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quarta-feira, 3 de abril de 2013

PRECISAMOS FALAR SOBRE KEVIN (resenha de filme)

PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN (We need Talk about Kevin)


Direção – Lynne Ramsay
EUA/Reino Unido, 2011 – 01h: 50m.
Tilda Swinton, John C. Reilly, Ezra Muller, Ashley Gerasimovich.




Desde cedo o menino Kevin chamava a atenção pelo seu comportamento, isso não deixou de ser percebido por seus pais, sobretudo por sua mãe, mas as atitudes da criança, embora incomuns e causando estranhamento não mereceram atenção maior para que o casal refletisse ou conversasse a respeito e assim Kevin cresceu. A relação perversa, principalmente com a mãe, que vai transparecendo e se intensificando no decorrer do filme é bastante convincente devido à escolha do bom elenco que transmite uma atmosfera de tensão e suspense constante, Eva, a mãe, papel desempenhado com muita sensibilidade pela atriz inglesa Tilda Swinton contrasta com a apatia paterna de Franklin (John C. Reilly), que não percebe ou não parece entender  o que a mãe reclama do filho com o qual tem uma relação completamente diferente, o que justifica o título do filme. A parelha não é cooperativa e a patológica relação mãe-filho é o quadro mais aflitivo dessa família.  Eva sonhava em ser escritora, mas a gravidez indesejada a fez mudar seus planos, com o desejo frustrado passou a exercer o papel de mãe paciente e resignada, estabelecendo com o primogênito uma relação fria e distante desde o início, nem o nascimento da filha parece oferecer algum alento, ao contrário com a irmã fazendo parte do núcleo familiar, Kevin apresenta-se mais transtornado ainda, objetivando e direcionando sua perversidade à mãe de maneira cada vez mais crescente.

O elenco afinado segura a tensão do início ao fim da história e o jovem Ezra Muller no papel de Kevin também não decepciona, imprimindo em parceria com atriz inglesa a conflituosa e odiosa relação que o garoto estabelece com a mãe, completamente impotente contra as maldades do filho.
Os flashbacks mostram o desenrolar da trama e a escolha das cores também tem um forte apelo simbólico, a exemplo do vandalismo dos moradores contra o carro de Eva, pintando-o de vermelho, que após o ato de selvageria do filho vive agora sozinha, desempregada, desprezada pela sociedade, sentindo-se culpada pela ação do filho que extrapola suas perversidades fora do ambiente familiar atingindo outras pessoas.

A diretora baseou-se no livro da escritora norte-americana Lionel Shriver, que trata de algo que vem acontecendo com assustadora frequência, a desenfreada e gratuita crueldade que vitimiza inocentes, a exemplo dos massacres acontecidos em Columbine/EUA (1999) e em Realengo/RJ (2011), quando procuramos, muitas vezes em vão, entender o que levou um ser humano a cometer atrocidades desse tipo.

Aliás, fica a pergunta: - O resultado seria diferente se o casal resolvesse “falar sobre o filho”? Difícil responder, mas aquilo que deixa de ser revelado se esconde atrás de muitas sombras que não colaboram nem auxiliam a compreensão e a angústia prevalece; compartilhar esse sofrimento certamente seria mais suportável para a mãe que observa a estranheza na atitude do filho, sendo isso invisível aos olhos do pai, talvez se os dois juntos olhassem na mesma direção poderiam objetivar uma compreensão mais compartilhada. Juntos e coesos poderiam suportar e conduzir melhor as incógnitas e as dificuldades que surgem no processo de criação dos filhos. Esse me parece ser o melhor ponto de questionamento: muitas situações fogem do nosso controle, mas ficar alheio ou simplesmente evitar o seu enfrentamento não parece contribuir em nada em relação às suas consequências.   
                                                                                                                                                 
José Carlos Neves Machado.

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Dr José Carlos Machado
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