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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

AUTONOMIA - artigo






AUTONOMIA INFANTIL, PRÁ QUE SERVE ISSO?

 

Remexendo fotografias antigas recordamos cenas de nossos filhos quando bebês. Frágeis e desprotegidos careciam de toda atenção e cuidado. Havia nossa expectativa, dúvidas e desafios que aquele ser indefeso parecia perguntar: - Você cuidará bem de mim? É uma grande responsabilidade, mas confiantes superamos esses temores e com a cara e a coragem enfrentamos as dificuldades e seguimos adiante. Com algumas variações essa é história da maioria dos pais, principalmente em relação ao primeiro filho, mas que não se modifica muito, mesmo quando a família aumenta ter filhos é sempre uma emoção.

 Talvez nos acalme a sensação de que hoje, mais crescidos conseguiram conquistar um pouco mais do mundo à sua volta, dominam melhor suas ações e se encontram mais fortalecidos. O nome disso é “autonomia”, que deve ser praticada pela criança com auxílio encorajador dos adultos que fazem parte de sua vida estimulando e ajudando a criança em seu desenvolvimento. Essa prática é tão importante como a preocupação com a alimentação. Não se deve abrir mão disso.

Autonomia se conquista, mas precisa ser praticada e muito. O problema aparece quando não atualizamos nossa observação em relação àquilo que está acontecendo na atualidade. No exemplo da fotografia os personagens são os mesmos, mas muita coisa aconteceu. Os bebês cresceram, aprenderam coisas novas, conquistaram outras, que muitas vezes deixamos de valorizar, mantendo na memória a mesma imagem antiga que já não retrata o tempo presente. Os pais também mudaram, já não são tão necessários como antes, pois os bebês deixaram a fragilidade para trás. Agora mais independente precisa enfrentar novos desafios e ampliar sua autonomia com auxílio dos pais.

A vida é feita por fases, existem épocas em que determinadas situações são perfeitamente pertinentes, com o passar do tempo a maturidade física e emocional necessita de adequações. Portanto, é comum ajudarmos crianças pequenas a comer, quando elas conquistam esse domínio deixamos que comam sozinhas, isso vale para o banho, cuidado com suas coisas, limpeza do quarto, guardar seus brinquedos, enfim coisas que já podem fazer sozinhas, mas com a supervisão e orientação de seus pais, porque isso tudo é um aprendizado e crianças a partir de três anos de idade podem realizar com absoluta tranquilidade as tarefas domésticas compatíveis.

Algumas condições devem ser ajustadas, a manutenção de padrões anteriores causa um grande prejuízo para o desenvolvimento sadio da criança quando essa autonomia é adiada. Vamos imaginar uma criança com boa preensão palmar, vigorosa e determinada, que já sabe comer sozinha, mas que ainda recebe a comida na boca, ou aquela que deixa de realizar tarefas domésticas básicas que são transferidas para outra pessoa, tudo isso na contramão de um aprendizado saudável que é negado à criança. Em outras palavras: se alguém fizer por mim não preciso fazer! Esse é o ensinamento torto que ela irá receber e incorporar na maioria das veze

Os pais são geralmente bem intencionados mesmo protelando essas conquistas, talvez por acalentarem a sensação de que seus filhos necessitam de proteção, o que é verdadeiro, mas que precisam ajuda-los para que sejam independentes e ampliem suas aptidões e potencialidades. Terão como tarefa incômoda os ajustes e cortes necessários. Difíceis, mas imprescindíveis.

A partir dos seis meses de idade a maioria dos bebês atinge uma maturidade metabólica permitindo uma pausa noturna em relação às mamadas, ou seja, conseguem mamar à noite e depois somente pela manhã. Bom para a mãe que pode descansar um pouco mais e sem problemas para a criança já que a fisiologicamente está tudo certo. Portanto, embora com algumas variações, a necessidade do aleitamento de três em três horas vai espaçando e essa simbiose mãe/bebê também vai diluindo. Sem traumas e sem grandes problemas, a criança está crescendo e novos acertos precisam ser feitos. Como nem tudo conspira favoravelmente surge contrariedades. Algumas continuam mamando à noite isso se torna um hábito, essa situação vai se estendendo além da conta avançando até um, dois anos.  Outras ainda frequentam a cama dos pais, não conseguem dormir sozinhas, por medo ou simplesmente terem essa opção confortável de dormirem com os pais na mesma cama. Condições desse tipo acabam se incorporando na rotina da criança e caso o impedimento permaneça adiado o prejuízo acontece.

Ajustes precisam ser feitos a manutenção desse padrão não ajuda a criança. Se essa situação se perpetua, pior ainda. Crianças que rejeitam a introdução de sólidos e insistem no aleitamento mesmo com dentição parcial terão dificuldades com uma alimentação diversificada. Aquelas que se acostumaram a dormir na cama dos pais desenvolvem medo de ficarem sozinhas especialmente à noite. O adiamento dessa mudança também é urgente, a intervenção é menos traumática quando feita em tempo hábil. Uma criança que ainda mama com três anos e frequenta a cama dos pais com regularidade precisa de um corte mais contundente do que aquele feito bem antes.

Crianças pequenas são imitadoras. Reproduzem tudo o que está no seu entorno. Esse é o desafio para o adulto que a acompanha. Alguém digno de ser imitado é aquele que estabelece limites, incentiva a autonomia e estimula a criança a conquistar suas dificuldades através de seu próprio esforço. É claro que é muito mais fácil deixar as coisas como estão e então se justifica oferecer comida na boca, prolongar o uso da chupeta e mamadeira, recolher seus brinquedos e deixar que durma na cama dos pais. Tudo tem seu tempo. Cabe aos adultos condutores da criança estabelecer a duração de cada fase.

É aconchegante e até gostoso ver fotos antigas de nossas crianças, mas atualizando a imagem é absolutamente reconfortante constatar que atualmente elas se tornaram mais autônomas, capazes, independentes, certamente mais realizadas e também muito reconfortante saber que tiveram adultos coerentes promovendo essa conquista. Isso sim é sair bem na foto.

Dr. José Carlos Machado

Médico escolar.



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