Pesquisar este blog

sábado, 20 de abril de 2013

TETRO (resenha de filme)






TETRO
EUA/Itália/Espanha/Argentina, 2009 – 127 minutos
Vincent Gallo, Alden Ehrenreich, Klaus Maria Brandauer, Maribel Verdú, Carmen Maura.
Direção – Francis Ford Copolla

Podemos esquecer quem somos e de onde viemos? Mesmo tentando, por que o passado insiste em retornar e, na maioria das vezes quando o faz, vem acompanhado de velhas feridas? As questões familiares, sobretudo na relação do pai com os filhos é o tema central desse filme de Copolla após duas décadas sem filmar.
A rivalidade entre pai e filho surge na figura tirânica de Carlo Tetroncini, o maestro narcisista interpretado por Klaus Maria Brandauer, que disputa com primogênito a conquista de uma jovem com um desfecho infeliz, também a trágica morte de sua mãe e as relações familiares já desgastadas fazem com que o filho mais velho, Ângelo vá se refugiar em Buenos Aires, trabalhando como iluminador de peças de teatro. Na tentativa de esquecer o passado, muda de nome, aparentemente tentando se re-inventar. Curiosamente adota o nome de Tetro, uma alusão ao nome de família (Tetroncini), talvez na esperança de re-escrever a própria história não se afasta do nome original, salientando com isso, que temos de um modo ou de outro, a se ater com as nossas questões, que sobrevoam, mas que, insistentemente, teimam em nos importunar, ou como diria Guimarães Rosa: “a gente vive, é mesmo para se desiludir e desmisturar” (in, Grande Sertão Veredas); a grande dificuldade talvez seja mesmo “sair dessa mistura”, sem perder a sua própria identidade. Esse viés delicado é evocado na conflitante relação do pai com o filho, que aparecem nas lembranças propositalmente coloridas, contrastando com o presente monótono e monocromático
Desse modo surge em sua vida reclusa, seu meio irmão Bennie, que vai ao encontro do primogênito cobrando dele a promessa feita de que um dia voltaria para resgatá-lo do ambiente familiar, mas que nunca cumpriu. A presença desse encontro interfere em sua rotina de escritor fracassado e recluso que vive ao lado de sua mulher Miranda. A visita inesperada e indesejada faz com que Tetro se torne mais amargurado ainda querendo que o irmão e tudo o que ele evoca saiam o mais rapidamente possível de sua vida, mas sua mulher se enternece por Bennie revelando aquilo que conhece sobre Ângelo, inclusive colocando-o em contato com o livro que o marido jamais publicou e que revela muito de seu passado.
Os personagens masculinos, Carlo, Ângelo e Bennie evidenciam em suas relações a demarcação da função simbólica do pai, naquilo que diz respeito à existência de uma parcela do Pai real, que determina uma das bases mais fundamentais da clínica psicanalítica; partindo da edificação do pai simbólico a partir do pai real se constrói toda a dinâmica da discussão edipiana e suas conseqüências psíquicas que passam então a surgir, os filhos buscam essa baliza e a figura desse pai simbólico e tirânico paira sobre eles convocando esse enfrentamento.
Após muito tempo sem filmar, Copolla volta à cena em um belo filme em preto e branco, filmado no bairro La Boca e na Patagônia argentina com belíssimas imagens, onde as cores surgem nas reminiscências dos personagens. A trilha sonora é um capítulo a parte, Sapatinhos Vermelhos da obra Os Contos de Hoffmann, na versão de Jacques Offenbach, surge através de uma bela coreografia nas lembranças do personagem ao se recordar de sua mãe que era cantora lírica.

 José Carlos Neves Machado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
www.mediconaescola.com

Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar