1.) De onde vem esse conceito de MEDICINA ESCOLAR?
Desde a primeira escola com base na pedagogia Waldorf, criada por Rudolf Steiner em Stuttgart em 1919, um médico (Eugen Kolisko - 1893 - 1939), já fazia parte do grupo docente. A ideia de MEDICINA ESCOLAR ou PEDAGÓGICA, como sugerem alguns, esta, justamente nessa cooperação do médico, nesse trabalho conjunto: médico/pedagógico, que pode, através de sua ótica médica, observar e contribuir com suas indicações para a criança e para a família, estabelecendo com o professor as estratégias necessárias ou possíveis para que aquela criança supere determinados problemas que atrapalham e impeçam seu pleno desenvolvimento.
2.) Por que um médico na escola?
O ambiente escolar na vida da criança é um lugar onde ela convive por muito tempo e onde, logicamente, surgem uma série de conflitos; a criança sai de uma socialização doméstica (pai/mãe/família)e vai, cada vez mais cedo, para uma socialização mais coletiva (escola), em um novo ambiente em que precisa lidar com suas próprias limitações e experienciar as frustrações que no ambiente doméstico/familiar era mais conhecido e naturalmente protegido, na escola isso é diferente, terá que dividir a atenção da professora com outras crianças e terá ela mesma que se fazer entender e ser aceita nesse novo grupo social, o que nem sempre é tranquilo. O papel do médico está, justamente aí, podendo observar e auxiliar nesses desafios, promovendo a superação e trabalhando junto com o professor estabelecer um elo de ligação da escola com a família, mas tomando o partido da criança, ou seja, ter um olhar e uma escuta para as dificuldades que ela apresenta frente aos desafios que a escola e os seus respectivos encargos agora representam e começam a fazer parte de sua vida.
3.) Uma escola com um médico é melhor do que aquela que não possui esse profissional?
É importante realçar o papel do MÉDICO ESCOLAR, ele não está na escola para medicar ou examinar clinicamente as crianças, seu perfil deveria ser o de trabalhar a multidisciplinaridade, ou seja, muitas crianças são assistidas por muitos profissionais, o que é válido e pode ser interesante para elas, sob um determinado ponto de vista, mas se cada profissional ficar somente na sua função e não interagir com o outro, corremos o risco dela ficar dessassistida pelo excesso, em outras palavras, muita gente "mexendo" nessa criança e isso pode ser até iatrogênico; a promoção de saúde e, esse é o papel central do médico, harmonizar esses procedimentos e orquestrar esses encaminhamentos, de modo que houvesse uma integração, observando a criança como um todo e permitindo que mesmo com algumas (ou muitas) dificuldades que ela venha apresentar, poderá ter o seu desempenho às vezes até limitado, mas possível e, certamente, digno.
Então uma escola que contemple alguém com esse perfil, poderá oferecer um grande auxílio no desenvolvimento psico/social de seus alunos e contar com um parceiro junto à atividade pedagógica, colaborando com o aspecto pedagógico/curativo de seus alunos.
4.) O MÉDICO ESCOLAR prescreve remédios para os alunos?
É natural que o médico utilize medicamentos e podemos, quando preciso, lançar mão de um bom número de substâncias, importante também deixar claro que crianças doentes não deveriam frequentar a escola, mas existem outras situações em que outros "remédios" também podem oferecer um excelente efeito terapêutico, como os contos de fada; que podem exercer um canal de comunicação adequado às crianças que entendem sua linguagem e sua simbologia. Através da narrativa dos contos, a criança identifica na ação dos personagens e nos desfechos das histórias as situações que ela própria vivencia.
Para crianças pequenas os contos curtos e tendo anões, animais, fadas e princesas como personagens são bastante recomendados (contos dos Irmãos Grimm), mais tarde, outros contos mais elaborados e com uma carga emocional mais intensa (contos de Andersen e Perrault) podem ser trabalhados junto às crianças, os contos mitológicos (mitologia grega e nórdica) para as crianças mais velhas são também muito apreciados.
5.) A televisão é prejudicial para a criança?
Existem estudos que demonstram que muitas crianças ficam até seis horas na frente da televisão. Então, são seis horas na frente de um aparelho que lança imagens com um determinado apelo emocional que ela, simplesmente, "vai engolindo", junto com as imagens que vão preenchendo sua imaginação e fazendo parte de sua vida, essas informações que inundam a cabeça da criança não oferecem oportunidade de troca. Talvez seria interessante refletir se não haveria realmente nenhuma outra opção de entretenimento senão a televisão e mesmo os chamados desenhos educativos, são igualmente revestidos dessa carga emocional que a criança simplesmente introjeta e que acaba imitando e incorporando seus gestos, é comum que comecem a falar como os personagens e querer se vestirem como eles. Esse tempo à frente da TV anestesia muito a sua fantasia, a criatividade não encontra muito espaço, já que os desenhos e os personagens já se encontram prontos e definidos. Quando a criança ouve uma história através de um ser humano e não de uma máquina, permite que exista uma interação, a imagem que a criança cria em sua cabeça é totalmente livre e ela pode inventar o herói desse ou daquele jeito, incorporando feições e fantasias que, ao contrário do desenho animado, já vem pronto e "engessa" a sua fantasia.
6.) Qual a melhor idade para a criança ir para a escola?
Essa é uma decisão muito particular de cada família, mas considero interessante pensar que na dinâmica familiar atual onde, na maioria das vezes, o pai e a mãe trabalham fora de casa, a mulher fica com o ônus de ter de abdicar de suas atividades profissionais para ficar com o filho pequeno. Essa situação é muito variável, algumas mulheres conseguem "abrir mão" de seu emprego durante algum tempo, mas outras sofrem muito com isso e ficam ansiosas com o retorno às suas atividades profissionais o mais rápido possível. E nesse imbróglio todo encontramos a criança, algumas famílias optam por deixar seus filhos na casa das avós, outras preferem uma cuidadora que trabalhe em suas casas, a escola, ou o maternal para as crianças muito pequenas passam a ser opções cada vez mais recorrentes e que devem ser seriamente avaliadas pois se tratam de lugares neutros e que também podem ser úteis nessas situações. Crianças pequenas precisam de escolas adequadas e que disponibilizem de espaço e pessoas capacitadas, improviso nesses quesitos geralmente ocasionam muitos problemas, imagino que o melhor critério esteja ligado à confiança, ou seja, os pais e, sobretudo a mãe, precisa confiar seu filho a alguém que irá exercer a maternagem à criança, uma pessoa que cumpra a função materna em sua ausência, isso também é revestido de muitos sentimentos (culpa, desapego, frustração, raiva...) e nesse processo a família (pai/mãe) precisam permanecer juntos para que ambos possam se apoiar e suportar as implicações que irão surgir a partir dessa decisão.
7.) Qual a escola ideal para a criança estudar?
Essa pergunta, embora bastante comum, deveria ser respondida com outra pregunta: - O que os pais consideram como escola ideal? Pois, esse conceito pode adquirir muitos matizes, para alguns pais escola ideal é aquela que capacita a criança a ser um aluno bem informado e com muitas matérias oferecendo uma extensa grade curricular, permitindo ao educando uma capacitação técnica adequada, priorizando um desempenho racional, preparando-o para o vestibular e para uma futura universidade; outros pais almejam para seu filho uma escola que tenha um teor artístico mais evidenciado, permitindo que a criança possa desenvolver seus talentos de uma forma mais harmônica, respeitando o seu ritmo, priorizando dessa forma o lado mais emocional ou intuitivo; existem outras que mesclam as duas coisas, enfim existem várias opções e métodos pedagógicos. Então a escola dita como ideal fica muito no imaginário dos pais, em torno de sua carga projetiva, talvez esse adjetivo ficasse destituído de sua potência se optássemos em escolher a escola adequada para a criança, pois todas terão suas qualidades e apresentarão seus defeitos, cabendo aos pais adequarem suas expectativas em torno daquilo que o método pedagógico tem a oferecer, desse modo a criança poderá ser menos cobrada e a vida escolar possa ser revestida de situações mais confortáveis e as solicitações e desempenhos escolares possam ser justificados na medida certa.
Dr. José Carlos Neves Machado - médico escolar
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