A MULHER DOS CABELOS DE OURO
Clarissa Pinkola Estés
Era uma vez uma mulher lindíssima, mas muito estranha, de longos cabelos dourados, finos como fios de ouro. Ela era pobre e não tinha nem pai nem mãe. Morava sozinha no bosque e tecia num tear feito de galhos de nogueira-preta. Um brutamontes, que era filho do carvoeiro, tentou forçá-la a se casar com ele, e ela, numa tentativa para se livrar dele, lhe deu uma mecha de cabelos dourados.
Ele, no entanto, não sabia ou não se importou em saber se o ouro que ela lhe dera tinha valor monetário ou espiritual. Assim, quando ele tentou trocar o cabelo por mercadorias no mercado, as pessoas zombaram dele e o consideraram louco.
Furioso, ele voltou à noite à cabana da mulher, matou-a com suas próprias mãos e enterrou o corpo junto ao rio. Por muito tempo, ninguém notou sua ausência. Ninguém perguntava por sua casa, nem por sua saúde. Na sua cova, porém, os cabelos dourados não paravam de crescer. A linda cabeleira abriu o solo negro para subir em curvas e espirais e foi crescendo cada vez mais, em arcos e volteios, crescendo até que sua cova se cobrisse de ondulantes juncos dourados.
Uns pastores cortaram os juncos anelados para fazer flautas e, quando foram tocá-las, as pequenas flautas começaram a cantar sem parar:
"Aqui jaz a mulher dos cabelos dourados assassinada e enterrada, morta pelo filho do carvoeiro porque tinha vontade de viver".
E foi assim que o homem que havia tirado a vida da mulher dos cabelos dourados foi descoberto e levado à justiça para que quem vive nos bosques selvagens do mundo, como nós vivemos, pudesse mais uma vez estar em segurança.