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domingo, 1 de setembro de 2013

CHAPEUZINHO VERMELHO (conto)





CHAPEUZINHO VERMELHO
Irmãos Grimm

Era uma vez uma doce menina que tinha o amor de todos os que a viam; mas era a avó quem mais a amava, a ponto de não saber o que mais dar à criança. Uma vez lhe presenteou com um chapéu de veludo vermelho e, como este lhe ficava tão bem ela nunca mais quis usar outra coisa sob a cabeça, chamaram-lhe simplesmente Chapeuzinho Vermelho. Um dia disse-lhe a mãe: 
- "Venha cá, Chapeuzinho Vermelho, aqui tens um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho para levares à tua avó. Ela está doente e fraca e isto haverá de fortalecê-la. Põe-te ao caminho antes que o sol esquente muito e, quando estiveres no bosque, segue diretamente à casa da vovó e não te desvies do caminho, senão poderás cair e quebrar a garrafa de vinho e a tua avó não receberá nada. E quando entrares no quarto dela, não te esqueças de dizer bom dia e não fique a espreitar em todos os cantos da casa".
- "Vou fazer tudo isso bem feito!"  - prometeu Chapeuzinho Vermelho à sua mãe. 

A avó vivia isolada no bosque, a meia légua da aldeia. Quando Chapeuzinho Vermelho chegou ao bosque, um lobo veio ao seu encontro. Chapeuzinho Vermelho não sabia que se tratava de um animal malvado e não teve medo nenhum dele. 





-"Bom dia, Chapeuzinho Vermelho!" disse ele. 
-"Muito obrigado, lobo." - ela respondeu educada.
- "Aonde vais tão cedo, Chapeuzinho Vermelho?" 
- "À casa de minha avó." 
- "O que levas dentro dessa cesta?" 
- "Bolo e vinho: ontem fizemos e cozinhamos, portanto a pobre vovó doente vai poder receber algo bom que a fortaleça". 
- "Chapeuzinho Vermelho, onde vive a tua avó?" 
- "Lá adiante, ainda falta  um bom quarto de légua dentro do bosque, debaixo dos três carvalhos, aí fica a casa dela; logo abaixo ficam as avelaneiras, assim já saberás" - disse Chapeuzinho Vermelho. 
O lobo pensou para si mesmo: "Que coisa tenra essa menina, dará uma refeição suculenta, deve ser ainda melhor que a velha. Tenho que agir ardilosamente se pretendo apanhá-las" Então andou um pouco ao lado de Capuchinho Vermelho e depois lhe falou: 
- "Capuchinho Vermelho, veja que lindas flores estão por aqui à tua volta. Por que não olhas para elas? Acho que ainda nem reparaste como os passarinhos estão a cantar amorosamente. Andas tão séria, como se fosses para a escola, enquanto que tudo no bosque está tão alegre".
Chapeuzinho Vermelho levantou os olhos e quando viu como os raios de sol dançavam entre as árvores, para a frente e para trás, e como havia lindas flores por todo o lado, pensou: "Se eu levar à avó um ramo fresco dessas lindas flores, hei de dar-lhe alegria. Ainda é tão cedo que chegarei bem a tempo." Então ela saiu do caminho e entrou no bosque à procura de flores. E cada vez que tinha apanhado uma, pensava que mais adiante haveria outra ainda mais bonita e corria a apanhá-la, de tal forma que entrou cada vez mais fundo no bosque. Mas o lobo foi direto para casa da avó e bateu à porta. 

-"Quem está aí?" perguntou a avó.
- "É Chapeuzinho Vermelho, trazendo bolo e vinho, abre a porta vovó!"  falou o lobo.
- "Levanta o trinco," gritou a avó - "Eu estou demasiado fraca para poder me levantar."
O lobo levantou o trinco, a porta abriu e ele, sem uma palavra, dirigiu-se à cama da avó e comeu-a de uma só vez. Depois vestiu suas roupas e colocou sua touca, fechou as cortinas do quarto e deitou-se na cama esperando por Chapeuzinho Vermelho.
Entretanto, a menina tinha corrido pelo bosque apanhando de flor em flor e só quando já tinha tantas que não podia carregar mais é que se lembrou da avó e retomou o caminho para casa dela. Quando chegou, estranhou que a porta estivesse aberta e, quando entrou no quarto, teve uma sensação tão estranha que disse para si própria: "Meu Deus, hoje sinto-me tão angustiada e normalmente gosto tanto de estar com a vovó". E falou: 

- "Bom dia!" - mas não obteve resposta. 
Então dirigiu-se à cama da avó e ali estava a velha com a touca puxada sobre a cara e com uma aparência estranha. 
-"Ah vovó que grandes orelhas você tem!" - falou a menina.
- "É para poder ouvir-te melhor" - respondeu o lobo disfarçado.
- "Ah vovó que grandes olhos você tem!" 
- "Para poder te ver melhor" - disse o lobo.
- "Ah vovó, que grandes mãos você tem!" 
- "É para poder abraçar-te melhor." 
- "Mas, vovó, que boca horrivelmente grande você tem!"
- "É Para poder comer-te melhor". -respondeu o lobo. 
E mal acabara de dizer, pulou da cama e engoliu a pobre Chapeuzinho Vermelho.
E, tendo apaziguado a sua fome terrível, tornou a deitar-se na cama, adormeceu e começou a ressonar muito alto. O caçador estava mesmo a passar em frente da casa da velha senhora e pensou: "Como essa velhota ronca forte! É melhor ver se há algo errado com ela." Então entrou no quarto e, quando chegou à cama, viu o lobo lá estendido. 
- "Aqui te encontro, velho pecador" - disse ele -"Há muito que te procuro!".
Apontou a espingarda mirando na barriga do animal, mas então pensou que o lobo podia ter comido a avó e que ela ainda podia ser salva. Portanto, em vez de disparar, pegou numa tesoura e começou a cortar a barriga do lobo. Depois de ter feito um par de cortes viu um chapeuzinho vermelho aparecer e, após outros tantos cortes, a menina saltou para fora da barriga do monstro, gritando: 
-"Ah, como tive medo! Estava tão escuro dentro do lobo!".
Depois a avó saiu, também viva mas quase incapaz de respirar. Entretanto, Chapeuzinho Vermelho depressa procurou grandes pedras com as quais encheram a barriga do lobo. Quando ele acordou quis fugir, mas as pedras eram tão pesadas que caiu subitamente e pelo esforço, morreu.
Então os três ficaram muito contentes. O caçador tirou a pele do lobo e levou-a para casa. A avó comeu o bolo e bebeu o vinho que Chapeuzinho Vermelho tinha trazido e recuperou suas forças. Mas Chapeuzinho Vermelho pensou: "Nunca mais na vida tornarei a sair do caminho sozinha para entrar no bosque depois que minha mãe ter proibido."



Também se conta que uma vez, quando Chapeuzinho Vermelho levava outra vez bolos e guloseimas à casa da sua avó, um outro lobo falou com ela e quis tentá-la a sair do caminho. Mas desta vez Chapeuzinho Vermelho estava mais atenta, seguiu  direito o seu caminho e disse à avó que tinha encontrado o lobo e que este lhe tinha dito "Bom dia!" Mas com uma expressão má nos olhos: 

- "Se eu não estivesse no caminho público, ele teria me comido ali mesmo" 
- "Vem" disse a avó -"Vamos fechar a porta para que ele não possa entrar".
Pouco depois o lobo bateu à porta e gritou: 
- "Abre a porta vovó, sou eu Chapeuzinho Vermelho e trago-te bolos e coisas gostosas para comer"- disse o lobo mal intencionado.  
Mas elas não falaram nada e nem abriram a porta, por isso o lobo deu umas voltas à casa e finalmente pulou para o telhado, querendo esperar que Chapeuzinho Vermelho se fosse embora à noite para então ir atrás dela e a devorá-la na escuridão. Mas a avó percebeu o que ele tinha em mente. Havia em frente da casa um grande bebedouro de pedra e a avó disse à criança:
-"Pega o balde, Chapeuzinho Vermelho! Ontem fiz salsichas, por isso leva a água da cozedura para o bebedouro e despeje tudo lá dentro". 
Chapeuzinho Vermelho encheu  o balde com a água que foram cozidas as salsichas e despejou até a última gota dentro do grande bebedouro que ficou completamente cheio. Então o cheiro das salsichas alcançou as narinas do lobo e foi atraído até o bebedouro de onde vinha aquele aroma, então cheirou e olhou para baixo. Finalmente, esticou tanto o pescoço que perdeu o equilíbrio e começou a escorregar. Escorregou então para dentro do grande bebedouro, onde se afogou. Chapeuzinho Vermelho foi para casa feliz da vida e mais ninguém lhe fez mal.