A BELA E A FERA
Gabrielle-Suzanne Barbot
Um mercador tinha três filhas, porém, enquanto as mais velhas eram vaidosas e orgulhosas que gostavam de ostentar luxo e riqueza, de frequentar festas e bailes na corte e de usarem lindos vestidos, a mais nova, que todos chamavam Bela, era muito diferente de suas irmãs, pois sua humildade, gentileza, e generosidade encantava a todos e ainda gostava de ler e, ao contrário das outras moças, tratava bem as pessoas.
Um dia, o mercador perdeu toda a sua fortuna, com exceção de uma pequena casa distante da cidade. Bela aceitou a situação com dignidade, mas as duas filhas mais velhas não se conformavam em perder a fortuna e os admiradores, e descontavam suas frustrações sobre Bela, que humildemente não reclamava e ajudava seu pai como podia.
Um dia, o mercador recebeu notícias de bons negócios na cidade vizinha, e resolveu partir em busca de novas oportunidades. As duas filhas mais velhas, esperançosas em enriquecer novamente, encomendaram-lhe vestidos e futilidades, mas Bela, preocupada com o pai, desejou-lhe sorte e pediu apenas que ele lhe trouxesse uma rosa.
Quando o mercador voltava para casa, foi surpreendido por uma tempestade, e se abrigou em um castelo que avistou no caminho. O castelo era mágico, e o mercador pôde se alimentar e dormir confortavelmente, pois tudo o que precisava lhe era servido como por encanto.
Ao partir, pela manhã, avistou um jardim de rosas e, lembrando do pedido de Bela, colheu uma delas para levar consigo. Foi surpreendido, porém, pelo dono, uma Fera pavorosa, que o ameaçou de morte pela intromissão e pelo roubo, o pobre homem pediu e implorou por sua vida, dizendo ao terrível monstro que tinha três filhas que dependiam dele para viver, então a Fera lhe impôs uma condição para viver: deveria trazer uma de suas filhas para se oferecer em seu lugar e deixou-o ir. O mercador partiu desolado de volta para casa.
Ao chegar em casa, muito abatido com tudo aquilo o homem chorou e contou às filhas tudo o que lhe havia acontecido, Bela, mediante a situação resolveu se oferecer para a Fera, mesmo com seu pai implorando que não fizesse isso, a menina teimou e seguiu com o pai até o castelo, imaginando que a Fera a devoraria e tudo acabaria rapidamente. Ao invés de a devorar, o monstro foi se mostrando aos poucos como um ser sensível e amável, fazendo todas as suas vontades e tratando-a como uma princesa. Apesar de achá-lo feio e pouco inteligente, Bela se apegou ao pavoroso animal que, sensibilizado com sua doçura e bondade se encantava cada vez mais pela moça e a pedia constantemente em casamento, pedido que Bela gentilmente recusava.
Um dia, Bela pediu que Fera a deixasse visitar sua família, pedido que o monstro, muito a contragosto, concedeu, com a promessa de ela retornar em uma semana. Fera combinou com Bela que, para voltar ao castelo, bastaria colocar seu anel sobre a mesa, e magicamente retornaria. A menina prometeu que assim procederia e partiu feliz para reencontrar sua família.
Bela visitou alegremente sua família, mas as irmãs, ao vê-la feliz, rica e bem vestida, sentiram inveja, e a envolveram para que sua visita fosse se prolongando, na intenção de Fera ficar aborrecida com sua irmã e devorá-la. Bela foi prorrogando sua volta até ter um sonho em que via Fera morrendo. Arrependida e preocupada com o que poderia estar acontecendo com o animal, colocou o anel sobre a mesa e voltou imediatamente ao castelo, mas encontrou Fera morrendo no jardim, pois desde que a moça havia partido, de tristeza não se alimentara mais, temendo que Bela não retornasse.
Naquele instante, vendo o pobre animal agonizando, Bela compreendeu que amava a Fera, e independente de sua aparência, não podia mais viver sem sua companhia, e confessou ao monstro sua resolução de aceitar o pedido de casamento se ele vivesse. Mal pronunciou essas palavras, a Fera se transformou num lindo príncipe, pois seu amor colocara fim ao encanto que o condenara a viver sob a forma de uma fera até que uma donzela aceitasse se casar com ele aceitando-o mesmo com sua aparência. O príncipe casou com Bela e foram felizes para sempre.