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terça-feira, 6 de novembro de 2018

A ESCOLHA DO BRINQUEDO PARA A CRIANÇA (artigo)








Escolher um brinquedo para a criança não é uma escolha simples, pelo menos deveríamos nos preocupar com essa escolha, afinal a criança terá um contato durante muito tempo com esse objeto e, naturalmente, com toda carga de fantasia que o complementa, portanto, começará a fazer parte da vida da criança e com as consequências que as imagens que esse brinquedo acrescentará, as quais nem sempre serão adequadas.
Não é suficiente observar apenas a recomendação da idade adequada para o brinquedo, mas procurar entender que no desenvolvimento infantil, não basta apenas estimular é importante adequar esses estímulos, os quais muitas vezes atuam como propulsores de excitações que a criança não consegue assimilar e, como um movimento de rotação esses estímulos geram outros tantos, que por sua vez disparam novas agitações que deixam a criança cada vez mais inquieta. Crianças pequenas não necessitam de provocações ou de estímulos para começarem a andar, portanto, os “andadores” podem até ser interessantes para os pais, mas péssimos para o desenvolvimento motor dos seus filhos, que foram estimulados precocemente, do mesmo modo que o uso de brinquedos que apresentam uma grande dose de aparatos (sons, cores, barulhos de todos os tipos) que podem e devem ser substituídos por outros mais simples. Principalmente aqui, nesse caso, o excesso faz mal.
Brinquedos que estimulem a motricidade não precisam necessariamente vir acompanhados de sons e de uma série de dispositivos que distraiam a criança. Desse modo, blocos de madeira ou até tampas de panela seriam mais interessantes do que carrinhos que piscam luzes e são ainda providos de sirenes e sons de todos os tipos que confundem a criança.
Isso não estimula a sua fantasia, pois já vem com todos os elementos e a brincadeira acaba se adequando ao brinquedo, quando deveria ser justamente ao contrário. Quando pensamos em motricidade inicialmente observamos o tato protopático (mais grosseiro) que irá evoluir para o chamado tato epicrítico (mais delicado), isso pode ser estimulado com situações apresentadas à criança que estimulem essa desenvoltura táctil, por exemplo, varetas de bambu ou bolas de gude cumprem muito bem essa função, assim como ensinar a criança a abotoar suas roupas e dar nó em seus sapatos. Tarefas simples como essas ajudam bastante. Muitas crianças sabem digitar todas as teclas de telefones e de tablets, mas ainda não conseguem abotoar a própria camisa ou abaixar o zíper da blusa, porque não foi ensinada a fazer isso, porque alguém faz isso por ela do mesmo modo que lhe são oferecidos aparelhos eletrônicos que excitam e estimulam a criança que se acostuma com seu uso aprendendo a manipulá-los, muitas vezes com satisfação de seus pais acreditando que com isso estão oferecendo algo interessante aos seus filhos, o que é um engano.
O mundo vai aos poucos se apresentando a criança que gradativamente vai conquistando o espaço ao seu redor e suas peculiaridades, em princípio o berço da criança pode ser uma fonte de descobertas, o bebê pode passar muito tempo admirando e brincando com suas mãos ou se divertindo ouvindo o seu próprio som, talvez o mais adequado seja permitir que a criança se contente com isso. Móbiles sonorizados e chocalhos eletrônicos e luminosos não colaboram, pois trazem excesso desnecessário, mas que são incorporados por ela através de sua exposição. Mais tarde quando começar a descobrir o quarto e depois a casa essa conquista de mundo também deveria ser cuidada, objetos pontiagudos e com risco de acidentes precisam ser mantidos longe do alcance das crianças, que passam a explorar a casa, sem necessidade de andadores ou traquitanas eletrônicas que atrapalhem essa descoberta maravilhosa.
Brinquedos de madeira, jogos de encaixe, bonecas de pano e carrinhos preenchem adequadamente as necessidades das crianças pequenas que permearão o imaginário infantil de uma forma infinitamente menos excitante se comparado aos seus similares de plástico com dispositivos sonoros e visuais, assim como as bonecas que falam e se expressam sempre do mesmo modo, pois não permitem que a criança possa adicionar nada de novo, a criatividade não fica estimulada, porque esses elementos “engessam” e deixam a capacidade criadora da criança simplesmente, atrofiar.

José Carlos Neves Machado – médico escolar.




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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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