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domingo, 28 de abril de 2013

ENTREVISTA - LIMITES





1.) Qual a importância do limite na educação do filho? Qual a consequência de crescer sem saber lidar com a frustração?
Não indicar para a criança até onde ela pode ir ou não, pode ser considerado tão nefasto quanto privá-la de alimento, tal é o prejuízo que a falta dessa demarcação clara e nítida significa para a criança. A criança que não aprende determinados valores dentro de casa (e a questão de limite é um daqueles fundamentais) e é muito importante quando experimenta isso com a família; caso contrário terá  a falsa impressão que o mundo foi feito para se adaptar às suas vontades, é o reizinho/princesinha mandão(ona) que acredita que pode tudo e sua vontade é mais importante que o resto.





2.) O senhor considera que existe uma inversão de valores atualmente, ou seja, a criança e o adolescente passaram a ser o centro da família e, como consequência, as fronteiras do respeito para com os mais velhos  e para com o outro, de uma maneira geral, foram perdidas?
 É comum nas minhas palestras algum saudosista reclamar que quando criança bastava o olhar do pai para que ele entendesse o que devia fazer e que hoje não tem a mesma sorte com os próprios filhos, então se queixa de que algo foi perdido; então também pergunto: - Mudou o mundo, ou mudamos nós? Na verdade ambos sofreram mudanças, a relação com os pais, atualmente, está mais tranquila e acessível, o que é muito bom, mas os papéis, algumas vezes parecem estar trocados: quem é o filho e quem é o pai? Talvez no tempo em que o pai bastava simplesmente olhar, a sua postura era digna e firme o suficiente que não precisaria de maiores sustentações, como é comum observarmos nos dias de hoje, onde os pais são conduzidos pelos filhos e tem um grande receio em frustá-los e deixam de estabelecer uma fronteira/limite muito simples e significativa, mostrando ao filho, principalmente com suas atitudes: "até aqui você vai, daqui para frente não!", ou seja, estabelecer um limite claro e que a criança entenda. 





3.) O exemplo dos pais é fundamental para ensinar limites? Em outras palavras, o discurso deve ser coerente com a ação? Como os pais podem equilibrar esse ponto tão difícil?
Quando falamos em limite para os filhos também deveríamos olhar para o nosso próprio umbigo, as crianças pequenas que idolatram quase que cegamente os pais, ainda não tem muitos argumentos para contestá-los e, geralmente aceitam as decisões dos pais, existe uma reverência amorosa que permite isso, mas elas crescem e começam a perceber que a postura dos pais é algo que eu chamo de "gelatiforme", então começam a testá-los, alguns mais, outros menos, mas acabam conseguindo o que querem. Muitos pais exigem coisas dos filhos e ameaçam com algumas punições que eles mesmo não tem capacidade de sustentar, as crianças sabem disso, na maioria das vezes, e acaba ficando um jogo de faz-de-conta: você finge que manda e eu finjo que obedeço e o desequilíbrio acontece e se perpetua até. É preciso que os pais pensem sobre isso, redimensionar aquilo que dizem à criança, mas aguentar também o que virá da parte dela com a frustração. Essa atitude precisa ser firme, não com brutalidade e mostrar para a criança que nem tudo é possível.




4.) Existem distúrbios psiquiátricos que levam a criança ou o adolescente a não ter limites? Quando desconfiar que pode haver um transtorno, uma patologia, por trás de uma desobediência contumaz e que pode ser um indicativo de procurar ajuda profissional?
A psiquiatria vem se dedicando a entender quando a desobediência passa dos limites do aceitável. Existe uma classificação de transtorno mental denominada Transtorno Opositivo Desafiador (TOD) cuja característica se manifesta na tentativa de desafiar as regras e os limites apresentados, como o próprio nome sugere, a criança se opõe às situações de controle e de enquadramento, reagindo e questionando-as. Outra classificação é o Transtorno de Conduta, onde as crianças não ficam somente na oposição e passam a exercer a ação de fato, ou seja "quebram" as regras, reagindo com mentiras ou ações mais exageradas, além do plano verbal (agressões, ataques de fúria, destruição...), alguns estudos sugerem que, especificamente, esse quadro na infância poderá se evidenciar na vida adulta em um quadro de psicopatia. Não existem estudos prospectivos a esse respeito, ou seja, não acompanharam crianças com essas características até a idade adulta, mas em  muitos psicopatas adultos foi observado em sua retrospectiva que apresentaram quando crianças um evidente descontrole em situações que se depararam apresentando nessas ocasiões total ou  grande dificuldade em aceitar regres e limites. 
Quadros de crianças com hiperatividade, tão comuns atualmente (5% de prevalência), devem ser observados como sendo uma dificuldade da criança perceber e se concentrar no que está passando à sua volta, então muitas vezes nem percebem os limites que são pedidos. Nos casos dos transtornos do espectro autista, a criança simplesmente, não reconhece as "pistas sociais" que indicam o que está ao seu redor, então suas ações ficam como que desconectadas com o que se processa.  Os transtornos do espectro da psicose podem aparentar "falta de limite", no entanto, diante de uma condição patológica, onde a criança está desorganizada no seu pensamento, não é incomum que ela se torne desobediente.
Em geral, quando a dificuldade de estabelecer limites e regras vai muito além do suportável é importante que os cuidadores procurem ajuda profissional neste sentido. Existem várias técnicas terapêuticas para isso (orientação de pais, psicoterapia individual e familiar, etc) e muitas vezes os psiquiatras especializados em infância e adolescência devem ser consultados na tentativa de excluir transtornos mentais relacionados, nas escolas que disponibilizam do acompanhamento de um médico escolar, esse profissional pode observar essas características e fazer as indicações pertinentes.




 5.) O que caracteriza a faixa dos primeiros sete anos em termos de desenvolvimento e comportamento?
 No primeiro setênio de vida, a criança passa por transformações importantes: desde o parto e o corte do cordão umbilical (que determina o primeiro limite de vida, quando se desvencilha fisicamente do corpo materno), depois da transição de aleitamento materno, a introdução dos alimentos sólidos, a descoberta do andar ereto e a conquista do espaço físico ela vai experimentando uma sensação de liberdade e de conquistar o mundo ao seu redor; isso é muito bonito de se observar, mas ela também precisa ser protegida e resguardada do mundo externo, isso nem sempre a agrada, porque é uma fase onde ela está voltada somente para si mesma e, como geralmente, não tem muito poder de argumentação, reage às contrariedades com choro e agressividade, mas espera também uma consequência, que muitas vezes não acontece e elas acreditam que é assim que as coisas funcionam: conseguem o que querem com choro, brigando ou batendo, até que alguém faça diferente e dê um limite, então ela reagirá do modo costumeiro mas sem o mesmo resultado; em determinadas situações quando essa polaridade é muito brusca, por exemplo "em casa tudo é permitido", mas na escolinha experimenta algo diferente, a professora impõe limites e não pode fazer tudo o que quer, isso pode ocasionar problemas em seu comportamento, principalmente quando esse antagonismo não é desfeito, "em casa é uma coisa e na escola é outra coisa", a criança não entende o mundo adulto, que é caótico e contraditório, então é preciso deixar claro para ela o que pode e o que não se pode fazer, não como uma regra dura, mas as consequências precisam ser experimentadas e não poupá-las sempre de tudo, isso sim é muito prejudicial ao seu próprio desenvolvimento bio-psico-social. 


6.) Quais os maiores desafios que os pais têm em relação a impor limites?
Penso que é quando os pais acreditam que podem continuar sendo bons pais mesmo dizendo não! Winnicott dizia com muita sabedoria que a mãe bastaria ser  "suficientemente boa", e isso já é tão difícil, então não é preciso complicar mais; não precisamos agradar sempre aos nossos filhos, oferecendo coisas para suprir certa culpa que nos permeia. Eu costumo dizer aos pais que "Ser pai é saber se tornar desnecessário", isso incomoda muitos porque acham que com isso os filhos não precisam mais deles, partem para um valor absoluto enquanto o caso se encontra no relativo, mas é preciso realmente que acreditemos que os filhos devem ser conduzidos ao mundo, da melhor forma que possamos orientá-los, devemos fazê-lo, isso significa que vão experimentar ouvir de nós muitas vezes a negativa, o limite, a frustração e, certamente, irão nos odiar por isso e esse é o maior desafio acreditar que com honestidade e através de amor fizemos essa condução da maneira mais digna e correta que estava ao nosso alcance, uma direção suficientemente boa.


7.) Como o filho costuma testar a paciência dos pais?
 Nesses 25 anos atendendo crianças e trabalhando com pais e professores, já vi muita coisa, lembro de uma história que ilustra bem isso: Fazia muito frio e o pai colocava o casaco na filha que não gostava e pedia outro, ele experimentou alguns, mas após um tempo desistiu e passou a vez para a mãe que experimentou outra tática, mas sem sucesso, o tempo passava e a criança precisava ir para a escola, os pais tinham de trabalhar, enfim era preciso andar logo com aquilo e no final houve a ameaça: "ou você coloca esse casaco ou vai apanhar!" A criança aceitou colocar o casaco, mas não o primeiro que lhe apresentaram e sim um outro que ela fazia questão e que o pai já havia oferecido. Quando chegam na escola os pais orgulhosos da filha contam como ela é determinada, a criança ouve isso tudo e assim que pode joga para longe o casaco e sai correndo na chuva...

8.) Qual a melhor linguagem e a técnica adequada à idade para se fazer entender? Como sensibilizar o filho?
 A criança entende a consequência de seus atos e espera isso quando os pratica, acontece que ela também aprende com muita astúcia a manipular o público em redor, então sabe que para conseguir alguma coisa do pai precisa disso e daquilo e da mãe de outro modo, isso é normal e todos são assim, acontece que existem situações que os pais tem posições muito divergentes e a criança percebendo isso utiliza essa "rachadura" a seu favor, é como se o pai falasse alemão, a mãe italiano e a criança só entendesse em japonês, precisa ter uma mesma linguagem, quando um dos pais ficar perdido, o outro o ajuda e não o contradiz, principalmente na frente da criança, então depois os dois, à sós, podem falar sobre isso e discutir qual a melhor maneira de agir frente aquela situação, em outras palavras, a dupla (pai/mãe) continua coesa. Um bom exemplo é a criança que não come e o pai não se importa muito com isso, mas a mãe fica muito preocupada e insiste nesse ponto suportando os gracejos e a pouca cooperação do pai, a criança que já não quer comer tem no pai um aliado e essa divisão acaba atrapalhando a relação desse trio com alguns desfechos desagradáveis e a criança dominando a situação; não importa quem está certo, mas o casal se distancia, se afasta muito um do outro e a criança percebe e domina a cena.



9.) Como agir quando o filho é muito rebelde e nada funciona? "Castigar" ou impingir sanções é recomendável? Se sim, quais o senhor sugere?

 Gosto de apresentar histórias porque elas falam de um outro modo trazendo uma imagem da situação e essa realmente aconteceu: "Uma vez uma criança estava jogando bola dentro da sala, era um menino muito voluntarioso e que tinha muita dificuldade em aceitar limites, principalmente de seus pais, o pai, inclusive era muito impotente nesse aspecto e o filho sabia disso, testava a paciência de todos; estávamos nós dois na sala e eu disse a ele que ali não poderia jogar bola, ele nem prestou atenção ao que falei e continuou jogando, tirei a bola e falei que daria a bola quando saíssemos dali e propus outras atividades, ele foi muito rápido, pegou a bola e chutou-a forte em direção à janela quebrando-a em mil pedaços e depois olhou para mim esperando minha reação provavelmente  imaginando a mesma resposta que experimentava com o pai. O caminho que pensei em fazer foi o de reconstrução e sem dizer uma palavra peguei a mão dele e o levei até a vassoura e a pá, varri os cacos do chão, pois considerei perigoso para uma criança tão pequena manipular o vidro quebrado, poderia se machucar (devia ter uns 5 anos), pedi que segurasse a pá, mandei-o pegar o latão de lixo que ele trouxe arrastando-o até lá, mas queria sair dali, precisando que eu o segurasse pela mão dizendo que ainda teríamos muito trabalho pela frente; ficou comigo quando telefonei para a vidraçaria e encomendei outro vidro, que também medimos junto à janela quebrada e no dia seguinte pedi ao pai que fosse buscá-lo mais cedo e que ele acompanhasse todo o processo de recolocação do vidro, inclusive ajudando com a massa. Logicamente que isso não resolveu completamente a grande falta de controle e dificuldade de limite que o garoto tinha, mas acredito que pela primeira vez ele experimentou algo desse tipo, não foi preciso gritar, nem bater, nem ameaçar e o mais engraçado é que a cobiçada bola ficou do lado de fora do jardim, esquecida, enquanto o menino ficou entretido com essa reconstrução. Encorajei os pais que experimentassem outras ações semelhantes no dia a dia.

10.) O que caracteriza a faixa etária dos 07 aos 14 anos em termos de desenvolvimento e comportamento?
A criança já tem um grau de argumentação maior e exige dos pais uma postura mais firme ainda, então aquela criança que já experimentou certa firmeza anterior sabe com quem está lidando, mas aquela que continua sem saber qual o seu papel, a partir do segundo setênio adquire novas e mais robustas justificativas para conseguir aquilo que quer, já não fazem a mesma birra de antes, com choro e encenações, mas continuam testando a paciência e pedindo dos pais um controle, uma direção, uma rota, porque estão perdidas e reconhecem os pais perdidos também o que é péssimo para essas crianças.  



11.) Quais os maiores desafios que os pais têm em relação a impor limites nessa fase de vida? 
Nessa fase algumas situações também se sobrepõem, por exemplo, os argumentos e a própria vida social da criança também se transforma e novas combinações precisam ser re-adequadas, alguns ajustes, portanto, entre os pais e os filhos devem ser avaliados, isso acontece nos acordos em relação aos horários e às tarefas que a criança tem que cumprir e na vida dentro de casa uma questão pertinente é deixar claro qual o papel da criança dentro daquele núcleo familiar? Quais são as suas obrigações, em que ela, criança, colabora com a família? É responsável pelas suas coisas (roupas, brinquedos, material da escola, jogos, pertences)? Ajuda em que na rotina da casa (arruma a sua cama, tira os pratos de cima da mesa, cuida dos bichos da casa, ajuda na arrumação da mesa, lava a louça)? 
Colocar essas tarefas, mostrar que a família também conta com sua colaboração, auxilia muito nessa tarefa de deixar os limites mais definidos para a criança.

12.) Como o filho costuma testar a paciência dos pais?
Novamente sempre que uma situação se torna desconfortável é bem provável que a criança se rebele e teste a paciência dos pais se recusando, por exemplo a colaborar com as tarefas da casa, que a partir dessa idade deveria fazer parte também de suas obrigações, mas cabe aos pais que tomem uma atitude firme perante essa resposta, ou seja, se para essa família é importante que todos colaborem, as crianças também deveriam ter sua participação, evidentemente dentro de suas limitações, não se trata de uma apologia ao trabalho infantil, mas arrumar a própria roupa, cuidar de seus pertences (incluindo brinquedos e material da escola), colocar o prato e a xícara na pia da cozinha ou ajudar na preparação da mesa, isso ajuda a criança a entender que faz parte de um contexto familiar e que sua participação é necessária, mas isso precisa ser cobrado pelos adultos.


13.) Qual a melhor linguagem e a técnica adequada nessa idade para se fazer entender? Como sensibilizar o filho?
Muitas vezes perdemos muita força quando confrontamos com a criança e ficamos "brigando" em impor as nossas decisões, seria mais fácil se tivéssemos a tranquilidade necessária para colocar claramente a nossa decisão e não perder um tempo precioso com muita verborragia, que, na imensa maioria das vezes, serve somente para convencer a nós mesmos que estamos certos.
A sensibilização não deveria ser motivada pela culpa, ou fazendo a criança acreditar que cometeu um grande  erro, mas que, simplesmente, existe uma tarefa e que precisa ser feita por ela e a expectativa é que seja realizada

14.) Como agir quando o filho é muito rebelde e nada funciona? "Castigar" ou impingir sanções é recomendável? Se sim, quais o senhor sugere?
Quando as regras são quebradas é preciso que alguma coisa também seja "quebrada", quando isso fica claro e evidente para a criança ela entende, agora fica muito difícil entender quando as respostas são confusas e cada vez a criança experimenta uma sensação, às vezes com força, outras com passividade, então não se compromete, não se envolve...
Os adultos muitas vezes prometem castigos e punições que estão longe de aplicar e as crianças entendendo essa dificuldade, utilizam essa situação para fazerem exatamente o que querem, sem preocuparem-se com algum tipo de retaliação, então não se comprometem e esse jogo se mantém, como se os pais dissessem para o filho: "finge que obedece e eu finjo que mando em você".

15.) O que caracteriza a faixa etária dos 14 aos 21 anos em termos de desenvolvimento e comportamento na sua opinião? 
O jovem nessa faixa etária experimenta três grandes perdas ou lutos psíquicos: primeiro é a constatação de que já não é mais um menino(a), mas ainda não é um homem(mulher), há um luto do seu corpo infantil,  com as transformações físicas, hormonais e sexuais que o jovem experimenta e parece que não cabe mais naquele corpo; outro luto é a representação da imagem dos pais, pois constatam que aquela imagem idealizada não é verdadeira, "os ídolos tem os pés de barro", por assim dizer, isso também se constitui em uma perda, em uma nova elaboração da imagem arquetípica dos pais, descobrem que eles tem defeitos, mentem, falam coisas e na hora de agir, agem de outro modo, muitos confrontos surgem então a partir dessa constatação e o terceiro luto é a incógnita de sua própria identidade, afinal o que o futuro lhes reserva? Para onde irei, o que vou fazer da vida? Esses questionamentos permeiam a cabeça e o imaginário desses jovens nessa faixa etária.
Essas questões trazem evidente desconforto e movimentam um novo rearranjo na dinâmica familiar.

16.) E agora, quais os maiores desafios que os pais têm em relação a impor limites a esses jovens? 
O jovem questiona os pais e muitos tendem a se isolar, o que é comum, rompem com os padrões familiares para reconstruir a sua própria identidade, os pais se esquecem que devem ter agido exatamente assim nessa fase de vida. Algumas pessoas definem essa fase como "aborrecente", o que é, a meu ver, uma definição equivocada, porque o adolescente se encontra em uma fase de transição, muito difícil inclusive e o grupo de amigos tem uma influência muito grande e não seria realmente producente que a família também o afaste, talvez uma atitude mais coerente seja permanecer próximo, mostrando disposição em ajudá-lo a superar suas dificuldades. Definir o jovem como simplesmente "uma pessoa que não sabe o que quer" e demonstrar  impaciência e descaso pelo que está passando, não parece ser a melhor opção ou ter alguma chance maior de aproximá-lo e fazê-lo confidente de seus problemas, isso geralmente os afasta mais ainda.



 17.) Como o filho costuma testar a paciência dos pais?
Depois de muitos anos de convívio é natural que os filhos saibam "apertar adequadamente os botões dos pais", ou seja, vão adquirindo um conhecimento do que pode ou não pode ser feito e também o que os irrita ou não e como parecem ser hábeis nessa função...cabe aos pais não caírem nessa armadilha.

18.) Qual a melhor linguagem e a técnica adequada à idade para se fazer entender? Como perceber que o filho está crescendo e já não é mais criança?
Lembro de uma história que  ilustra bem essa ideia da dificuldade que os pais tem em adiar que os seus filhotes saiam do ninho: 
"Uma mamãe pardal estava preocupada porque os filhotes ainda não haviam saído do ninho e resolveu ensiná-los a voar, então levou-os para a floresta e lhes disse: - Hoje vocês aprenderam a voar, já passou da hora de saírem do ninho e precisam agora se virar sozinhos! , - Mas e se os caçadores nos virem?, disse um deles; - Vocês terão tempo de se esconderem. Disse a mãe. - Mas e se estiverem com uma flecha no arco, irão nos acertar!  Disse outro filhote; - Mesmo assim, vocês terão chance de se esconder até que ele faça a mira e acerte vocês. - Mas e se tiverem uma pedra escondida na mão?, Falou o terceiro filhote. - Vejo que vocês já são bem sabidos! E foi embora".


19.) Como saber quando o filho tem condições de enfrentar o mundo fora de casa? O que o senhor sugere?
Ser adulto, se transformar em alguém que seja responsável por suas atitudes é algo que o jovem deve aprender dentro de casa, suas ações tem uma consequência  social, tem um peso moral, agir no mundo significa que é preciso respeitar as regras e os valores, ensinar que os nossos limites terminam onde começam os limites dos outros, também significa que as posições e as opiniões dos outros, por mais incompatíveis que sejam comparadas com as nossas, devem ser respeitadas e ter o mesmo peso, esses valores são experimentados dentro de casa.
É comum hoje observarmos certo adiamento nas tarefas que são esperadas que os adultos exerçam, então é comum que o jovem, mesmo depois de formado e trabalhando, continue morando na casa de seus pais, continuando a usufruir de todos os benefícios que essa situação propicia, mas sem querer (ou ser cobrado), do ônus que isso requer, em outras palavras, qual o motivo dessa prorrogação em fazer parte da vida adulta? Muitos moram na casa dos pais objetivando economizar dinheiro para adquirir bens, outros se acomodam na vida de "filhinhos desprotegidos" adiando o voo para fora do ninho seguro e protetor e alguns se acovardam diante das dificuldades que a vida adulta exige e continuam infantilizados.
 Aos pais cabe a tarefa, muitas vezes incômoda e desagradável de mostrar o caminho da porta de casa em direção ao mundo, não expulsando-os, mas encorajando-os a seguir adiante para que conquistem o seu espaço fora da casa de seus pais, a porta estará aberta, mas é preciso que seja demonstrado a esse jovem que é preciso ir em busca de sua missão, de seu trabalho, incentivar esse acovardamento projetando nos filhos o medo de que fracassem fora da tutela dos pais é tão nefasto como privá-los de andar com os seus próprios pés, esse é o maior desafio dos pais: encorajar e acreditar nas tentativas de seus filhos no mundo e também de tentar entender suas escolhas e, mesmo não concordando com elas, respeitá-las. Essa é a  tarefa e o grande desafio dos pais.




José Carlos Neves Machado - médico escolar.








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Dr José Carlos Machado
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