Benjamim
e a Superação
Existe uma estória que
frequentemente é lembrada e contada às crianças especialmente na época de
Natal:
Uma família muito pobre vivia com dificuldades
e possuía um único filho Benjamim que como todas as crianças, gostava de
brincar e se divertir com seus amigos, uma vez seu pai lhe deu uma tarefa
importante, que limpasse e deixasse em ordem o pequeno estábulo que ficava nos
fundos de sua casa, o lugar estava muito sujo e precisava de uma boa limpeza e
arrumação. Muito a contragosto o menino se pôs a trabalhar, mal havia começado
o serviço, os amigos o convidaram a brincar, o menino não hesitou e abandou a
tarefa sem arrependimento algum, deixando de lado os afazeres para ir se
divertir com as outras crianças. À noite quando foi dormir uma voz o acordou e
lhe disse: “Benjamim! Aquilo não é um trabalho digno de um rei”. O menino
acordou assustado e com muito custo voltou a dormir sem entender o que
significava aquela mensagem. No dia seguinte resolveu terminar o que havia começado
e retornou à limpeza que havia iniciado no dia anterior, mas logo em seguida
deixou tudo de lado e saiu para se divertir com seus amigos, ao anoitecer caiu
exausto em sua cama e adormeceu profundamente até ser novamente despertado pela
mesma voz: “Benjamim! Aquilo não é um trabalho digno de um rei”. O menino ficou
mais inquieto do que da última vez e mal esperando o dia amanhecer encarou com
afinco e coragem a tarefa adiada, novamente seus amigos apareceram e insistiram
para que ele os acompanhasse, mas desta vez a determinação de Benjamim foi mais
forte e recusou acompanhá-los dizendo que tinha um trabalho para terminar e após
isso, exaurido, mas realizado, constatou com admiração o resultado de seu
esforço, o lugar estava finalmente limpo e organizado, o chão varrido, a
sujeira e poeira removidas, agora sim poderia dormir em paz com o coração
tranquilo; naquela noite não foi uma voz que o despertou, mas uma luz muito
brilhante invadiu todo seu pequeno quarto despertando e impedindo-o de
continuar dormindo, o menino aproximou-se da janela e reparou que era do
estábulo que vinha aquela luz, Benjamim foi até lá e deparou com uma cena que
jamais poderia imaginar: uma mulher segurando um menino que acabara de nascer,
envolto em um manto e que parecia estar iluminado irradiando luz em todas as
direções. Compreendeu então a importância de sua tarefa e do que aquela voz se
referia, o lugar precisava ser preparado para o rei que iria chegar. Ali
naquele estábulo que foi limpo por ele nasceu o menino Jesus.
Esse conto exalta aquilo que
gostaríamos de transmitir principalmente às crianças, ou seja, as coisas devem
ser bem feitas, as tarefas devem ser realizadas com determinação e empenho objetivando
com isso o melhor resultado possível, narrativas e contos, como esse, tem essa
finalidade, possuem em seu contexto uma mensagem simples, cujo ensinamento está
envolto no desencadeamento da estória fazendo com que nossa alma também se
motive para que algo possa a ecoar dentro de nós. Desse modo, ao se contar essa
estória às crianças tentamos exortar nelas que o trabalho realizado com
presteza e determinação, mesmo à custa de sacrifício (nesse caso deixar de lado
as brincadeiras com os amigos dedicando-se com afinco ao objetivo), terá um
final feliz e compensador (quando pode ver que o lugar limpo por ele com esmero,
foi o lugar onde uma criança nasceu). E o conto reflete exatamente isso, ou
seja, ações geram consequências.
Se a nossa alma realmente vibra e
acolhe um ensinamento como esse, passado o impacto momentâneo da emoção que
essa narrativa evoca, qual seria nossa atitude frente às tarefas do nosso
dia-a-dia, onde, invariavelmente, existem muitas solicitações insistentes que nos
convidam a mudar nossos planos iniciais e fazermos coisas mais interessantes
àquelas que nos propusemos anteriormente. Como nossa intencionalidade é sujeita
as mais variáveis e sutis manifestações que nos afasta à realização de algo que
havíamos nos comprometido a fazer. Deixamos isso de lado, talvez até ancorados
nessa mesma temática que o conto evidencia: “é preciso fazer bem-feito”, mas se
não conseguimos isso então é melhor que não seja feito, ou seja: “para fazer
algo pela metade é melhor que nem seja feito”, essa também pode ser uma cômoda
justificativa para esse adiamento. Acomodamos nossa vontade nesse patamar e
resolvemos esse dilema acreditando que, certamente existirão pessoas mais aptas
para esses trabalhos, acreditando que nosso trabalho se encontre em outra
esfera, ou ainda com resignação acreditamos que viemos ao mundo para outro tipo
de tarefas, nos isentando desse trabalho. Talvez isso seja um engano.
Certamente habilidades existem e algumas pessoas as possuem desde que nasceram
e para determinados indivíduos, algo que nos é muito custoso é absolutamente
natural para eles, muitas vezes com isso, nos despertam inveja e revolta. Mas,
voltando às nossas tarefas, quem deveria realiza-las a não sermos nós mesmos? Mesmo
com imperfeições e dificuldades, porque muitas vezes a adiamos sob falsos
pretextos? Quem deve responder pela resolução dos problemas que surgem à nossa
frente e que precisam ser solucionados pelo nosso esforço a não ser através do
nosso próprio e específico sacrifício? Talvez fulano resolvesse isso com uma
grande facilidade e sicrano nem se abalaria, mas o nosso maior dilema parece
ser nessa questão do enfrentamento, ora ouvindo os convites para brincar ora se
julgando tão incapaz que jamais teríamos condição de realizar, então com
covardia desistimos antes de tentar e mais uma vez, por responsabilidade
absolutamente individual, essa tarefa também continua não tendo a dignidade
necessária pela simples razão de que precisamos nos esforçar para realiza-la e
mais ainda para que seja da melhor maneira possível. Tornando nossa
determinação mais fortalecida e nossa individualidade mais comprometida e
fortalecida. Evidenciando a realeza que se observa naquele que cumpre a sua
missão, exortando o Benjamim que existe dentro de cada um de nós e superar os
desafios que surgem à nossa frente.
Devemos todos nós, resgatar o
cumprimento de nossas funções, de nos comprometermos com aquilo que
inicialmente é de nossa total responsabilidade, esse é o maior presente que
podemos oferecer a nós mesmos, com isso nossa individualidade se fortalece
dominando a inércia e as forças adversas que normalmente nos confundem e nos
afastam das concretizações de nossas tarefas.
Desejo a todos vocês, meus
queridos amigos que dentro de cada um esse pequeno Benjamim vigore e que tenham
um Natal muito feliz e harmonioso e que no próximo ano as metas e os projetos
tenham suas conclusões sonhadas, principalmente porque cada um de nós cumpriu
sua tarefa com dignidade e empenho.
Abraços fraternos. Com carinho.
José Carlos Machado.
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Dr José Carlos Machado
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