FRASEADOR
Manoel de Barros
in, Memórias Inventadas (VII)
Editora Planeta
São Paulo, 2003
Hoje eu completei oitenta e cinco anos. O poeta nasceu de treze. Naquela ocasião escrevi uma carta aos meus pais, que moravam na fazenda, contando que já decidira o que queria ser no meu futuro. Que eu não queria ser doutor. Nem doutor de curar, nem doutor de fazer casas, nem doutor de medir terras. Que eu queria ser fraseador.
Meu pai ficou meio vago depois de ler a carta. Minha mãe inclinou a cabeça. Eu queria ser fraseador e não doutor. Então, o meu irmão insistiu: - "Mas se fraseador não bota alimento em casa, nós temos de botar uma enxada na mão desse menino prá ele deixar de variar".
A mãe baixou a cabeça um pouco mais. O pai continuou meio vago. Mas não botou enxada.