Por que contar contos de fadas
Através dos contos de fada, principalmente aqueles folclóricos, pode-se aprender mais sobre os problemas interiores dos seres humanos e sobre as suas soluções do que qualquer outro tipo de estória, dentro de uma compreensão infantil. A criança já se encontra, naturalmente exposta à sociedade em que vive e enfrenta cada uma do seu modo e graças aos recursos interiores que lhe são próprios, os conflitos que surgem à sua frente, exatamente por ser a vida desconcertante e complexa, a criança precisa ter a possibilidade de fantasiar e aprender a lidar com esses desajustes, nesse turbilhão de sentimentos ela se encontra, muitas vezes perdida, falta uma ordenação não moralista, mas moral, para colocar ordem na casa interna e os contos permite isso, é com esse tipo de significado que trabalham os verdadeiros contos de fada.
Os personagens, quando verdadeiros e bem construídos, lidam
com essas frustrações e angústias de uma forma muito peculiar, mas através do
esforço, tenacidade e persistência conseguem alcançar o objetivo, em outras
palavras podem viver felizes para sempre. Nos contos de fada o bem é sempre BEM
e o mal é representado pelo MAL, que pode tomar forma de uma bruxa, de um
mentiroso, de um falso amigo, mas esses elementos são polares e diametralmente
opostos, o que já não acontece em muitos contos modernos, onde o bem se
camufla, se confunde com o mal e perdemos a noção de certo e de errado, para a
criança isso é devassado, pois a mensagem não se estabelece de uma forma clara
e nítida, tudo é muito nebuloso e não irá ser um bom auxílio para alguém que já
vive um conflito interno, esses elementos fantásticos que as estórias modernas
e muitas vezes inventadas pelos pais (com raras exceções), evitam, geralmente,
esses problemas existenciais, que são, justamente, as causas do conflito e a
fantasia da criança não consegue alcançar. A criança precisa e anseia para que
lhe sejam apresentadas sugestões de uma forma simbólica, na qual, por uma
espécie de reconhecimento ela possa sair da angústia em que vive, ou de algum
modo mostrar que alguém já viveu algo parecido e obteve sucesso e ela, criança,
certamente também terá: “não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe e
se não morreram estão vivos até hoje”. Os contos de fada têm a riqueza de
colocar os dilemas existenciais de uma forma breve e categórica, permitindo à
criança aprender o problema em sua forma mais essencial, a narrativa dos contos
simplifica todas as situações, por isso são tão especiais, principalmente
quando contados na hora de dormir, com a criança em sua própria cama, tendo ao
seu lado um bom narrador, preferencialmente o seu pai ou sua mãe, que se limita
a ler ou contar a estória, sem se preocupar em imitar a voz dos personagens e
nem em apresentar as figuras, deixando para a própria criança fantasiar isso à
vontade. Existem contos de fadas específicos para cada idade e também podemos
indicá-los para várias situações mais específicas, no geral os contos dos
Irmãos Grimm são bastante recomendados para as crianças de primeiro (contos
curtos) e segundo setênio (mais extensos) e os de Andersen assim como os contos
mitológicos para as crianças maiores.
# Recomendados:
Irmãos Grimm – Ed. Antroposófica, Ed. Rocco, Ed. Paulinas, Ed. LPM, Ed. Nova
Fronteira geralmente com o título: Contos de Grimm; Hans Cristian Andersen -
Ed. Record, Editorial Presença, Ed. Nova Fronteira, Abril Cultural geralmente
com o título – Contos de Andersen; Mitologia – O Livro Ilustrado dos Mitos (Ed.
Marco Zero) e o Livro Ilustrado da Mitologia (PubliFolha); Contos de Selma
Lagerlöf (Ed. Solares); O Mundo da Criança – 15 volumes (Ed. Delta)
Dr. José Carlos Neves Machado
Médico Escolar e Pediatra antroposófico da Casa Rafael
Texto publicado na Revista Micael da Escola Waldorf Micael de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
www.mediconaescola.com
Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar