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terça-feira, 16 de abril de 2013

Conto - O QUADRO DE PANO


O QUADRO DE PANO
Conto tibetano, autor desconhecido




Ao perceberem o rapaz as moças abandonaram seus teares e vieram ao seu encontro, rindo.
Uma delas, bem miudinha, com um vestido vermelho encantou-o particularmente. A seguir, uma bela dama aproximou-se do rapaz. Ela usava um vestido brilhante como os reflexos do sol no mar. Seus cabelos compridos estavam presos por um pente de ouro.
– Sou a rainha das fadas. Nunca ninguém vem aqui. Por que você empreendeu esta viagem tão cheia de perigos?
– Vim a procura do quadro de pano de minha mãe. O vento trouxe-o até vocês e minha mãe ficou doente por causa disso.
– Não foi por mero acaso que o vento levou o quadro de pano de sua mãe, fomos nós que ordenamos que ele fizesse isso. Queríamos nos servir dele como modelo para tecermos também um lindo quadro. Se você puder emprestá-lo por mais esta noite, amanhã poderá levar embora. Enquanto isso você é nosso hospede.
O rapaz parecia viver um sonho. As fadas o rodearam rindo e fizeram com que ele provasse o néctar e a ambrosia, como convém aos imortais. Logo em seguida continuaram seu trabalho.
Ficaram tecendo a tarde toda. Ao cair o crepúsculo, suspenderam no teto uma pérola que brilhava na noite para poderem continuar tecendo até meia-noite. O rapaz estava esgotado de tantas emoções e adormeceu sem perceber. Enquanto isso, as fadinhas acabavam uma após outra, seu trabalho no tear, indo se deitar. Somente a mais jovem ficou acordada, aquela que tinha agradado ao rapaz à primeira vista. Ela ficou olhando o quadro da mãe. Nenhuma fada tinha conseguido tecer um quadro tão lindo como aquele. Nenhum riacho brilhava tanto como aquele que tinha sido tecido com suas lágrimas e, nenhum sol queimava tanto quanto ao que fora tecido com as lágrimas do sangue dela. A jovem olhou o rapaz adormecido e teve uma ideia. Pegou um fio e bordou no quadro da mãe uma fadinha de vestido vermelho, em pé, perto do lago, olhando para os peixes vermelhos.
O rapaz acordou a meia-noite, a sala estava vazia. Só havia lá o quadro tecido por sua mãe.
Ficou um pouco admirado e depois pensou:
– Por que esperar até amanhã? Minha mãe está doente e seu estado piora a cada dia.
Enrolou, pois, o pano, colocou o casaco, montou no cavalo e se pôs a caminho. Foi em vão que as ondas do mar lançaram nele os maiores gelos e que as chamas do vulcão tentaram engoli-lo. O rapaz não deu suspiro nenhum e, antes que pudesse se dar conta, estava na frente da casinha de pedra. A velhinha já estava espiando sua chegada pela porta.
– Estou feliz de vê-lo de volta, rapaz. Você é um menino bom e valente. Você conseguiu o que queria. Vou devolver-lhe seus dentes.
Retirou os dentes do cavalo e os reimplantou na boca do rapaz. No mesmo instante, o cavalo virou pedra.
– Pegue estas sandálias de pele de cervo. Ao calçá-las você retornará à sua casa no mesmo instante.
O rapaz agradeceu muito a boa velha por sua ajuda, calçou as sandálias de pele de cervo e, sem saber como, foi parar na frente da casa onde tinha nascido. Uma vizinha aproximou-se ao vê-lo chegar. De cabeça baixa, disse a ele:
– É bom que você tenha voltado ninguém sabe o que vai acontecer com a sua mãe. Não sai mais de casa e enxerga cada vez menos.
O rapaz entrou correndo em casa, gritando:
– Olhe mamãe! Olhe logo! – E mostrou o pano que tinha guardado em baixo do seu casaco. O quarto se iluminou todo quando ele desenrolou o brocado.
Mas a mãe não respondia. Desesperado, o rapaz a procurou pela casa até vê-la, deitada no chão. Abraçou muito forte seu corpo, deitou-a na cama e chorando, olhou para o quadro de pano. Nesse momento, como por mágica, a mãe despertou.
Quando ela percebeu que seu filho tinha trazido seu quadro de volta deu um grito de alegria, no mesmo instante estava curada.
Pulou fora da cama, surpresa ao ver as forças lhe voltarem.
Olhou para o quadro e, de repente, estava enxergando muito bem. Depois rogou ao filho:
– Leve o quadro para fora, filho, para eu poder vê-lo melhor.
O filho levou o quadro até a luz exterior e o desenrolou. As cores brilhavam. De repente, houve uma ventania e o quadro foi se desenrolando mais longe, cada vez mais longe, até cobrir toda a paisagem em volta. Tão longe quanto se podia enxergar viam-se campos de milho dourado, manadas de ovelhas, nuvens de pintinhos amarelos correndo por todo lado, no meio de patinhos. Um belo jardim atravessado por um riacho e as mais lindas flores. Tudo na natureza era como no quadro. Das casinhas prateadas saiam, agora, os vizinhos maravilhados, não acreditando no milagre.
O filho pegou a mãe pela mão e a levou para o jardim. Foram devagar em direção ao lago, não se cansando de ver tantas maravilhas. De repente, o rapaz parou estupefato, o coração batendo a mil por hora. Perto do lago estava a fadinha miudinha de vestido vermelho a lhe sorrir.
– De onde você vem?
A mocinha pôs-se a rir, piscando os olhos. – Eu me bordei no quadro de sua mãe e você me trouxe junto. Já que o brocado tomou vida, meu lugar também é aqui.
A mãe olhou muito feliz: – Temos agora uma grande casa, com uma filha que me fazia falta!
A fada olhou para o rapaz e se aproximou dela: – Você me aceita como esposo?
Ela respondeu que sim, com um leve sinal de cabeça. Houve uma grande festa de casamento. Além dos vizinhos, a mãe convidou os mendigos da região. Os irmãos maiores souberam de tudo. Já fazia muito tempo que haviam gasto todas as moedas de ouro e, como estavam acostumados a serem alimentados pelos outros, tornaram-se mendigos. Mas, quando chegaram na casa e viram as mudanças que ali aconteceram, tiveram vergonha de suas roupas esfarrapadas e preferiram não entrar. Foram embora, perdendo-se no mundo.
O caçula, ao lado da mulher fada e da mãe viveu feliz por muito tempo, numa região rica e ensolarada. E essa família nunca mais deixou de acreditar nos seus sonhos. E foram todos felizes para sempre... foi assim que ouvi contar....!

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