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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Artigo 01


A sexualidade da Criança

Muitas vezes alguns pacientes me questionam sobre esta difícil questão sobre a “sexualidade” dentro do dia-a-dia da criança, como abordar algumas dúvidas que seus filhos trazem e pegam os pais literalmente de “calças curtas” pois estes se acham muito tímidos para responder a estas questões, ou então, respondem com tanta ênfase que chamam atenção para algo que nem precisaria ser assim tão explícito, a dificuldade é o que responder e quando isso deve ser feito, é complicado e infelizmente, não há uma regra prática, um manual de como fazê-lo, mas se nos prepararmos talvez isso possa se tornar menos trágico, como na maioria das vezes acontece.

Vamos imaginar primeiro a idade da criança, digamos que se encontra em torno dos 09/10 anos e nos questiona como nascem as crianças, como são feitas, por onde saem os bebês e por aí afora, então a questão é: deve-se responder a todas essas perguntas com todos os detalhes, ou simplesmente ignorarmos tê-las ouvido e dizer simplesmente que ainda não é hora de que ela saiba disso, que ainda não tem idade para isso. A questão não é tão simples assim, primeiro que se fingirmos ignorar aquilo que ouvimos, essa curiosidade infantil poderá, e efetivamente será, satisfeita, muitas vezes de maneira errada, em outro lugar e se nos preocuparmos somente em responder às suas dúvidas de uma maneira fria e intelectualizada, estaremos contribuindo em muito para que essa mesma criança se torne cada vez mais racionalizada e introjete todos esses conteúdos neurossensorialmente o que só prejudicaria a sua evolução biográfica. Talvez seja essa a idéia central, ou seja, nos focarmos sempre nessa biografia, nessa continuação que é a nossa vida e aqui nesse caso, no desenrolar da vida da criança que vai apreendendo primeiro as forças etéricas para constituição de seu corpo físico, para em seguida essas forças se deslocarem para o pólo neurossensorial quando por volta dos 07 anos podem ficar mais concentradas para ouvirem novos conceitos e então aprender coisas novas e fazer ligações com aquilo que ouvem e o que vivenciam no seu cotidiano, começam aí a ter uma maior domínio sobre si, a  aprender as letras e os números, a ouvirem com maior paciência as histórias que a professora lhes conta, enfim vão desabrochando novas possibilidades e até fisicamente vão se diferenciando, não são mais “redondinhas” e começam também a se diferenciar um pouco de seus pais e irmãos, vão-se individualizando cada vez mais. Aos 09 anos aproximadamente dá-se um grande salto (Rubicão), quando existe como se fosse a percepção do sentimento da criança, que como todo o restante também se individualiza e ela passa como que a ter seus próprios sentimentos, que muitas vezes não são compartilhados com o restante da família, pelo menos naquela fase, são choros e tristezas imensas que nem elas mesmo sabem o porquê, deixando a professora de classe e os pais sem saber o que fazer com tamanha infelicidade, que passará com o tempo e irá preceder a outra grande descoberta da criança, isso mais tarde, lá pelos seus 13/14 anos, que é a sua sexualidade. Então existem como que três grandes descobertas, o sistema neurossensorial, mais tarde o sistema rítmico e depois o sistema metabólico-motor, todos nós de um modo ou de outro passamos por isso a questão é a biografia disso tudo, existe um tempo certo para cada fase, assim como podemos colocar mais adubo e produtos químicos para que a roseira possa florir mais depressa e um maior número de vezes, não podemos garantir a beleza e a qualidade de suas rosas, também fica difícil garantir que ao apressarmos as fases, que tem seu tempo certo, não teremos no futuro, dentro do desenvolvimento biográfico dessa pessoa, algumas graves decepções.


No momento atual em que vivemos temos uma preocupação muito grande com o atual, com o agora, não que isso necessariamente esteja ligado à qualidade, mas ligado ao lado mais imediatista da questão, então é preciso desfocar essa imagem, ampliando nossa visão para a continuidade de nossas ações, pois tudo gera uma conseqüência e aqui mais do que nunca os prejuízos são grandes e muito nocivos. Voltando a questão sobre a sexualidade, tentei explicar como em cada momento há uma nova casca que pode ser retirada, tem o seu momento certo para isso acontecer, crianças que são alfabetizadas precocemente, com muitos conceitos racionais, formas, números, etc, desenvolvem uma neurossensorialidade que acaba somatizando em doenças como cefaléias e enxaquecas que deixam as mães e os pediatras de cabelo em pé e que, muitas vezes, quando tem o seu ritmo diminuído apresentam grande melhora, dormem melhor e seus sintomas são minimizados; do mesmo modo uma criança que é sexualizada muito cedo também sofrerá conseqüências nefastas, inclusive do ponto de vista médico, mas é preciso que se explique que há muitos modos de ser estimulada essa sexualidade e que precisamos estar atentos para que isso não seja feito. O próprio modo de vestir da criança já pode ser um indicativo de como isso pode ser estimulado e é importante aqui deixar claro que não se está enfatizando ou condenando qualquer tipo de vestimenta, mas é bom que se diga que criança deve se vestir como criança e tudo aquilo que “aperte”, “prenda”, “amarre” ou “sacrifique” a criança por conta de um modismo precisa ser pensado antes de ser incentivado, vejo muitas vezes crianças no consultório que são mais figuras caricatas de adultos do que de crianças de fato, com toda sorte de apliques, acessórios e roupas que não tem nenhuma necessidade dentro de um contexto que se pretenda ser infantil. Nós sabemos como é tênue esse fio que separa a malícia da ingenuidade e o que deveria ser natural na criança torna-se com o tempo muito diferente e essas crianças começam a ficar cínicas, antecipando um sentimento que seria esperado anos mais tarde.

Quando se aborda essa questão sexual, não se imagina como é importante ficar atento aquilo que chega às mãos de nossos filhos, então como tudo é erotizado hoje em dia, não é tão insignificante assim, perguntar para uma criança pequena se ela tem ou não namorado e de preferência não estimular isso, lógico que essa criança vê seus irmãos mais velhos ou mesmos pessoas da família que namoram, por imitação dirão as mesmas coisas que ouvem, mas isso pode morrer aí ou ser estimulado com perguntas e mesmos incentivos como telefonemas e visitas constantes aos “namorados (as)”. Outra coisa muito erotizada que as pessoas muitas vezes, não se dão conta é quanto às músicas que as crianças ouvem e cantarolam o tempo todo, hoje podem ter acesso a discos e cds e muitas tem o seu próprio aparelho de som e ouvem o que querem assim como vêem de tudo na TV, de novelas a filmes eróticos, mas certamente deve ter um adulto que custeou ou pelo menos “cochilou” quando deixou de desligar esses aparelhos. E é por conta disso que quando surge a dúvida sobre o que se deve responder quando a criança pergunta algo sobre sexualidade, ou mesmo quando a menina está mulherzinha demais e o menino já adolescente demais para sua idade, deve-se afastar um pouco e observar como foi todo o processo dessa criança o que já foi alimentado esse processo para agora ter esse tamanho, que certamente é inadequado e precisa ser controlado para não crescer mais  ainda.

Parece que os pais tem, às vezes, uma questão a  reparar, como não foram respondidos quando novos, querem com seus filhos responder a todas as perguntas que eles lhe fazem; há também aqueles que por vergonha ou timidez nada dizem e fingem que não ouvem aquilo que seus filhos perguntam, ou transferem para o parceiro ou para o professor, que se vê com um grande problema em suas mãos pois a criança quando é muito sexualizada é um grande transtorno para toda a comunidade escolar da qual faz parte e em contra-partida, sem o apoio e a intervenção dos pais em suas casas, não há muito sucesso. A fantasia que é tão inerente dentro da ótica infantil pode e deve ser estimulada sem que haja o temor de que essas crianças se tornem alienadas, como muitos insistem em pensar, o fantástico e o pensamento racional terão o seu tempo de agir e somente com a vivência da fantasia há o necessário e adequado estímulo para que as crianças, mais tarde adultos, encontrem respostas satisfatórias aos problemas que surjam à sua frente, pois ela estimula a toda sorte de possibilidades, o  que não acontece com o fantástico e o racional pois são compactos e pouco criativos. Deixar que seus filhos brinquem com bonecas e carrinhos, que colecionem toda sorte de pedras e folhas, que desenhem e que brinquem e se distraiam com seus jogos de fantasia é infinitamente mais saudável que qualquer jogo de computador ou a assistir a algum filme de TV, por melhor que seja seu conteúdo e maior informação possa vir a lhe trazer. Despertar os olhos da criança para a beleza e para a estética são valores fundamentais para desenvolver conceitos éticos profundos que serão o alicerce para a adolescência que virá logo mais a frente, que esse sim, é realmente um período sombrio para a criança que já nem mais é totalmente criança, mas tampouco é adulto, não tem seu corpo mais infantil, mas não é completamente maduro, tem hormônios que explodem, mas o que fazer com eles, tem os mesmos pais de sempre, mas que agora são mais questionados, os mesmos pais que ditavam regras que não seguem e que agora encontram-se tão distantes e ao mesmo tempo tão próximos e se esse período é tão angustiante para a criança que teve sua evolução sem maiores “tropeços”, imagine para aquela que sofreu um verdadeiro “tombo”, que chega à adolescência já totalmente sexualizada e já se achando mocinha e homenzinho desde que tinha seus 09/10 anos.

Portanto queridos pais a melhor idéia talvez seja a de ficarmos atentos às posturas de nossos filhos que amadurecem tão precocemente e, muitas vezes, com o nosso apoio e incentivo, vesti-los como crianças me parece bastante apropriado, visto que realmente é isso que elas são, então roupas íntimas muito apertadas e o uso de “soutiens” em meninas que nem botão mamário possuem, só despertam a atenção de algo que nem nasceu ainda. Do mesmo modo que é preciso selecionar aquilo que chega às mãos de nossos filhos e também aos seus olhos e ouvidos, não se trata de ser um censor rigoroso que vê pecado em tudo, mas de ficar mais criterioso com o que a criança pode estar em contato, porque efetivamente isso pode prejudica-la. Seria muito bem vindo nessa idade a vivência de uma educação amorosa e também a prática de uma espiritualidade, sem a preocupação de algo doutrinatório, mas que ela observe os pais reverenciando algo maior e mais forte e que se possam espelhar-se nesse exemplo.

Enfim talvez os pais precisem se autorizar a dizer muitas vezes a palavra não para que seus filhos possam aprender aquilo que pode ser sim. Teremos então crianças menos cínicas, ingênuas como devem ser, embora isso hoje em dia acabe muito cedo, mas sobretudo mais crianças e menos embrutecidas pelo excesso de maturidade que chegou antes da hora e pais,  no mínimo, mais calmos.

Dr. José Carlos Neves Machado
Médico Escolar e Pediatra antroposófico da Casa Rafael
Texto publicado na Revista Micael da Escola Waldorf Micael de São Paulo

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