SEXUALIDADE & ADOLESCÊNCIA
Quando pensamos no adolescente
com seus treze, quatorze anos e nos preocupamos com toda a dificuldade de
convívio, que muitas vezes é extremamente comum, esquecemos de olhar para trás
e ver que muitos outros fatores culminaram nessa fase, que na verdade, trata-se
exatamente disso, de uma fase, muitas vezes tristonha e carregada, que ao
observarmos de fora achamos quase que duradoura, mas é preciso lembrar de
outros pontos que podem nos tranqüilizar mais.
Assim como com aproximadamente
três anos a criança nos surpreende quando fala pela primeira vez a palavra EU e
mais do que isso tem a sensação de ser algo independente de sua mãe, e começa
então de uma maneira bastante significativa o início de uma separação não só de
corpos, embora tanto o corpo etérico da criança e de sua mãe estejam bastante
imbricados, já há na cabeça daquela criança a idéia de ser isolada dos outros,
adquiriu uma identidade própria e daí para frente essa sensação vai
alicersando-se cada vez mais e mais até que por volta dos sete anos, o primeiro
setênio se encerra com o aparecimento dos dentes definitivos e aqueles assim
chamados de “leite” dão lugar aos definitivos, em outras palavras, aquilo que
foi herdado é substituído por algo que lhe é próprio, nessa fase de vida ela já
teria condições de ser alfabetizada, pois uma maturação de seu sistema
neurossensorial já a capacitaria para ligar-se com maior atenção às histórias
que lhe são contadas, prestando atenção aos detalhes e podendo manter-se mais
concentrada em novos conceitos que pacientemente a professora pode lhe expor;
então vemos como é interessante notar como tantas crianças nos dias de hoje são
tão precocemente alfabetizadas , não
levando em conta esses detalhes que, de fato, fazem a maior diferença.
Então já estamos nos sete anos e
a criança é então alfabetizada, vamos supor que a chamada separação dos corpos
etéricos entre a mãe e criança aconteceu da melhor maneira possível, pois aqui
podem ocorrer muitos contratempos que agora não são de nosso interesse
esmiuçar, imaginemos portanto que esta criança vem desenvolvendo-se de uma
maneira satisfatória e que tímida ou espevitada, interessa-se pelo mundo e
sente alegria em viver, pois é justamente nesse ponto que precisamos ficar
atentos, se apresentamos um mundo à criança onde é possível que se diga ser um
“mundo BOM” agora onde há uma confiança no que a cerca, ela, criança, pode
experimentar uma outra faceta do mundo, pois agora ele apresenta-se “BELO” e
esta é a tônica que rege o segundo setênio e quando tudo parece andar bem,
surge lá pelos nove/dez anos um outro tropeço, que chamamos de rubicão, pois é
na verdade uma parada e que em algumas crianças antecedem, ou pelo menos, nos
dão a idéia de como será a sua adolescência. Quando aos três anos a criança
descobre o EU e podemos de certa forma, dizer que então que seu sistema
neurossensorial encontra-se bastante “ligado”ao mundo, agora aos nove anos há
experimentação do sentir e por sua vez é o sistema rítmico que é envolvido, aí
a criança descobre que o seu sentimento também é individualizado, ou seja, o
que a família e ela própria sentiam, como que em conjunto, tem agora a
característica de fazer parte de seu ser, individualizando e particularizando
um sentimento que pode até ser comum com das outras pessoas de seu convívio,
mas que certamente passa agora pelo seu aval. É uma fase difícil pois o choro
também se torna para algumas crianças muito rotineiro e para algumas,
especificamente, pequenos contratempos cotidianos, pequenos desentendimentos do
dia-a-dia ganham uma proporção enorme, os sentimentos ficam literalmente “à
flor da pele”.
Continuando a biografia dessa
criança chegamos à adolescência e já se passaram dois setênios, com ricas
experiências e agora aos treze/quatorze anos há também uma nossa observação de
mundo que passa a ser “VERDADEIRO” e por conta disso não há mais espaço para a
mentira, a criança, que a bem da verdade, não é mais criança, embora não seja
ainda adulta, quer e pode argumentar e eles nos inundam com uma série de
argumentações e justificativas para conseguir aquilo que querem, especialmente
as atividades em grupo, pois é no grupo que o adolescente encontra a força que
individualmente ainda não conquistou plenamente, e como já sabem parlamentar e
seduzir muito bem, pois aprenderam com os adultos em todos esses anos, podem
agora questiona-los e muitas vezes, impor suas vontades e opiniões independente
da seus pais, o que só aumenta o conflito e os afasta ainda mais e que a
resposta mais acertada de nossa parte, enquanto adultos, seria a de por um
ante-paro e segurar a nossa autoridade, pois agora, adultos que somos podemos
ser responsáveis pela autoria de nossas própria ideia u opinião, é daí que vem
a palavra “autoridade” e com isso suportar a dor e frustração de nossos filhos
quando ouvem um sonoro “NÃO” pois nessa fase de vida é difícil ouvir essa
resposta. E quando seria o mais natural nós lembrarmos que é o momento em que
eles precisam destruir para poder então construir, só que muitos pais ficam
muito ansiosos com isso, pois eles se afastam e aquelas dóceis criancinhas dão
lugar a moças e rapazes estabanados, que tropeçam e caem, derrubam as coisas,
são muitas vezes desengonçados, mas isso tudo é muito lógico quando olhar e ver
que agora é a vez do outro sistema que integra a nossa corporalidade
desabrochar em todo o seu esplendor, o sistema metabólico-motor se abre e é
preciso um certo tempo para o jovem aprender a lidar com seus membros e todo o
seu corpo. E são muitas as transformações que passam por ele: fisicamente,
hormonalmente, estruturalmente e até ideologicamente esse jovem não é mais o
menino ou menina de alguns poucos anos atrás e faz questão de deixar isso bem
claro e não vão os pais agora querer tratá-los como antes, porque certamente
não irão conseguir. No processo de destruição há lutos que precisam ser
respeitados, o primeiro é o próprio luto do corpo, pois já não são meninos ou
meninas, o corpo ganhou novas formas, as meninas já tem seios e muitas já
menstruaram, os ganharam músculos e distribuição de pelos pelo corpo, a voz
modifica-se, mas em contra-partida ainda não são homens ou mulheres; há o luto
da identidade dos pais, que também tem o seu peso, então aquilo que os pais
falavam e de certa forma não era muito questionado, adquire aqui, via-de-regra,
um embate quase que frontal e diário, então o jovem começa a questionar os pais
que falam que não devem fumar e que fumam, que dizem para não mentir e pedem ao
filho para dizer que não estão em casa quando alguém liga o telefone, enfim,
essa contradição agora é checada e se não verbalizada, não passa absolutamente
incólume. Fala-se de um período sombrio e realmente o é, pois esses lutos geram
perdas que o jovem precisa passar para poder crescer, há a perda de seu corpo
de criança e há também a perda do mito dos pais, que tem os mesmos defeitos de
todo mundo, mas que continuam seus pais e isso pode ser observado e valorizado
mais tarde, embora durante o luto isso possa não aparecer. Os jovens que tem a
vivência com algum instrumento musical tem aqui uma grande companhia pois
nesses momentos solitários e muitas vezes, escuros, podem ter a sensação do
colorido da música, ou a escrita e diários e verdadeiros romances para aqueles
que preferem expressar-se através dessa arte, muitos gostam de optar por
aventuras mais radicais e desafiam o perigo até para provar que são capazes de
vencê-lo e para esses casos é preciso ficar-se atento. De todo modo dos pais é
essencial que se cumpra a função que é inerente e esperada deles, ou seja
exercer a sua autoridade com a dignidade que isso significa, aguentar muitas
caras amarradas quando as coisas não saírem exatamente do modo como seus filhos
gostariam que saíssem e confiar principalmente naquilo que semearam tempos
atrás e talvez, especialmente nos dias de hoje, rezar e pedir ao anjo da guarda
de seu filho que o proteja e o resguarde.
Dr. José Carlos Neves
Machado
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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