Blog sobre Medicina Escolar, Desenvolvimento Infantil e desafios do nosso tempo.
Dr José Carlos Neves Machado, médico pediatra, especialista em Antroposofia.
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quarta-feira, 1 de maio de 2024
Um homem religioso sentou-se num canto da praça e preparou-se para começar suas orações. Bem naquele momento, uma jovem surgiu na praça caminhando apressadamente na direção do santo homem e acabou passando diante dele, distraída, com a respiração ofegante.
O religioso ficou indignado.
“Que ousadia!”, ele pensou consigo mesmo. “Vou esperar essa jovem voltar e lhe dar uma lição”.
“Você foi bastante atrevida hoje de manhã. Por acaso ignora que é proibido passar diante de um homem que esteja rezando?”
A jovem parou, assustada. Voltou-se para o homem e lhe disse:
Para mim, respondeu o homem levantando a cabeça todo empertigado – “rezar” significa pensar completamente em Deus.
- Pois então – disse a moça com um sorriso apaziguador
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua, todo cheio de buraquinhos feito de queijo, e ele provou e tinha gosto de queijo. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico. Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
– Não há nada a fazer, Dona Colo. Este menino é mesmo um caso de poesia.
A cobra e o vagalume (conto indiano)
Era uma vez uma cobra que perseguia um vaga-lume que nada mais fazia do que simplesmente brilhar.
Ele fugia rápido com medo da feroz predadora e a cobra nem pensava em desistir.
Fugiu um dia, dois dias, mais outro e nada.
No terceiro dia, já sem forças, o vaga-lume parou e perguntou à cobra:
--- Você vai me comer?
A cobra se aproximou um pouco mais e respondeu:
--- Vou!
--- Mas isso não faz sentido, uma cobra comer um vagalume!? Tem certeza que que vai me comer? Perguntou novamente o vagalume.
A cobra deslizou lentamente em direção ao inseto e respondeu:
--- Tenho certeza absoluta!
— Então, antes de morrer posso lhe fazer três perguntas? solicitou vaga-lume.
— Pode. Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou te devorar, pode perguntar.
— Pertenço a sua cadeia alimentar?
— Não.
— Te fiz alguma coisa?
— Não.
— Então por que você quer me comer?
— PORQUE NÃO SUPORTO VER VOCÊ BRILHAR....
terça-feira, 30 de abril de 2024
Há muito tempo, num lugar muito distante daqui, havia um casal de fiandeiros que tinha uma filha chamada Fátima. Desde menina ela aprendeu com seus pais o ofício de fiar, e quando chegou aos dezoito anos era uma fiandeira de grande experiência.Chegou o dia em que seu pai foi fazer uma viagem pelas ilhas do mar Mediterrâneo e resolveu levar Fátima com ele.
– Quem sabe – ele disse – no meio da viagem você poderá encontrar um bom moço para se casar, que seja de família honrada, que seja digno de você.
Fátima ficou feliz com o convite do pai e preparou-se para partir. Algum tempo depois ela estava num navio, com seu pai e uma tripulação bem treinada, rumo ao mar Mediterrâneo. Quando ancoravam em alguma ilha, o pai descia para fazer seus negócios. Enquanto isso Fátima ficava sentada num canto do navio, olhando o sol até que ele desaparecesse no horizonte, com o pensamento naquele bom moço, de família honrada e digno de se casar com ela, que ela poderia vir a conhecer.
Um dia, o céu começou a escurecer e densas nuvens provocaram uma tempestade terrível em alto-mar. O navio em que Fátima e seu pai viajavam foi aos poucos se tornando um brinquedo frágil levado pela fúria das ondas gigantes. Por mais valentes que fossem os marinheiros, eles não conseguiram dominar a força do mar assanhado pelo vento e pela chuva infernal. Depois de algum tempo de luta sem trégua, o navio foi engolido pela tormenta e todos a bordo morreram no mar, menos Fátima, que foi parar numa praia perto da cidade de Alexandria.
Quando ela acordou e abriu os olhos numa manhã de sol, demorou para se lembrar quem era, até que se deu conta de tudo o que havia acontecido. Percebeu então que estava num lugar desconhecido, sozinha, e, antes que pudesse refazer-se, viu que umas pessoas se aproximavam. Era uma família de tecelões que moravam naquele lugar e estavam passeando pela praia. Quando souberam sua história, convidaram-na para viver com eles em sua casa. Como não tivesse para onde ir, ela aceitou e logo começou a aprender um novo ofício, a arte de tecer. Não passou muito tempo até que ela se tornasse uma excelente tecelã. Fátima estava tão feliz nesse seu trabalho que era como se tivesse se esquecido do terror pelo qual havia passado alguns anos antes.
Um dia, ao entardecer, Fátima caminhava pela praia, perdida seus pensamentos, quando um navio de piratas ancorou ali, em busca de escravas para vender no mercado da cidade de Istambul. Assim que avistaram a jovem completamente distraída, com os olhos no crepúsculo, eles a prenderam e a levaram para o navio. Quando deu por si, Fátima estava outra vez navegando em alto-mar, sem saber para onde a levavam, até que um dia ela se viu num grande mercado, amarrada a um poste, à espera de um comprador. De novo ela estava sozinha, num lugar desconhecido, sem ter a menor ideia de qual seria seu destino dali para a frente. Com a cabeça baixa, abandonada à sua triste sorte, Fátima ouviu a voz de um homem que se aproximou dela. Era um fabricante de mastros de navio, que estava andando pelo mercado em busca de uma escrava para comprar para a mulher. Quando viu o ar desamparado de Fátima, resolveu comprá-la, pensando que assim ele poderia contribuir de alguma maneira para melhorar a sorte da jovem.
O homem levou Fátima com ele para sua casa, mas quando chegou lá, uma desgraça havia acontecido. Enquanto ele se ausentara, um bando de ladrões havia roubado todo o seu dinheiro, todos os seus bens. Agora ele não podia mais ter escrava nenhuma, e disse a Fátima que ela podia ir embora. Acontece que a jovem tinha ficado muito agradecida porque o homem a tinha livrado dos piratas. Ela resolveu ficar morando com ele e a mulher, já que não tinha mesmo para onde ir. Logo passou a aprender um novo tipo de trabalho. Em pouco tempo ela conhecia tão bem a técnica de construir mastros de navio que pôde ajudar o homem a reconstruir sua fortuna. Ele lhe deu a liberdade e lhe propôs sociedade nos negócios, que iam cada vez melhor. Novamente Fátima se sentiu feliz e deixou para trás as lembranças duras do seu cativeiro e todas as difíceis perdas do passado.
Até que um dia o homem a chamou e pediu-lhe que levasse um carregamento de mastros para as distantes ilhas de Java, onde poderiam realizar um negócio extremamente vantajoso para eles, graças a alguns comerciantes locais seus conhecidos que estariam aguardando por ela. Um grande navio foi equipado e Fátima subiu a bordo junto com a tripulação, numa manhã ensolarada. Pode parecer inacreditável, mas o navio foi colhido por um furacão no meio da viagem e rapidamente afundou.
Quando acordou numa praia da costa chinesa, algum tempo de pois, Fátima começou a se lembrar com muito custo do que havia acontecido com ela. Percebeu que mais uma vez estava só, num lugar estranho, entregue a seu destino. Então ela se desesperou e ficou se perguntando por que, toda vez que sua vida tomava um rumo, acontecia uma desgraça tão grande que a deixava sem nada. Ela não se conformava e não compreendia o sentido do seu caminho pelo mundo. Exasperada, ela andava pela praia de um lado para o outro, sem nenhuma resposta para suas indagações. Foi então que surgiu diante dela um arauto anunciando que se alguma mulher estrangeira estivesse ali naquele momento, deveria apresentar-se ao imperador. Isso porque muitos séculos atrás havia sido feita uma profecia que dizia que um dia uma mulher vinda de terras distantes faria uma tenda para o imperador. De tempos em tempos o imperador enviava seus arautos aos quatro cantos da China, para ver se a tal mulher havia chegado.
Quando Fátima ficou sabendo, por meio de um intérprete, o que o arauto estava dizendo, pediu para falar com o imperador.
Assim que a viu, o imperador perguntou-lhe sem muitos rodeios se ela seria capaz de fazer uma tenda.
– Creio que sim – respondeu a jovem.
– Muito bem, diga-me o que é necessário para iniciar seu trabalho — disse o imperador prontamente.
— Bem, em primeiro lugar eu preciso de cordas que sejam bem resistentes — disse Fátima.
O imperador chamou seus serviçais e ordenou que providenciassem variados tipos de cordas para que a jovem pudesse escolher a mais adequada. Fátima examinou cuidadosamente as cordas que lhe foram trazidas, e achou que nenhuma delas era forte o suficiente para seu propósito. Foi então que ela se lembrou do tempo lá longe em que havia sido fiandeira, e logo lhe veio à memória sua antiga habilidade de fiar. Por isso ela pôde fiar as cordas de que precisava para fazer a tenda.
Quando as cordas ficaram prontas, o imperador perguntou.
– Do que mais você precisa?
– Agora eu necessito de um tecido especial, bem forte – respondeu Fátima.
O imperador apresentou-lhe telas e tecidos das mais diversas qualidades, mas ela não encontrou nada que lhe agradasse. Foi então ela se lembrou do tempo lá longe em que havia sido tecelã, e logo lhe veio à memória sua antiga habilidade de tecer. Por isso ela pôde confeccionar a tela perfeita para realizar sua tenda.
– E agora o que falta? – perguntou o imperador cada vez mais curioso enquanto acompanhava os passos do trabalho.
– Finalmente, preciso de estacas – respondeu Fátima.
Nada do que o imperador lhe trouxe serviu para seu objetivo. Foi então que ela se lembrou do tempo recente em que havia sido fabricante de mastros de navio e, com grande habilidade, fabricou firmes estacas.
Depois de ter produzido com as próprias mãos os materiais necessários, Fátima só precisou se lembrar de todas as tendas que havia visto até então na sua vida, nos diversos lugares por onde tinha passado. Ela fez uma tenda magnífica para o imperador, que ficou completamente satisfeito com aquela maravilha.
– Mulher – disse o imperador-, você realizou a profecia que meu povo esperava há tantos séculos. Você pode pedir qualquer coisa como recompensa. O que você desejar lhe será dado.
– Eu não quero nada — respondeu Fátima. – Meu único desejo é ficar morando aqui na China e recomeçar minha vida. Eu não tenho ninguém no mundo e nenhum lugar para onde ir.
É claro que o imperador consentiu, e Fátima passou a viver na China.
Foi assim que depois de algum tempo ela conheceu um bom moço, de uma família honrada, digno de se casar com ela. Do grande amor que os uniu nasceram muitos filhos.
Fátima sempre contava sua história para os filhos e ao final ela dizia:
– Tudo aquilo que aconteceu na minha vida, e que no momento me pareceu uma desgraça, contribuiu, na realidade, para minha felicidade final
quarta-feira, 25 de outubro de 2023
KANELA - resenha de livro
Neil Gaiman (autor)
Dyvia Srinivasan (ilustrações)
Editora Intrínseca - 2023
40 páginas
"Muito tempo atrás, viveu em um país pequeno e escaldante a princesa Kanela. A menina morava em um magnífico palácio e seu mundo era da cor das pérolas, de um branco e rosa pálidos, salpicado por um leve brilho, desconhecido para ela, pois desde pequena, ela não enxergava nem falava. Com o passar dos anos, seus pais decidiram oferecer recompensas a quem conseguisse fazer soar a voz de sua amada filha. Atraídos pela promessa de riqueza, muitos tentaram em vão. Até que certo dia um tigre chegou ao palácio. Era grande, sábio e feroz. Andava como um deus caminhando pela Terra, que é como os tigres andam, e afirmou que faria a menina falar. Seria essa a melhor opção? Quando encontra com a jovem, o felino imponente desperta em Kanela emoções até então desconhecidas, como a dor, o medo e o amor, e lhe conta que a beleza do mundo está além das paredes daquela fortaleza. É então que, finalmente, a menina percebe que tem algo a dizer, algo que vai construir uma amizade e mudar para sempre a história de seu reino."
Por vezes cômico, inspirador, surreal e amedrontador, as aventuras de Kanela e do tigre transportam o leitor para uma Índia fictícia, envolvente e fantástica. Unindo o obscuro ao belo e acompanhado das autênticas e detalhadas ilustrações da artista indiana Dyvia Srinivasan.
Através de uma trama original, novamente Gaiman narra de maneira poética a importância de sermos livres para ser quem somos. Um belo livro com imagens igualmente bonitas que contribui com um acolhimento às adversidades de uma maneira simples e verdadeira, facilmente compreensível para as crianças.
O autor inglês Neil Gaiman, tem mais de vinte livros publicados para leitores de todas as idades e já recebeu diversos prêmios literários. É autor de Coraline, ilustrado por Chris Riddell e que foi adaptado para o cinema (confira a resenha nesse blog). Começou a carreira como jornalista, mas logo seu talento para construir tramas e universos únicos foi levado para o mundo dos quadrinhos, com a aclamada série Sandman, e, depois, para a ficção adulta e a infanto juvenil.
Divya Srinivasan, a ilustradora mora atualmente nos Estados Unidos. Suas ilustrações foram publicadas na prestigiada revista New Yorker.
Médico Escolar - Dr. José Carlos Neves Machado www.mediconaescola.com Acompanhe também nosso canal no YouTube: https://www.youtube.com/user/medicinaescolar / @antroposofiaemdia
segunda-feira, 23 de outubro de 2023
O único assunto é Deus
o único problema é Deus
o único enigma é Deus
o único possível é Deus
o único impossível é Deus
o único absurdo é Deus
o único culpado é Deus
e o resto é alucinação.
quinta-feira, 19 de outubro de 2023
Carne de língua - conto africano
Certa vez, na África havia um reino muito próspero. Lá, todos eram felizes e amavam o rei e este se apaixonou perdidamente por uma jovem risonha e muito bonita e fez dela a sua rainha. Depois do casamento, nos dias que seguiram ela foi ficando cada vez mais abatida e triste.
Um dia, sem nenhuma explicação a rainha começou a ficar doente, dia a dia ela foi emagrecendo e ficando com a pele opaca e sem brilho.
O rei buscou todos os curandeiros do reino, porém, ninguém encontrou a resposta para o que estava acontecendo a ela.
Determinado, o rei resolveu, ele mesmo procurar a cura para a sua esposa.
Ele saiu pelo reino em busca de alguém que trouxesse novamente a alegria à sua amada rainha. Um dia, quando passava por um campo, ouviu uma risada gostosa, o que o lembrou da sua esposa. Ele foi até à casa e olhando pela janela viu uma mulher sentada com seu esposo, os dois estavam rindo e viu também que ela tinha uma aparência saudável e de bochechas rosadas.
O rei bateu na porta e, quando o homem atendeu, levou um susto ao ver o rei do seu país parado à sua frente. Imediatamente convidou-o para entrar em sua humilde casa e como poderia servi-lo.
Imediatamente, o rei perguntou ao homem o que ele fazia para que sua esposa fosse tão linda e saudável, com bochechas rosadas e com uma risada tão contagiante.
O homem imediatamente disse:
– Muito simples, Majestade: alimento a minha mulher todos os dias com carne de língua!
O rei voltou correndo para o palácio e mandou o cozinheiro real preparar uma grande sopa de carne de língua para a rainha.
O cozinheiro chamou os caçadores reais e pediu que lhe fornecessem as línguas de todos os animais do reino e prontamente preparou uma grande sopa. O próprio rei fez questão de alimentar a rainha que experimentou e mesmo assim não melhorou. Ela continuava emagrecendo e o rei acreditava que seu fim estava próximo tal o estado que se encontrava cada dia piorando mais.
Então, o rei teve uma ideia, levou a rainha para a casa do camponês e levou a camponesa para o palácio.
Em pouco tempo a rainha ficou gordinha e corada, já a camponesa adoeceu e começou a emagrecer, ficando com o mesmo aspecto doentio que a sua mulher apresentava quando vivia no palácio real.
O rei voltou para a casa do camponês intrigado com a situação, olhando pela janela observou sua mulher que gargalhava como nunca se vira antes. à sua frente , o camponês não parava de mexer os lábios. O rei bateu à porta querendo entender o que estava acontecendo.
- Novamente por aqui Majestade, o que deseja?
- Camponês, o que está acontecendo? Sua esposa está morrendo no meu castelo e minha mulher está toda feliz e saudável aqui na sua frente.
- Diga Majestade, o que o senhor fez?
- Fiz exatamente o que me mandou. Dei carne de língua de cachorro, gato, lebre, girafa, elefante, leão, de todos os animais do reino, mas de nada adiantou...
Então o camponês explicou:
– Vossa Majestade não entendeu direito o eu disse, riu o camponês. Quando falei de carne de língua, não quis dizer que ela deveria comer carne de língua. Eu estava falando das histórias que eu conto para ela todos os dias, as histórias contadas pela minha língua.
O rei meditou sobre aquelas palavras e se lembrou de ver o camponês mexendo os lábios enquanto a rainha sorria feliz e levou a rainha para o palácio e passou a lhe contar histórias todos os dias, ela se recuperou totalmente e nunca mais ficou doente.
É por isso que na África todos dizem que ouvir histórias faz bem para a saúde de qualquer pessoa.
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