O PODER DOS QUIETOS
Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar.
Susan Cain
Tradução de Ana Carolina Bento Ribeiro
Rio de Janeiro: Editora Agir, 2012 – 352 páginas.
“Nossa cultura tornou uma virtude viver apenas como extrovertidos. Desencorajamos a jornada interior, a busca por um centro. Então perdemos nosso centro e temos que encontrá-lo novamente”.
Anaïs Nin.
A introversão (ação ou resultado de se voltar para si mesmo) é o tema desse livro escrito pela também, confessadamente introvertida, Susan Cain, que descreve através de exemplos bastante conhecidos (Albert Einstein, Frederick Chopin, Al Gore, Steven Spielberg, Bill Gates, entre outros), que mesmo pessoas introvertidas, obtiveram sucesso em um mundo onde a extroversão e o fascínio em aparecer é muito mais valorizado e reverenciado. Diametralmente oposto a esse conceito o representante é o best-seller Como fazer amigos e influenciar pessoas de Dale Carnegie, que publicado em 1936, vem desde então ensinando às pessoas que sorrir sempre que possível, dizer alguma agradável e lembrar sempre o nome das pessoas é o segredo para se destacar, ou seja, os extrovertidos influenciam e tem maiores chances de sucesso que aqueles que falam pouco, não se sentem confortáveis com a exposição ou preferem o anonimato.
A extroversão assim como o seu oposto, devem ser encaradas como características pessoais e não algo, como no caso da introversão, como um defeito que deveria ser “consertado”, o interessante nesse livro é que a autora se debruça sobre dados estatísticos e em pesquisas psicológicas e neurobiológicas revelando, por exemplo, que aproximadamente setenta por cento dos escritórios nos EUA favorecem àqueles que gostam de se expor, já que não possuem divisórias ou paredes, para desespero dos introvertidos que preferem ambientes mais reservados, ou um estudo da Universidade da Califórnia revelando que pessoas introvertidas possuem uma tendência maior à criatividade e quando são respeitados e não pressionados conseguem desenvolver a liderança perfeitamente bem, quando comparados com um perfil mais extrovertido.
Pessoas extrovertidas gostam de se expor, os introvertidos preferem pensar e demoram mais a apresentar suas ideias, diferente do tímido que sofre com a exposição, o introvertido necessita de tempo e segurança para isso, encara compromissos sociais e não é avesso aos relacionamentos, embora seja mais seletivo, principalmente na fala, mais contida e menos verborrágica, ou seja, é mais reflexivo e cuidadoso sendo, portanto, menos influenciável, o que, sem dúvida são valores positivos a serem considerados e realçados.
Na contramão da corrente atual, que promove e valoriza o indivíduo que se expõe e que gosta de ficar “sob os holofotes”, o livro vai pontuando que a introversão pode ser um aliado poderoso, uma característica que não precisa ser escondida ou rejeitada, especialmente por aqueles que a possuem, no mundo do sucesso instantâneo e da exposição midiática narcísica também existe um espaço digno e confortável (como não poderia deixar de ser, sob o ponto de vista introvertido), para os mais reservados que também precisam ser ouvidos e respeitados e que não devem temer comparações podendo se desejar, opinar e, porque não, também experimentarem a vez de emitir suas opiniões e comentários, sem que isso soe como algo esquisito ou modesto, mas simplesmente diferente. Aproveitar esse potencial e não envergonhar-se dele passa a ser um desafio e uma busca para aqueles que se identificam com isso. Imaginemos como se beneficiariam disso muitas crianças que sendo introvertidas, são estimuladas a tantos constrangimentos e dificuldades nas escolas e nos encontros sociais quando através da comparação com outros colegas extrovertidos mostram-se desengonçadas e menos participativas, uma espécie de bulling social, utilizando um termo atual, que vem chamando atenção de pais e educadores, pois bem, essa observação também deveria ser conferida, afinal trata-se de outro paradigma que, com calma e em silêncio, precisaria ser devidamente identificado e, principalmente respeitado. Afinal, educar crianças quietas em um mundo que não consegue ouvi-las ou não se dispõe a compreendê-las é um desafio e uma tarefa que precisa ser desenvolvida, essa é a proposta da autora.
José Carlos Neves Machado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
www.mediconaescola.com
Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar