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sábado, 20 de abril de 2013

OS IRMÃOS KARAMAZÓV - Fiódor Dostoiévsky (resenha de livro)



OS IRMÃOS KARAMÁZOV       
Fiódor Dostoievski – tradução de Paulo Bezerra – desenhos de Ulysses Bôscolo.
São Paulo: Editora 34 – 2008 – dois volumes (439 e 998 pags)



É o seu último romance escrito na maturidade, terminou-o exatamente no dia 08/11/1880 em São Petersburgo aos 59 anos de idade, um pouco antes de sua morte em 09/02/1881. Fiódor Dostoievski (1821 – 1881) foi um dos maiores romancistas da literatura russa e um artista inovador, considerado como o fundador do existencialismo. Sua obra aborda temas como a humilhação e o assassinato, que são descritos com uma riqueza de detalhes que prendem o leitor com a narrativa e sua elaboração bem construída. Desse modo analisa estados patológicos que levam o sujeito a cometer suicídio, passando antes pela loucura e homicídio. Retrata em seus textos, a partir de um viés filosófico e atemporal, uma modernidade literária que se percebe desde as suas primeiras obras (Notas do Subterrâneo, 1864) e acaba por influenciar várias escolas de teologia e de psicologia pelo desenvolvimento de suas ideias.
Proust, Kafka, Camus, Nietzsche, Sartre e Hemingway citaram a importância de sua obra em sua formação literária. Freud também o admirava e considera Os Irmãos Karamázov, o maior romance da literatura universal. A este texto dedicou um artigo: Dostoievski e o parricídio (1927/28 – Obras Completas – ESB – volume 21, págs. 205-223 – Imago – Rio de Janeiro/1974), no qual tenta traçar um paralelo entre os diversos conflitos do personagem descritos no romance que coincidem com diversas passagens da própria vida se seu autor. Após a morte de sua mãe (1837) vítima de tuberculose, seu pai (Mikhail) mergulha em uma profunda depressão e alcoolismo, até a sua morte de causas não totalmente esclarecidas, sendo que uma das versões é a de que fora assassinado pelos seus próprios criados, que não suportavam mais as agressões e os maus tratos do patrão. Dostoievski culpou-se a vida toda por esse fato, pois em várias ocasiões desejou a morte do pai, isso acabou transparecendo em sua obra. Após o provável assassinato de seu pai é acometido de crises de epilepsia. Em seu romance cria uma situação semelhante à sua própria: os filhos desejam matar o pai e este é morto por um dos irmãos, a quem o autor atribui epilepsia, como se quisesse confessar que o epiléptico que havia nele próprio, era na verdade o parricida. Sintetiza nessa obra, de uma maneira magnífica, os vários temas, as angústias e as diversas facetas de sua rica personalidade: criatividade, moralidade, neurose e pecado, que o atormentaram durante toda a sua vida, tentando encontrar o seu caminho nessa desnorteada complexidade. Freud, no mesmo artigo já citado, o considera não estar muito atrás de seu outro autor preferido, William Shakespeare.
Os Irmãos Karamázov, descreve a conturbada relação entre o extravagante e bronco Fiódor Pávlovitch Karamázov e seus três filhos de dois casamentos, Dmitri Fiódorovitch, filho de sua primeira mulher, Adelaída Ivánovna Miússova e os dois restantes, Ivan e Aliksiêi (Aliócha) filhos dele com Sófia Ivánovna. A narrativa prende o leitor com a descrição minuciosa dos vários personagens, suas inquietações e seus conflitos filosóficos, as convicções existenciais e as atitudes de cada um dos filhos, que entram em confronto com o pai e seus posicionamentos, sua vida desregrada e devassa. Assim que sua primeira mulher o abandonou, seu filho Dmitri (Mítia) que ficara com o marido, foi desde os três anos de idade entregue aos cuidados dos criados, a fim de não atrapalhar as aventuras e bebedeiras do pai. Após a morte de sua segunda mulher, os dois meninos tiveram destino semelhante do primogênito, sendo igualmente abandonados e esquecidos pelo pai, acabando nas mãos de um criado piedoso que se incumbiu de suas necessidades. Desse modo, a personalidade e o temperamento de cada um deles entram em confronto constante com a rudeza e singularidade de seu pai. O orgulho apaixonado de Dmitri, a intelectualidade atormentada de Ivan e o misticismo e a pureza de Aliócha, travam duros embates muito bem escritos durante toda a obra.
Entre tantos personagens fascinantes, cabe destacar a figura do pai representada por Fiódor Karamázov, pois se trata de um personagem interessantíssimo que dita e segue as suas próprias regras, amoral e aético segue em frente, não se intimidando com quem encontra pela frente, nessa lógica particular e imperturbável, talvez possa ser mais bem definido quando se refere sobre si mesmo, enaltecendo suas próprias qualidades: “Na imundície é que é mais doce: todos vivem, só que às escondidas, enquanto eu sou transparente. Pois foi por essa minha simplicidade que todos os sujos investiram contra mim. Já para o teu paraíso Aleksiêi Fiódorovitch, não quero ir, fica tu sabendo e para um homem direito é até indecente ir para o teu paraíso, se é que ele existe mesmo. A meu ver, a pessoa dorme e não acorda mais, descobre que não existe nada; lembre-se de mim se quiserem e se não quiserem o diabo que os carregue. Eis minha filosofia – Fiódor Pávlovitch Karamázov”.
José Carlos Neves Machado.


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