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sexta-feira, 19 de abril de 2013

CLARICE (resenha de livro)

CLARICE, uma biografia.
Título Original: Why this world.
Benjamin Moser – trad. José Geraldo Couto.
Ed. Cosac Naify – São Paulo, 2009 – 648 pág.

“Há tantos anos me perdi de vista que hesito procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Eu tenho medo de ser eu”.

Não se trata de mais uma biografia tradicional o autor foi buscar na sua história de vida e em relatos de muitos conhecidos que conviveram com Clarice e ajudaram a revelar um pouco da vida dessa escritora que se desculpava ao dizer que “não gostava de conversar”.
O livro traz a trajetória da estrangeira que nasceu longe daqui e chegou muito pequena no Brasil adotando o país como sua pátria. Assim como muitos de seus conterrâneos russos, seus pais emigraram, fugindo da revolução e da guerra civil que dizimou um grande número de judeus, sua mãe, Mania, agonizou de sífilis em uma época que a penicilina ainda não existia e morreu muito nova após o nascimento de Clarice, que não contraiu a doença, mas de cuja morte sempre tentou uma espécie de redenção, um desejo de “salvar sua mãe”, ou, em suas próprias palavras: “Minha mãe já estava doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um filho curava uma mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e com esperança. Só que não curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: fizeram-me para uma missão determinada e eu falhei.”
O autor se debruça sobre a vida de Clarice (1920 – 1977) relatando fatos históricos anteriores ao seu nascimento, da aldeia de Tchechelnik na Ucrânia até o Brasil, a vida de seus pais, a emigração para este país do qual ela fazia tanta questão de pertencer. A escritora sempre teve toda uma mitologia em torno de sua vida e de sua obra, em suas próprias palavras: “Sou tão misteriosa que não me entendo”.
A esses desafios Moser vai aos poucos desvendando em seu livro revelando a menina nascida Chaya que se transforma em uma sensível e enigmática Clarice, escritora fascinante, de ar indecifrável e inquietante; cujos personagens revelam um pouco do desconhecido em torno de sua vida e dela própria. Muito reservada, pouco deixava escapar sobre sua intimidade, aquilo que muitos consideram como o aspecto mais notável de sua personalidade, sua aura de mistério, escapa a toda sua descrição, ou como escreveu Carlos Drummond de Andrade quando ela morreu: “Veio de um mistério, partiu para outro”.

 

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