CLARICE, uma biografia.
Título Original: Why this world.
Benjamin Moser – trad. José Geraldo Couto.
Ed. Cosac Naify – São Paulo, 2009 – 648 pág.
“Há tantos anos me
perdi de vista que hesito procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Eu
tenho medo de ser eu”.
Não
se trata de mais uma biografia tradicional o autor foi buscar na sua história
de vida e em relatos de muitos conhecidos que conviveram com Clarice e ajudaram
a revelar um pouco da vida dessa escritora que se desculpava ao dizer que “não
gostava de conversar”.
O
livro traz a trajetória da estrangeira que nasceu longe daqui e chegou muito
pequena no Brasil adotando o país como sua pátria. Assim como muitos de seus
conterrâneos russos, seus pais emigraram, fugindo da revolução e da guerra civil
que dizimou um grande número de judeus, sua mãe, Mania, agonizou de sífilis em
uma época que a penicilina ainda não existia e morreu muito nova após o
nascimento de Clarice, que não contraiu a doença, mas de cuja morte sempre
tentou uma espécie de redenção, um desejo de “salvar sua mãe”, ou, em suas
próprias palavras: “Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante
espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença.
Então fui deliberadamente criada: com amor e com esperança. Só que não curei
minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão
determinada e eu falhei.”
O
autor se debruça sobre a vida de Clarice (1920 – 1977) relatando fatos
históricos anteriores ao seu nascimento, da aldeia de Tchechelnik na Ucrânia até
o Brasil, a vida de seus pais, a emigração para este país do qual ela fazia
tanta questão de pertencer. A escritora sempre teve toda uma mitologia em torno
de sua vida e de sua obra, em suas próprias palavras: “Sou tão misteriosa que
não me entendo”.
A
esses desafios Moser vai aos poucos desvendando em seu livro revelando a menina
nascida Chaya que se transforma em uma sensível e enigmática Clarice, escritora
fascinante, de ar indecifrável e inquietante; cujos personagens revelam um
pouco do desconhecido em torno de sua vida e dela própria. Muito reservada,
pouco deixava escapar sobre sua intimidade, aquilo que muitos consideram como o
aspecto mais notável de sua personalidade, sua aura de mistério, escapa a toda
sua descrição, ou como escreveu Carlos Drummond de Andrade quando ela morreu:
“Veio de um mistério, partiu para outro”.
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Dr José Carlos Machado
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