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quinta-feira, 2 de maio de 2013

O JARDINEIRO QUE TINHA FÉ - Clarissa Pinkola Estés (resenha de livro)






O JARDINEIRO QUE TINHA FÉ
Clarissa Pinkola Estés
tradução - Waldéa Barcellos
Editora Rocco - 92 páginas
Rio de Janeiro, 1996


                                            "A vida se repete, se renova, não importa quantas vezes seja apunhalada, descarnada, atirada ao chão, ferida, ridicularizada, ignorada, desprezada, desdenhada, torturada ou tornada indefesa".



A psicanalista junguiana, poeta e contadora de contos Clarissa Pinkola Estés apresenta este conto com traços biográficos, que traz a história de seu tio (Zovár), um camponês que sobreviveu aos horrores da Segunda Guerra Mundial, um ex-combatente húngaro que mesmo humilhado, derrotado e expulso de sua terra ainda "continuava gentil com as crianças, terno com os animais e acreditava que a terra era um ser vivo com suas próprias esperanças, necessidades e sonhos", segundo as lembranças da autora que descreve o amor desse jardineiro com o seu ofício e das lições que um homem mesmo embrutecido pelos revezes da vida pode resistir e permanecer com sua fé e com o ensinamento de que se trata de uma força que nasce dentro de nós e assim permanece justamente por ser maior do que nós mesmos.
Traçando um paralelo com a visão de resiliência (capacidade que um elemento tem em permanecer com suas características apesar de sofrer vários abalos, conceito emprestado da Física, mas que pode ser ampliado para a esfera psíquica do ser humano), que Aaron Antonovsky (1923 - 1994), descreve quando teve a incumbência de pesquisar o estado de saúde de pessoas idosas em Israel e se surpreende com a constatação que dentre os idosos mais saudáveis que encontrara, havia algumas que tinham sobrevivido aos horrores do Holocausto, humilhadas e subjugadas, em condições muito precárias e ainda resistindo apresentando um desenvolvimento anímico saudável, como o personagem desse belo conto, que enaltece acima de tudo, a capacidade que alguns possuem, contrariando todas as evidências, simplesmente sobrevivendo e transmitindo que isso também é possível.
E a autora cita o ensinamento que ouviu de seu tio quando criança nos acenando com uma esperança: "Não existe nada que não tenha valor. Tudo pode ser usado para alguma coisa. No jardim de Deus há uma utilidade para tudo e para todos".

José Carlos Machado.