AUTONOMIA INFANTIL, PRÁ QUE SERVE ISSO?
Remexendo fotografias
antigas recordamos cenas de nossos filhos quando bebês. Frágeis e desprotegidos
careciam de toda atenção e cuidado. Havia nossa expectativa, dúvidas e desafios
que aquele ser indefeso parecia perguntar: - Você cuidará bem de mim? É uma
grande responsabilidade, mas confiantes superamos esses temores e com a cara e
a coragem enfrentamos as dificuldades e seguimos adiante. Com algumas variações
essa é história da maioria dos pais, principalmente em relação ao primeiro
filho, mas que não se modifica muito, mesmo quando a família aumenta ter filhos
é sempre uma emoção.
Talvez nos acalme a sensação de que hoje, mais
crescidos conseguiram conquistar um pouco mais do mundo à sua volta, dominam melhor
suas ações e se encontram mais fortalecidos. O nome disso é “autonomia”, que deve ser praticada pela
criança com auxílio encorajador dos adultos que fazem parte de sua vida
estimulando e ajudando a criança em seu desenvolvimento. Essa prática é tão importante
como a preocupação com a alimentação. Não se deve abrir mão disso.
Autonomia se
conquista, mas precisa ser praticada e muito. O problema aparece quando não
atualizamos nossa observação em relação àquilo que está acontecendo na
atualidade. No exemplo da fotografia os personagens são os mesmos, mas muita
coisa aconteceu. Os bebês cresceram, aprenderam coisas novas, conquistaram
outras, que muitas vezes deixamos de valorizar, mantendo na memória a mesma
imagem antiga que já não retrata o tempo presente. Os pais também mudaram, já
não são tão necessários como antes, pois os bebês deixaram a fragilidade para
trás. Agora mais independente precisa enfrentar novos desafios e ampliar sua
autonomia com auxílio dos pais.
A vida é feita
por fases, existem épocas em que determinadas situações são perfeitamente
pertinentes, com o passar do tempo a maturidade física e emocional necessita de
adequações. Portanto, é comum ajudarmos crianças pequenas a comer, quando elas
conquistam esse domínio deixamos que comam sozinhas, isso vale para o banho,
cuidado com suas coisas, limpeza do quarto, guardar seus brinquedos, enfim
coisas que já podem fazer sozinhas, mas com a supervisão e orientação de seus
pais, porque isso tudo é um aprendizado e crianças a partir de três anos de
idade podem realizar com absoluta tranquilidade as tarefas domésticas
compatíveis.
Algumas
condições devem ser ajustadas, a manutenção de padrões anteriores causa um
grande prejuízo para o desenvolvimento sadio da criança quando essa autonomia é
adiada. Vamos imaginar uma criança com boa preensão palmar, vigorosa e
determinada, que já sabe comer sozinha, mas que ainda recebe a comida na boca,
ou aquela que deixa de realizar tarefas domésticas básicas que são transferidas
para outra pessoa, tudo isso na contramão de um aprendizado saudável que é
negado à criança. Em outras palavras: se alguém fizer por mim não preciso
fazer! Esse é o ensinamento torto que ela irá receber e incorporar na maioria
das veze
Os pais são
geralmente bem intencionados mesmo protelando essas conquistas, talvez por
acalentarem a sensação de que seus filhos necessitam de proteção, o que é
verdadeiro, mas que precisam ajuda-los para que sejam independentes e ampliem suas
aptidões e potencialidades. Terão como tarefa incômoda os ajustes e cortes
necessários. Difíceis, mas imprescindíveis.
A partir dos
seis meses de idade a maioria dos bebês atinge uma maturidade metabólica permitindo
uma pausa noturna em relação às mamadas, ou seja, conseguem mamar à noite e depois
somente pela manhã. Bom para a mãe que pode descansar um pouco mais e sem
problemas para a criança já que a fisiologicamente está tudo certo. Portanto,
embora com algumas variações, a necessidade do aleitamento de três em três horas
vai espaçando e essa simbiose mãe/bebê também vai diluindo. Sem traumas e sem
grandes problemas, a criança está crescendo e novos acertos precisam ser
feitos. Como nem tudo conspira favoravelmente surge contrariedades. Algumas continuam
mamando à noite isso se torna um hábito, essa situação vai se estendendo além
da conta avançando até um, dois anos.
Outras ainda frequentam a cama dos pais, não conseguem dormir sozinhas,
por medo ou simplesmente terem essa opção confortável de dormirem com os pais na
mesma cama. Condições desse tipo acabam se incorporando na rotina da criança e
caso o impedimento permaneça adiado o prejuízo acontece.
Ajustes precisam
ser feitos a manutenção desse padrão não ajuda a criança. Se essa situação se
perpetua, pior ainda. Crianças que rejeitam a introdução de sólidos e insistem
no aleitamento mesmo com dentição parcial terão dificuldades com uma
alimentação diversificada. Aquelas que se acostumaram a dormir na cama dos pais
desenvolvem medo de ficarem sozinhas especialmente à noite. O adiamento dessa
mudança também é urgente, a intervenção é menos traumática quando feita em tempo
hábil. Uma criança que ainda mama com três anos e frequenta a cama dos pais com
regularidade precisa de um corte mais contundente do que aquele feito bem
antes.
Crianças
pequenas são imitadoras. Reproduzem tudo o que está no seu entorno. Esse é o
desafio para o adulto que a acompanha. Alguém digno de ser imitado é aquele que
estabelece limites, incentiva a autonomia e estimula a criança a conquistar
suas dificuldades através de seu próprio esforço. É claro que é muito mais
fácil deixar as coisas como estão e então se justifica oferecer comida na boca,
prolongar o uso da chupeta e mamadeira, recolher seus brinquedos e deixar que
durma na cama dos pais. Tudo tem seu tempo. Cabe aos adultos condutores da
criança estabelecer a duração de cada fase.
É aconchegante
e até gostoso ver fotos antigas de nossas crianças, mas atualizando a imagem é
absolutamente reconfortante constatar que atualmente elas se tornaram mais
autônomas, capazes, independentes, certamente mais realizadas e também muito
reconfortante saber que tiveram adultos coerentes promovendo essa conquista.
Isso sim é sair bem na foto.
Dr.
José Carlos Machado
Médico
escolar.
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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