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terça-feira, 23 de abril de 2013

FÁBULAS ITALIANAS - Ítalo Calvino (resenha de livro)




FÁBULAS ITALIANAS
Ítalo Calvino – tradução Nilson Moulin
São Paulo: Companhia das Letras, 1995 – quarta reimpressão – 454 páginas.


Agora que o livro acabou posso dizer que não foi uma alucinação, uma espécie de doença profissional. Tratou-se de uma confirmação de algo que já sabia desde o início, aquela única convicção que me arrastava para a viagem entre as fábulas. E penso que seja isso: as fábulas são verdadeiras. Ítalo Calvino (in, Fábulas Italianas – pg.14).


O escritor italiano Ítalo Calvino (1923-1985), recebeu como incumbência de seu editor uma antologia dos contos e fábulas italianas a exemplo das coletâneas alemã (Contos dos Irmãos Grimm) e francesa (Contos de Perrault). No tempo em que se dedicou a essa tarefa o autor percebe que além do seu valor simbólico e na riqueza das fantasias nele contida o conto possuía a capacidade de descrever em poucas palavras as situações mais bizarras e impraticáveis, traduzindo dessa forma econômica um grande potencial narrativo. Esse estilo acabou sendo incorporado em seu próprio estilo literário e em seus livros subsequentes (As cidades invisíveis, O visconde partido ao meio, O castelo dos destinos cruzados).
São oitenta e dois contos que exploram as lendas locais, as lembranças históricas, as narrativas ligadas à tradição oral, pacientemente resgatadas através do método de transcrição popular da própria boca do povo, Calvino sustenta que “a novela vale por aquilo que nela tece e volta a tecer quem a reproduz, por aquele tanto de novo que a ela se agrega ao passar de boca em boca”, decidindo interferir na confecção dos contos suavizando a carga de sensualidade que aparecia em muitos deles, pensando no público infantil que poderia ser beneficiado pela leitura dessas fábulas, afinal como era costume da tradição oral os contos não eram necessariamente destinados às crianças, a chamada narrativa de maravilhas era a expressão plena das necessidades poéticas e sentimentos de truculência, torpeza e toda sorte de perversidades fazem parte dessas estórias.
Os próprios títulos evocam essa singularidade (A menina vendida com as peras, O menino no saco, O braço de morto, Corcunda, manca e de pescoço curto,...), a picardia, a leveza e o humor são facilmente percebidos o que tornam esses contos tão particulares e apaixonantes, aproximando a nossa alma latina daquele pedaço de mundo onde temos tantas raízes culturais comuns, evocando em nós uma atmosfera conhecida e caseira (Jesus e São Pedro na Sicília, O filho do mercador de Milão, Chico Pedroso, O ofício de Francisquinho,...).
O próprio autor registra a sua experiência após esse trabalho: “Durante dois anos vivi entre bosques e palácios encantados, com o problema de como observar melhor o rosto da bela desconhecida que se deita todas as noites ao lado do belo cavaleiro, ou na dúvida entre usar manto que torna invisível ou a patinha de formiga, a pena de águia e a unha de leão que servem para transformar pessoas em animais. E nesses dois anos, pouco a pouco, o mundo ao meu redor ia se adaptando àquele clima, àquela lógica, todo fato se prestava a ser interpretado e resolvido em termos de metamorfoses e encantamentos”. Justificando o fato que perpetua a procura desse gênero desde sempre os contos, as fábulas, as aventuras maravilhosas nos tornam mais humanos e possibilitam a liberdade e ao triunfo através de conquistas de valores ético morais estruturantes e, absolutamente necessários.

José Carlos Neves Machado

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