Bem, certa noite antes de se deitar, a jovem Jamia implorou ao pai que comprasse para ela uma das tortas que estavam à venda no mercado da cidade e um dos vestidos rendados pendurados na janela do alfaiate. Seu pai prometeu sair antes dom amanhecer e cortar o dobro da quantidade de lenha costumeira para conseguir um dinheiro extra.
Assim, muito antes de o galo acordar, o lenhador se esgueirou para fora de casa e foi até a montanha. Cortou o dobro da quantidade usual de lenha, preparou-a bem, colocou-a nas costas e partiu de volta para casa.
Quando chegou à cabana, o lenhador encontrou a porta trancada. Ainda era cedo e sua filha estava dormindo. "Filha" ele chamou, "estou faminto e sedento depois de tanto trabalho. Por favor, deixe-me entrar". Jamia dormia tão profundamente que não despertou. O lenhador foi até o estábulo e adormeceu sobre uma pilha de feno. Algumas horas depois ele acordou e bateu novamente à porta. "Deixe-me entrar, pequena Jamia, gritou, "pois eu tenho que ir ao mercado e preciso comer e beber alguma coisa".
Mas a porta estava trancada como antes.
Sem perceber que sua filha saíra para visitar as amigas, o lenhador se esforçou para colocar a lenha nas costas e partiu rumo à cidade, esperando-a alcança-la antes do crepúsculo. Sentia muita fome e muita sede, mas continuou pensando na deliciosa torta e no vestido que traria para casa para sua amada filha.
Depois de mais ou menos uma hora caminhando, o lenhador pensou ter ouvido uma voz. Era a voz de uma jovem que o chamava, dizendo: "Largue a lenha e me siga, sua boca será recompensada. O lenhador deixou o grande feixe de lenha cair no chão e caminhou na direção da voz. Depois de algum tempo, percebeu que estava perdido. Chamou pela voz, mas não houve resposta. A noite estava chegando e o pobre velho caiu no chão e chorou.
Depois de algum tempo, ele recuperou o ânimo e tentou ser mais positivo. Para passar o tempo, decidiu contar para si mesmo os eventos daquele dia como se fosse um conto, pois estava frio demais para dormir. Quando chegou ao fim, ouviu a voz novamente. "O que está fazendo?", indagou ela. "Sinto fome e frio, então estou passando o tempo falando sozinho", respondeu o lenhador. A voz mandou que ele se levantasse e erguesse um pé. "Como assim?", ele perguntou. A voz repetiu as instruções: "Faça exatamente o que eu disser e sua boca será recompensada".
O lenhador levantou o pé direito e descobriu que estava pisando em alguma coisa, uma espécie de degrau invisível. Ele apalpou com a mão e encontrou outro degrau acima do primeiro. "Suba", ordenou a voz. Seguindo as ordens, o lenhador se viu subitamente transportado para um território deserto, coberto de de pedras azul-escuras. "Que lugar é esse?", indagou o lenhador. "O lugar no fim do tempo", replicou a voz. "Encha seus bolsos com estas pedras e prometa que toda quinta-feira contará esta história, a História de Mushkil Gusha, pois foi ele quem o salvou". O lenhador fez como lhe fora ordenado e, assim que o fez, viu-se diante da porta da sua própria casa. Sua filha, Jamia, estava esperando-o.
"Onde esteve, pai?", ela perguntou. Quando entraram, o lenhador contou sobre a escadaria invisível e depois esvaziou os bolsos. "Mas pai, pedrinhas não vão comprar comida", protestou Jamia. O velho pôs a cabeça entre as mãos, mas depois se lembrou da grande quantidade de lenha que havia cortado de manhã. Ele deixou as pedras perto da lareira e foi para a cama, pronto para madrugar.
No dia seguinte, ele saiu, encontrou facilmente a lenha e a levou ao mercado. O feixe foi vendido sem nenhuma dificuldade e pelo quádruplo do preço normal. O lenhador comprou o máximo de comida que pôde carregar e um vestido azul e rosa na loja do alfaiate.
Assim, durante uma semana inteira, a sorte do lenhador pareceu aumentar cada vez mais. A lenha era abundante na floresta e seu machado parecia mais afiado que de costume. O caminho para o vale não estava tão escorregadio quanto costumava ser e havia uma grande demanda por lenha bem cortada.
Uma semana depois de sua jornada pela escadaria invisível havia chegado a hora de recontar a História Mushkil Gusha de , mas sendo um mortal, o velho lenhador esqueceu seu dever e foi se deitar. Na noite seguinte, percebeu que a cabana estava iluminada por uma estranha luz vermelha. Logo compreendeu que o brilho das pedras que trouxera na semana anterior. "Estamos mais ricos do que nossos sonhos mais loucos!" , exclamou para a filha.
Nas semanas que se seguiram, o lenhador e Jamia venderam as jóias preciosas em cidades por todo oreino. Em um ou dois meses, estavam fabulosamente ricos, a ponto de construir um castelo em frente ao palácio onde morava o rei.
Quando perguntavam de onde viera, o lenhador simulava um sotaque pesado e explicava que viajara de um país distante do Oriente, onde ganhara uma fortuna vendendo sedas de Bokhara. Não demorou muito para que o humilde lenhador fosse convidado para visitar o palácio real. Usou luvas de cetim para esconder as mãos rudes e presenteou o rei com um grande pingente de diamante.
O tempo passou e Jamia se tornou amiga íntima da filha do rei, a princesa Nabila. As duas costumavam se banhar no riacho real. Certo dia, antes de mergulhar na água, a princesa removeu seu colar de ouro e o pendurou num galho baixo de uma árvore próxima. Ela se esqueceu dele e, naquela noite, procurou o colar por todos os cantos. Finalmente adormeceu e sonhou que a filha do lenhador havia roubado o seu colar.
No dia seguinte, a princesa contou o ocorrido para seu pai. Uma hora depois, a filha do lenhador foi colocada num orfanato e o velho foi lançado no mais profundo calabouço do reino. As semanas se passaram e ele foi tirado do calabouço e acorrentado em um poste. De vez em quando, alguém jogava comida podre nele ou ria de sua situação miserável.
Então, certa tarde, ouviu um homem dizendo à esposa que era tarde de quinta-feira. Subitamente ele se lembrou da História de Mushkil Gusha, o removedor de obstáculos. Logo em seguida, um homem generoso que passava por ali lhe jogou uma moeda. Ele perguntou ao homem se poderia pegar a moeda, atravessar a rua e comprar algumas tâmaras para os dois. O homem assim o fez e o lenhador recontou a História de Mushkil Gusha.
No dia seguinte, a princesa estava se banhando no rio quando viu seu colar de ouro através da água. Olhou para cima e compreendeu que era um reflexo, que o colar verdadeiro ainda estava pendurado no galho onde elea o deixara. Sem perder tempo, correu até seu pai e explicou seu erro. O rei deu ao lenhador o perdão real, compensou-o ricamente e livrou sua filha do terrível orfanato.
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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