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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Benjamim e a Superação


Existe uma estória que frequentemente é lembrada e contada às crianças especialmente na época de Natal:
"Uma família muito pobre vivia com dificuldades e possuía um único filho Benjamim que como todas as crianças, gostava de brincar e se divertir com seus amigos, uma vez seu pai lhe deu uma tarefa importante, que limpasse e deixasse em ordem o pequeno estábulo que ficava nos fundos de sua casa, o lugar estava muito sujo e precisava de uma boa limpeza e arrumação. Muito a contragosto o menino se pôs a trabalhar, mal havia começado o serviço, os amigos o convidaram a brincar, o menino não hesitou e abandou a tarefa sem arrependimento algum, deixando de lado os afazeres para ir se divertir com as outras crianças. À noite quando foi dormir uma voz o acordou e lhe disse: “Benjamim! Aquilo não é um trabalho digno de um rei”. O menino acordou assustado e com muito custo voltou a dormir sem entender o que significava aquela mensagem. No dia seguinte resolveu terminar o que havia começado e retornou à limpeza que havia iniciado no dia anterior, mas logo em seguida deixou tudo de lado e saiu para se divertir com seus amigos, ao anoitecer caiu exausto em sua cama e adormeceu profundamente até ser novamente despertado pela mesma voz: “Benjamim! Aquilo não é um trabalho digno de um rei”. O menino ficou mais inquieto do que da última vez e mal esperando o dia amanhecer encarou com afinco e coragem a tarefa adiada, novamente seus amigos apareceram e insistiram para que ele os acompanhasse, mas desta vez a determinação de Benjamim foi mais forte e recusou acompanhá-los dizendo que tinha um trabalho para terminar e após isso, exaurido, mas realizado, constatou com admiração o resultado de seu esforço, o lugar estava finalmente limpo e organizado, o chão varrido, a sujeira e poeira removidas, agora sim poderia dormir em paz com o coração tranquilo; naquela noite não foi uma voz que o despertou, mas uma luz muito brilhante invadiu todo seu pequeno quarto despertando e impedindo-o de continuar dormindo, o menino aproximou-se da janela e reparou que era do estábulo que vinha aquela luz, Benjamim foi até lá e deparou com uma cena que jamais poderia imaginar: uma mulher segurando um menino que acabara de nascer, envolto em um manto e que parecia estar iluminado irradiando luz em todas as direções. Compreendeu então a importância de sua tarefa e do que aquela voz se referia, o lugar precisava ser preparado para o rei que iria chegar. Ali naquele estábulo que foi limpo por ele nasceu o menino Jesus".
Esse conto exalta aquilo que gostaríamos de transmitir principalmente às crianças, ou seja, as coisas devem ser bem feitas, as tarefas devem ser realizadas com determinação e empenho objetivando com isso o melhor resultado possível, narrativas e contos, como esse, tem essa finalidade, possuem em seu contexto uma mensagem simples, cujo ensinamento está envolto no desencadeamento da estória fazendo com que nossa alma também se motive para que algo possa a ecoar dentro de nós. Desse modo, ao se contar essa estória às crianças tentamos exortar nelas que o trabalho realizado com presteza e determinação, mesmo à custa de sacrifício (nesse caso deixar de lado as brincadeiras com os amigos dedicando-se com afinco ao objetivo), terá um final feliz e compensador (quando pode ver que o lugar limpo por ele com esmero, foi o lugar onde uma criança nasceu). E o conto reflete exatamente isso, ou seja, ações geram consequências.
Se a nossa alma realmente vibra e acolhe um ensinamento como esse, passado o impacto momentâneo da emoção que essa narrativa evoca, qual seria nossa atitude frente às tarefas do nosso dia-a-dia, onde, invariavelmente, existem muitas solicitações insistentes que nos convidam a mudar nossos planos iniciais e fazermos coisas mais interessantes àquelas que nos propusemos anteriormente. Como nossa intencionalidade é sujeita as mais variáveis e sutis manifestações que nos afasta à realização de algo que havíamos nos comprometido a fazer. Deixamos isso de lado, talvez até ancorados nessa mesma temática que o conto evidencia: “é preciso fazer bem-feito”, mas se não conseguimos isso então é melhor que não seja feito, ou seja: “para fazer algo pela metade é melhor que nem seja feito”, essa também pode ser uma cômoda justificativa para esse adiamento. Acomodamos nossa vontade nesse patamar e resolvemos esse dilema acreditando que, certamente existirão pessoas mais aptas para esses trabalhos, acreditando que nosso trabalho se encontre em outra esfera, ou ainda com resignação acreditamos que viemos ao mundo para outro tipo de tarefas, nos isentando desse trabalho. Talvez isso seja um engano. Certamente habilidades existem e algumas pessoas as possuem desde que nasceram e para determinados indivíduos, algo que nos é muito custoso é absolutamente natural para eles, muitas vezes com isso, nos despertam inveja e revolta. Mas, voltando às nossas tarefas, quem deveria realiza-las a não sermos nós mesmos? Mesmo com imperfeições e dificuldades, porque muitas vezes a adiamos sob falsos pretextos? Quem deve responder pela resolução dos problemas que surgem à nossa frente e que precisam ser solucionados pelo nosso esforço a não ser através do nosso próprio e específico sacrifício? Talvez fulano resolvesse isso com uma grande facilidade e sicrano nem se abalaria, mas o nosso maior dilema parece ser nessa questão do enfrentamento, ora ouvindo os convites para brincar ora se julgando tão incapaz que jamais teríamos condição de realizar, então com covardia desistimos antes de tentar e mais uma vez, por responsabilidade absolutamente individual, essa tarefa também continua não tendo a dignidade necessária pela simples razão de que precisamos nos esforçar para realiza-la e mais ainda para que seja da melhor maneira possível. Tornando nossa determinação mais fortalecida e nossa individualidade mais comprometida e fortalecida. Evidenciando a realeza que se observa naquele que cumpre a sua missão, exortando o Benjamim que existe dentro de cada um de nós e superar os desafios que surgem à nossa frente.
Devemos todos nós, resgatar o cumprimento de nossas funções, de nos comprometermos com aquilo que inicialmente é de nossa total responsabilidade, esse é o maior presente que podemos oferecer a nós mesmos, com isso nossa individualidade se fortalece dominando a inércia e as forças adversas que normalmente nos confundem e nos afastam das concretizações de nossas tarefas. José Carlos Machado - médico escolar

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Dr José Carlos Machado
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