que as escolhas que fizerem, sejam quais forem, irão, certamente, gerar situações que talvez não o seja ideal para a criança e eles mesmos não consigam lidar, tanto pelo excesso como também pela falta.
Esse casal que descrevo, assim como tantos outros, tem opiniões antagônicas em relação a muitas coisas significativas na vida do bebê, que começam a surgir no dia a dia na vida familiar, esses conflitos existem naturalmente e caso não sejam resolvidos ficarão cada vez mais isolados um do outro e os planos que fizeram em criar o filho juntos, de comum acordo, acabará se distanciando. É preciso certa dose de coragem para enfrentar isso, mas também de confiança e acreditar na força e no elo que a família vai formando, onde um apoia o outro e o processo criativo vai se consolidando cada vez mais, sem muitas garantias talvez, mas, certamente com esperança de que juntos conseguirão bons resultados, apesar das dificuldades e do desconhecido que virá pela frente.
O pediatra poderá sim opinar a esse respeito, ter compaixão e ser um ouvinte sincero e dizer também com consciência aquilo que pensa, falar sobre sua experiência, enfim, se solidarizar com essa família; mas deve, sobretudo, deixar que a família decida e escolha o seu próprio caminho, uma coisa é indicar uma conduta independente da participação do casal, outra é fazer com que os pais também se impliquem com as escolhas que venham a fazer em relação aos filhos, sejam quais forem, desse modo, os radicalismos de ambos os lados, também podem ser discutidos e analisados com mais critério, desde que aja um comprometimento, uma escolha consciente. 
Assim sendo, prescrever um analgésico ou um antitérmico caso a criança tenha dor ou febre quando for vacinada ou quando sofrer um acidente, o que é certo ou o que está errado, poderia ser ampliado ao se questionar qual o verdadeiro temor desses pais, ou seja, qual a natureza dessa angústia que tenta impedi-los de presenciar algum desconforto nos filhos, chegando às vezes a uma manipulação excessiva e desnecessária, quando talvez condutas mais simples e intuitivas pudessem surtir o mesmo efeito e de uma maneira muito menos ansiogênica, principalmente se estiverem juntos e amparados um no outro. Realmente, não existem garantias e as crianças nos trazem esses desafios e esses questionamentos diariamente, para desespero dos pais, mas isso é outra história.

Dr. José Carlos Machado - pediatra e médico escolar.






quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

ÁLBUM DE FAMÍLIA - resenha de filme








ÁLBUM DE FAMÍLIA (AUGUST: OSAGE COUNTY)

Direção: John Wells
Elenco: Meryl Streep, Julia Roberts, Ewan Macgregor, Sam Shepard, Margo Martindale, Julianne Nicholson, Chris Cooper, Juliette Lewis
Estados Unidos/2012/ drama
Duração: 121 minutos


Abordar um tema complexo e multifacetado como família nem sempre é uma tarefa fácil, ainda mais no cinema que já experimentou diversas formas em demonstrar o que acontece da porta de fora para dentro de casa, quando a intimidade é revelada. Essa parece ser a proposta do diretor John Wells, que se baseou no livro de Tracy Letts, ganhador dos prêmios Tony e Pullitzer de 2008 com o livro AUGUST: OSAGE COUNTY, que também colaborou com o roteiro e conta a história de três irmãs que são convocadas a voltar para a casa dos pais após o pai alcóolatra abandonar a mãe viciada em drogas; nesse encontro surgem diversos conflitos e os segredos vão sendo revelados, ocasionando novos confrontos que não podem ser simplesmente ignorados.
“A vida é longa demais” é uma frase atribuída à T. S. Elliot, que o professor Beverly tenta explicar à nova empregada Johanna (Misty Uphan), que vai ser contratada para ajudar nos afazeres da casa e nos cuidados com a mulher portadora de câncer, desse modo vai contando a ela como sua vida foi se desmoronando com o passar dos anos e de como ele foi se tornando alcoólatra e sua mulher uma dependente química. 
A mãe, com uma interpretação bastante convincente de Meryl Streep no papel de Violet, a matriarca da família, uma mulher ferina e amarga casada com Beverly (Sam Shepard) com quem têm três filhas, a mais velha Bárbara (Júlia Roberts), vive em outra cidade é casada e tem uma filha de quatorze anos, Jean (Abigail Breslin) com Bill, interpretado por Ewan Mcgregor, que mantem uma relação extraconjugal com uma mulher mais nova que a esposa, a relação entre a mãe e a filha não é das melhores, Bárbara acusa Bill de estar constantemente ausente e ser omisso e este, realmente, perante a filha assume uma posição absolutamente passiva, o que deteriora ainda mais a relação do casal, no entanto, os três partem juntos para a casa dos pais de Bárbara, lá se encontram com Ivy (Julianne Nicholson) que chamou as irmãs após o sumiço do pai e foi a única filha que não se afastou da antiga casa, pois, continua morando com os pais, mesmo sendo menosprezada e ridicularizada pela mãe, que a acha desengonçada e que precisaria se arrumar mais. Oculta de todos um romance secreto com seu primo o sensível Little Charles (Benedict Cumberbatch), outra figura igualmente desprezada, filho da tia Mattie Fae (Margo Martindale), irmã de Violet com Charles (Chris Cooper) casados há 38 anos, Charles protege o filho do desprezo da mãe, que se lamenta do filho dizendo a seu respeito: “Já desisti dele há muito tempo”. A esse grupo também surge Karen (Juliette Lewis), a irmã caçula, acompanhada do mais recente namorado (Dermot Mulroney), que apresenta a todos como noivo e com quem tenciona casar-se em breve.
A situação parece piorar ainda mais quando descobrem que o pai desaparecido é encontrado morto, vítima de suicídio e agora precisam decidir o que fazer com a casa e com a mãe que é viciada em drogas e que nunca teve uma relação amável com nenhuma das filhas. Existe uma significativa polaridade entre as figuras femininas que são, em sua maioria, muito mais fortes, decididas e vorazes comparadas com os personagens masculinos, geralmente frágeis, inseguros e instáveis, o que realça ainda mais os conflitos, conforme as revelações e os segredos começam a serem revelados. As relações entre as mães e os filhos são recheadas de crueldade e ressentimento, principalmente de Violet com as filhas, quando acusa a primogênita por ter abandonado a casa, para inconformidade de seu pai, ao desqualificar a sensibilidade de Ivy e desconsiderar as escolhas de Karen, que julga leviana e imatura. Tia Mattie Fae como mãe de Little Charles, também não poupa o filho fazendo questão de externar a sua opinião pouco elogiosa sobre ele. As raras demonstrações de carinho são sobrepostas pela relação perversa e sádica como, por exemplo, durante o jantar após o funeral de Beverly, com todos sentados à mesa, nas opiniões ferinas de Violet: “Eu só digo a verdade”, e como que justificando sua absoluta indiferença pelos demais, completa: “Algumas pessoas se ofendem com a verdade”; quando expõe seu desprezo pela empregada indígena, ou quando confronta a filha mais velha perguntando sobre a infidelidade do marido com uma mulher mais jovem diante de todos e sentencia dizendo a ela que “Você já está em desvantagem”. 
“No meu tempo a família permanecia junta” dispara a matriarca para todos, intimando-os e exigindo que todos permaneçam juntos, impassíveis e aceitem os fatos como são sem questionamentos ou julgamentos, relembrando dos tempos difíceis que ela mesma viveu quando jovem comparando com a vida mais facilitada que as filhas puderam usufruir, justificando talvez, suas palavras duras, a perversidade e a crueldade com que foi tratada quando criança e como repetiu o mesmo com suas próprias filhas. Voltando novamente a frase inicial, a longevidade da vida poderia também ser aproveitada para redimensionarmos aquilo que deixamos de fazer, não como arrependimento, mas como uma nova possibilidade de fazer algo novo, de transformar, de experimentar algo novo, de fazer algo diferente, enfim. A vida, como dizia o poeta americano é longa demais, mas nossa alma latina pode lembrar o que dizia nosso antepassado português: “Navegar é preciso, viver não é preciso”, nesta imprecisão, nesta incerteza existe a riqueza da vida e da contribuição de seus diversos protagonistas e novamente citando Elliot que também dizia: “Só os que se arriscam a ir longe demais são capazes de descobrir o quão longe se pode ir”, demonstrando mais uma vez, como no início, que as coisas nem sempre são fáceis, mas podem ser absolutamente simples.
José Carlos Machado.