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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Artigo 08


SEXUALIDADE & ADOLESCÊNCIA


Quando pensamos no adolescente com seus treze, quatorze anos e nos preocupamos com toda a dificuldade de convívio, que muitas vezes é extremamente comum, esquecemos de olhar para trás e ver que muitos outros fatores culminaram nessa fase, que na verdade, trata-se exatamente disso, de uma fase, muitas vezes tristonha e carregada, que ao observarmos de fora achamos quase que duradoura, mas é preciso lembrar de outros pontos que podem nos tranqüilizar mais.

Assim como com aproximadamente três anos a criança nos surpreende quando fala pela primeira vez a palavra EU e mais do que isso tem a sensação de ser algo independente de sua mãe, e começa então de uma maneira bastante significativa o início de uma separação não só de corpos, embora tanto o corpo etérico da criança e de sua mãe estejam bastante imbricados, já há na cabeça daquela criança a idéia de ser isolada dos outros, adquiriu uma identidade própria e daí para frente essa sensação vai alicersando-se cada vez mais e mais até que por volta dos sete anos, o primeiro setênio se encerra com o aparecimento dos dentes definitivos e aqueles assim chamados de “leite” dão lugar aos definitivos, em outras palavras, aquilo que foi herdado é substituído por algo que lhe é próprio, nessa fase de vida ela já teria condições de ser alfabetizada, pois uma maturação de seu sistema neurossensorial já a capacitaria para ligar-se com maior atenção às histórias que lhe são contadas, prestando atenção aos detalhes e podendo manter-se mais concentrada em novos conceitos que pacientemente a professora pode lhe expor; então vemos como é interessante notar como tantas crianças nos dias de hoje são tão precocemente  alfabetizadas , não levando em conta esses detalhes que, de fato, fazem a maior diferença.

Então já estamos nos sete anos e a criança é então alfabetizada, vamos supor que a chamada separação dos corpos etéricos entre a mãe e criança aconteceu da melhor maneira possível, pois aqui podem ocorrer muitos contratempos que agora não são de nosso interesse esmiuçar, imaginemos portanto que esta criança vem desenvolvendo-se de uma maneira satisfatória e que tímida ou espevitada, interessa-se pelo mundo e sente alegria em viver, pois é justamente nesse ponto que precisamos ficar atentos, se apresentamos um mundo à criança onde é possível que se diga ser um “mundo BOM” agora onde há uma confiança no que a cerca, ela, criança, pode experimentar uma outra faceta do mundo, pois agora ele apresenta-se “BELO” e esta é a tônica que rege o segundo setênio e quando tudo parece andar bem, surge lá pelos nove/dez anos um outro tropeço, que chamamos de rubicão, pois é na verdade uma parada e que em algumas crianças antecedem, ou pelo menos, nos dão a idéia de como será a sua adolescência. Quando aos três anos a criança descobre o EU e podemos de certa forma, dizer que então que seu sistema neurossensorial encontra-se bastante “ligado”ao mundo, agora aos nove anos há experimentação do sentir e por sua vez é o sistema rítmico que é envolvido, aí a criança descobre que o seu sentimento também é individualizado, ou seja, o que a família e ela própria sentiam, como que em conjunto, tem agora a característica de fazer parte de seu ser, individualizando e particularizando um sentimento que pode até ser comum com das outras pessoas de seu convívio, mas que certamente passa agora pelo seu aval. É uma fase difícil pois o choro também se torna para algumas crianças muito rotineiro e para algumas, especificamente, pequenos contratempos cotidianos, pequenos desentendimentos do dia-a-dia ganham uma proporção enorme, os sentimentos ficam literalmente “à flor da pele”.

Continuando a biografia dessa criança chegamos à adolescência e já se passaram dois setênios, com ricas experiências e agora aos treze/quatorze anos há também uma nossa observação de mundo que passa a ser “VERDADEIRO” e por conta disso não há mais espaço para a mentira, a criança, que a bem da verdade, não é mais criança, embora não seja ainda adulta, quer e pode argumentar e eles nos inundam com uma série de argumentações e justificativas para conseguir aquilo que querem, especialmente as atividades em grupo, pois é no grupo que o adolescente encontra a força que individualmente ainda não conquistou plenamente, e como já sabem parlamentar e seduzir muito bem, pois aprenderam com os adultos em todos esses anos, podem agora questiona-los e muitas vezes, impor suas vontades e opiniões independente da seus pais, o que só aumenta o conflito e os afasta ainda mais e que a resposta mais acertada de nossa parte, enquanto adultos, seria a de por um ante-paro e segurar a nossa autoridade, pois agora, adultos que somos podemos ser responsáveis pela autoria de nossas própria ideia u opinião, é daí que vem a palavra “autoridade” e com isso suportar a dor e frustração de nossos filhos quando ouvem um sonoro “NÃO” pois nessa fase de vida é difícil ouvir essa resposta. E quando seria o mais natural nós lembrarmos que é o momento em que eles precisam destruir para poder então construir, só que muitos pais ficam muito ansiosos com isso, pois eles se afastam e aquelas dóceis criancinhas dão lugar a moças e rapazes estabanados, que tropeçam e caem, derrubam as coisas, são muitas vezes desengonçados, mas isso tudo é muito lógico quando olhar e ver que agora é a vez do outro sistema que integra a nossa corporalidade desabrochar em todo o seu esplendor, o sistema metabólico-motor se abre e é preciso um certo tempo para o jovem aprender a lidar com seus membros e todo o seu corpo. E são muitas as transformações que passam por ele: fisicamente, hormonalmente, estruturalmente e até ideologicamente esse jovem não é mais o menino ou menina de alguns poucos anos atrás e faz questão de deixar isso bem claro e não vão os pais agora querer tratá-los como antes, porque certamente não irão conseguir. No processo de destruição há lutos que precisam ser respeitados, o primeiro é o próprio luto do corpo, pois já não são meninos ou meninas, o corpo ganhou novas formas, as meninas já tem seios e muitas já menstruaram, os ganharam músculos e distribuição de pelos pelo corpo, a voz modifica-se, mas em contra-partida ainda não são homens ou mulheres; há o luto da identidade dos pais, que também tem o seu peso, então aquilo que os pais falavam e de certa forma não era muito questionado, adquire aqui, via-de-regra, um embate quase que frontal e diário, então o jovem começa a questionar os pais que falam que não devem fumar e que fumam, que dizem para não mentir e pedem ao filho para dizer que não estão em casa quando alguém liga o telefone, enfim, essa contradição agora é checada e se não verbalizada, não passa absolutamente incólume. Fala-se de um período sombrio e realmente o é, pois esses lutos geram perdas que o jovem precisa passar para poder crescer, há a perda de seu corpo de criança e há também a perda do mito dos pais, que tem os mesmos defeitos de todo mundo, mas que continuam seus pais e isso pode ser observado e valorizado mais tarde, embora durante o luto isso possa não aparecer. Os jovens que tem a vivência com algum instrumento musical tem aqui uma grande companhia pois nesses momentos solitários e muitas vezes, escuros, podem ter a sensação do colorido da música, ou a escrita e diários e verdadeiros romances para aqueles que preferem expressar-se através dessa arte, muitos gostam de optar por aventuras mais radicais e desafiam o perigo até para provar que são capazes de vencê-lo e para esses casos é preciso ficar-se atento. De todo modo dos pais é essencial que se cumpra a função que é inerente e esperada deles, ou seja exercer a sua autoridade com a dignidade que isso significa, aguentar muitas caras amarradas quando as coisas não saírem exatamente do modo como seus filhos gostariam que saíssem e confiar principalmente naquilo que semearam tempos atrás e talvez, especialmente nos dias de hoje, rezar e pedir ao anjo da guarda de seu filho que o proteja e o resguarde.


Dr. José Carlos Neves Machado



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