Escolher um brinquedo para a
criança não é uma escolha simples, pelo menos deveríamos nos preocupar com essa
escolha, afinal a criança terá um contato durante muito tempo com esse objeto
e, naturalmente, com toda carga de fantasia que o complementa, portanto,
começará a fazer parte da vida da criança e com as consequências que as imagens
que esse brinquedo acrescentará, as quais nem sempre serão adequadas.
Não é suficiente observar apenas
a recomendação da idade adequada para o brinquedo, mas procurar entender que no
desenvolvimento infantil, não basta apenas estimular é importante adequar esses
estímulos, os quais muitas vezes atuam como propulsores de excitações que a
criança não consegue assimilar e, como um movimento de rotação esses estímulos
geram outros tantos, que por sua vez disparam novas agitações que deixam a
criança cada vez mais inquieta. Crianças pequenas não necessitam de provocações
ou de estímulos para começarem a andar, portanto, os “andadores” podem até ser
interessantes para os pais, mas péssimos para o desenvolvimento motor dos seus
filhos, que foram estimulados precocemente, do mesmo modo que o uso de
brinquedos que apresentam uma grande dose de aparatos (sons, cores, barulhos de
todos os tipos) que podem e devem ser substituídos por outros mais simples.
Principalmente aqui, nesse caso, o excesso faz mal.
Brinquedos que estimulem a
motricidade não precisam necessariamente vir acompanhados de sons e de uma
série de dispositivos que distraiam a criança. Desse modo, blocos de madeira ou
até tampas de panela seriam mais interessantes do que carrinhos que piscam
luzes e são ainda providos de sirenes e sons de todos os tipos que confundem a
criança.
Isso não estimula a sua fantasia,
pois já vem com todos os elementos e a brincadeira acaba se adequando ao
brinquedo, quando deveria ser justamente ao contrário. Quando pensamos em
motricidade inicialmente observamos o tato protopático (mais grosseiro) que irá
evoluir para o chamado tato epicrítico (mais delicado), isso pode ser
estimulado com situações apresentadas à criança que estimulem essa desenvoltura
táctil, por exemplo, varetas de bambu ou bolas de gude cumprem muito bem essa
função, assim como ensinar a criança a abotoar suas roupas e dar nó em seus
sapatos. Tarefas simples como essas ajudam bastante. Muitas crianças sabem
digitar todas as teclas de telefones e de tablets, mas ainda não conseguem
abotoar a própria camisa ou abaixar o zíper da blusa, porque não foi ensinada a
fazer isso, porque alguém faz isso por ela do mesmo modo que lhe são oferecidos
aparelhos eletrônicos que excitam e estimulam a criança que se acostuma com seu
uso aprendendo a manipulá-los, muitas vezes com satisfação de seus pais acreditando
que com isso estão oferecendo algo interessante aos seus filhos, o que é um
engano.
O mundo vai aos poucos se
apresentando a criança que gradativamente vai conquistando o espaço ao seu
redor e suas peculiaridades, em princípio o berço da criança pode ser uma fonte
de descobertas, o bebê pode passar muito tempo admirando e brincando com suas
mãos ou se divertindo ouvindo o seu próprio som, talvez o mais adequado seja permitir
que a criança se contente com isso. Móbiles sonorizados e chocalhos eletrônicos
e luminosos não colaboram, pois trazem excesso desnecessário, mas que são
incorporados por ela através de sua exposição. Mais tarde quando começar a
descobrir o quarto e depois a casa essa conquista de mundo também deveria ser
cuidada, objetos pontiagudos e com risco de acidentes precisam ser mantidos longe
do alcance das crianças, que passam a explorar a casa, sem necessidade de
andadores ou traquitanas eletrônicas que atrapalhem essa descoberta
maravilhosa.
Brinquedos de madeira, jogos de
encaixe, bonecas de pano e carrinhos preenchem adequadamente as necessidades
das crianças pequenas que permearão o imaginário infantil de uma forma
infinitamente menos excitante se comparado aos seus similares de plástico com
dispositivos sonoros e visuais, assim como as bonecas que falam e se expressam
sempre do mesmo modo, pois não permitem que a criança possa adicionar nada de
novo, a criatividade não fica estimulada, porque esses elementos “engessam” e
deixam a capacidade criadora da criança simplesmente, atrofiar.
José Carlos Neves Machado –
médico escolar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
www.mediconaescola.com
Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar