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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Artigo 03


A Qualidade do Sono


Cansaço, indisposição, dificuldade de concentração, um começo difícil de um novo dia poderá estar associado com uma noite anterior mal dormida ? Certamente que sim e todos nós intuímos que essa relação é óbvia, mas mesmo assim continuamos dormindo tarde e mal e gastando as poucas energias que nos restam para o dia seguinte onde novamente teremos mais desgastes e esse ciclo irá gerar conseqüências com comprometimento físico, psíquico e emocional. O que se percebe com maior freqüência é que muitas crianças apresentam esse mesmo comportamento: dormem tarde, tem um sono bastante agitado e acordam com muita dificuldade, tendo um rendimento escolar muito ruim.

Ao estudarmos a fisiologia do sono, sabemos que existe um período de sono inicial conhecido como estado hipnagógico que consiste de um período de vários minutos durante os quais os pensamentos consistem em imagens fragmentadas ou de pequenas cenas, seguido de um sono de ondas lentas (ondas cerebrais de baixa freqüência e de grande amplitude, que podem ser registradas em eletroencefalograma), somente mais tarde, em seqüência, no chamado sonho REM é que aparecem os sonhos propriamente ditos, nesta fase os olhos, com as pálpebras fechadas, movem-se rapidamente, em sincronia, a respiração torna-se irregular e a freqüência cardíaca aumenta. O primeiro estágio REM ocorre aproximadamente noventa minutos após o sono inicial de ondas lentas e dura em torno de dez minutos. Um segundo e terceiro estágios de sono REM ocorrem após breves períodos de sono com as ondas cerebrais lentas, mas tornam-se progressivamente mais longos. O quarto e último estágio dura cerca de vinte a trinta  minutos e é seguido pelo despertar, muitas vezes no meio de um sonho e é dessa fase que provavelmente tenhamos lembrança quando acordamos. Em 1900, Sigmund Freud publicou A Interpretação dos Sonhos e afirmava que os sonhos poderiam revelar, de uma forma disfarçada, os elementos mais profundos da natureza interior do indivíduo, aquilo que estaria em seu cerne mas que poderia ser “revelado” através de seus sonhos, a fisiologia do sono foi compreendida pela primeira vez em 1953, quando os cientistas começaram a se preocupar com a análise do ciclo do sono humano.Mais recentemente, porém, os sonhos foram caracterizados como um meio pelo qual o cérebro descarta as informações desnecessárias, uma espécie de “aprendizado invertido”, ou desaprendizado das falsas informações (segundo Crick-Mitchison).

O sono REM talvez tenha essa função  peculiar  que é a de “apagar” do cérebro esse excesso de informações espúrias que ele contém e contribuindo no processo ordenado da memória, em outras palavras precisamos do sono REM para poder sonhar e sonhamos para esquecer, ou seja, sonhamos para reduzir a fantasia e a obsessão.

Nos recém-nascidos o sono REM é de oito horas por dia com ciclos de cinqüenta a sessenta minutos que neste caso inicia-se diretamente pelo sono REM e não pelo sono de ondas lentas. Crianças com mais ou menos dois anos de idade apresentam sono REM de aproximadamente três horas e vai diminuindo progressivamente até mais ou menos duas horas por dia. Nessa fase o hipocampo continua a se desenvolver, torna-se funcional e o sono REM assume a sua função de memória interpretativa.

O sono do homem, aquele momento onde ele se entrega completamente afim de poder recuperar as suas energias, desde épocas primitivas até os dias de hoje sempre causaram no homem uma grande dúvida, afinal o sono é só um período de descanso, necessário, mas independente de sua qualidade ou trata-se de algo mais complexo ?
Isso tudo é conhecido da neurofisiologia atual, os neurofisiologistas tentam explicar essas relações, pode-se observar e constatar a qualidade do sono e parece mesmo que é de fundamental importância a relação da qualidade do sono com o desempenho do indivíduo no seu dia seguinte, mas o que podemos fazer com essas informações ? Podemos modificar, saudavelmente, a qualidade do nosso sono e das nossas crianças ?

O primeiro passo é respeitar o ritmo de sono e quando temos crianças em casa os ritmos precisam ser considerados e individualizados dos adultos; é comum que os pais saiam cedo de casa para o trabalho e cheguem tarde, somente à noite, tomam conhecimento daquilo que aconteceu com seus filhos entre um bocejo e outro e já cansados tentam, a duras penas, inteirar-se um pouco de tudo que aconteceu no dia de seu filho, então, na frente da televisão ouvem as novidades que aconteceram na escola, conversam e se divertem e as crianças, que precisam também se alimentar desse contato com os pais, vão dormir tão tarde como eles, mas assim como os pais, precisam também acordar cedo no dia seguinte e essa roda-viva se estabelece como rotina nessa família, gerando como conseqüência um prejuízo na qualidade de sono, faltou tempo para o corpo descansar e se re-programar para o dia seguinte. Quando as crianças vão dormir após assistirem a toda a programação da televisão, quando são literalmente “bombardeadas” com toda uma série de conteúdos absolutamente dispensáveis em sua vida e principalmente naquele período do dia, com informações desnecessárias para o seu cérebro e prejudiciais para o seu sono, que deveria ser encarado como o período do dia onde recarregaríamos as energias perdidas que teremos de dispor para enfrentarmos um novo dia seguinte, então obviamente precisamos ter maior consideração com este momento.

 O nosso cérebro registra tudo o que vê, armazenando essas informações e se à noite, durante o sono profundo, seleciona aquilo que deve ficar do que deve ser desqualificado, é de grande importância, portanto, que haja uma preocupação com aquilo que chega às mãos e aos olhos das crianças, então essas imagens devem ser selecionadas com cuidado, os monstros, os personagens de filmes e de novelas da TV, os super-heróis  fantásticos, as cenas de terror e de sangue que assistem na TV,  enfim  esse tipo de representação não contribui em nada para um sono  saudável.

Imaginemos como exemplo uma criança com seus 5 – 6 anos que vai à escola pela manhã, que assiste a TV à tarde toda e vai dormir às 10 – 11 horas da noite, essa criança deve ter um sono agitado, deve demorar para dormir, pois as imagens que viu vão passando em sua cabeça e determinadas impressões demoram mais para se desconectar, até toda excitação baixar, até os sons da casa diminuírem, pois ela está ainda muito conectada com o mundo externo e não se entrega facilmente ao sono, até tudo isso acontecer levará um tempo, que interferirá na qualidade de seu sono, na manhã seguinte irá ter um despertar tumultuado, pois ainda precisaria de mais tempo para descansar, terá um rendimento insatisfatório na escola e isso tende a se estabelecer como rotina, que certamente resultará em doença física.

A qualidade de sono está vinculada ao horário, pois há todo um metabolismo fisiológico endócrino/enzimático envolvido que acaba se desgastando quando exigimos uma função fora do comum, gerando eventuais desgastes, ou seja, a criança dorme mas não descansa, recupera mal aquilo que perdeu durante o dia, na manhã do dia seguinte, acorda com dificuldade, virá dormindo no carro, ficará sonolenta durante as atividades na escola e no momento onde deveria estar atuante e desperta, encontra-se completamente mal encarnada. O tratamento disso é aparentemente simples: dormir cedo ! Mas se o sono não vem ? Afinal hábitos se transformam em vícios e dependem de nossa vontade para serem modificados e no caso das crianças, os pais atuam contribuindo em diminuir os fatores de excitação externa (luzes, barulhos de TV e rádio), ficando atentos ao ritmo que a criança precisa ter, não dá para a criança esperar os pais para jantar às 9 - 10 horas da noite e depois ir deitar ou terminar a lição de casa antes de ir para a cama.
Contar uma fábula ou uma estória para a criança já deitada em sua cama poderá contribuir para uma boa noite de sono, o conteúdo dessas imagens que são descritas para a criança, irá permear a sua imaginação, no entanto, é importante saber dosar essas imagens e o modo de apresentá-las, existem contos apropriados para cada idade e aqueles muito longos podem ser apresentados aos poucos, noite após noite até a sua conclusão, criando na criança a expectativa de como irá terminar aquela aventura, essa experiência a criança levará para a vida e no futuro irá se recordar desses momentos como um acolhimento que poderá ser de grande valia em muitas situações de dificuldade que venha a passar.

Para aquelas muito despertas à noite e  que “brigam com o sono” uma aplicação de óleo de Lavanda Officinalis no peito, em movimentos suaves, ajudará a se entregarem ao sono com menor resistência (escarnação) e para as muito sonolentas pela manhã aplicações vigorosas com óleo de Rosmarinus (alecrim)nos seus braços e pernas, ajudará a vencerem os desafios do dia trazendo-as para a terra (encarnação).


Dr. José Carlos Neves Machado
Médico Escolar e Pediatra antroposófico da Casa Rafael

SCINTIFIC AMERICAN / Os segredos da Mente número 4/ abril- 2004 – Os significados dos sonhos – Jonathan Winson
A CRIANÇA SADIA I – nascimento e infância – Wilhelm Zur Linden – quarta edição -  Ed. Antroposófica/1986
A IMAGEM DO HOMEM COMO BASE DA ARTE MÉDICA – VOL I – Friedrich Husemann e Otto Wolff – 1992 – Ed. Antroposófica
ANOTAÇÕES / ARTIGOS / PALESTRAS DO AUTOR  

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Dr José Carlos Machado
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