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sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BRINCADEIRA TEM HORA - artigo

Médico na Escola Dr José Carlos Machado www.mediconaescola.com Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar







BRINCADEIRA TEM HORA

BRINCAR É COISA SÉRIA.
Friedrich Nietzsche

Muitas vezes os adultos se esquecem, mas puxando pela memória lembram, com saudade, que também já foram crianças um dia. E o que toda criança mais gosta de fazer? Brincar! Hoje, por incrível que possa parecer isso precisa ser explicado, já não é, como se imagina, algo tão simples assim. Quem veio do interior para a cidade grande ou mesmo os daqui da capital, há alguns anos atrás (nem tantos assim), podem se lembrar das brincadeiras de rua e das atividades que elas tinham quando crianças: soltar pipa, brincar de esconde-esconde, pega-pega, passa-anel, jogar taco ou simplesmente ficar nos portões conversando até a hora de ir pra casa tomar banho, jantar e dormir e no dia seguinte encontrar-se de novo na rua ou na escola. Chega-se até a acreditar que antes era melhor, mas a realidade hoje é outra, existem situações que não podemos deixar de enxergar, tem a própria dificuldade de brincar na rua, parece que não existe mais ruas para isso, tem os carros, tem o próprio desuso das pessoas saírem de suas casas, até de conhecerem o vizinho do lado já é difícil, o que dizer então interagir com esse estranho, mas acontece que as crianças de hoje são os nossos filhos e a preferência pela brincadeira ainda continua, só que precisamos refletir e tentar enxertar nisso uma qualidade especial que precisa ser ensinada, porque, até pela falta de hábito, muitas crianças nem sabem mais brincar e trocam tudo isso por um bom videogame ou um programa de televisão e aí começa um grande problema que os adultos precisam ficar atentos e interferir.Uma parcela significativa da população infantil fica não menos de quatro horas na frente de um aparelho de televisão (nos EUA a média é de seis horas/dia).
Através desse aparelhinho tirano, que direciona e autoriza muitas brincadeiras das crianças e pensando nisso realmente dá saudade do tempo em que não se tinha muito contato com a TV, ou pelo menos, sua influência não era tão decisiva, muitas crianças condicionam suas atividades antes ou depois de determinadas programações de TV, com total conivência e absoluto descaso de seus pais (sabe-se que praticamente toda a população do planeta Terra, exceto áreas extremamente inóspitas, já tiveram contato de alguma maneira com um aparelho de televisão, inclusive no pólo ártico).
As crianças, principalmente as pequenas, não entendem aquilo que a TV lhes apresenta, não se trata de subestimar a capacidade de percepção da criança, elas captam tudo, até muito bem, percebem, mas não interagem, não há troca nessa relação, a imagem vem e inunda a mente da criança, com uma série de emoções e conflitos que ela não consegue processar, nem tampouco interagir e aí está a explicação para tantos conteúdos esquisitos que observamos nos nossos filhos, nas insônias que muitos apresentam (não conseguem se desligar daquelas imagens) e do sono no dia seguinte durante as aulas, já que foram dormir muito tarde depois de assistirem “aquele filme imperdível”. Acostumaram-se a assistirem a todas essas bobagens completamente passivas, sentadas diante da TV e imitam tudo aquilo que lhes é permitido (e até estimulado) a ver, isso só levando-se em conta a programação considerada infantil, que já é sofrível, sem contar toda a erotização presente nos comerciais de TV, nas propagandas de bebidas e cigarros, nos telejornais, principalmente naqueles sanguinolentos, nas novelas, nos filmes e por aí vai, a propaganda descobriu que o pequeno espectador é também um grande consumidor: assiste na TV e pede aos pais que comprem aquilo que é anunciado.
Talvez fosse muito interessante que parássemos e nos lembrássemos das brincadeiras que já fizemos ou aquelas que nem pudemos fazer e agora resgatá-las e brincar com os nossos filhos. É verdade que tem o trabalho, tem o cansaço, tem o momento de relaxar depois de um dia duro, existe o caso da criança que fica em casa sem ter o que fazer ou amigos para brincar e ela fica “só um pouquinho” vendo aquele “programa bonitinho” do canal X, mas tem principalmente o hábito e a tirania que essa mesma TV impõe a desconstrução que ela causa, porque acaba roubando da família a possibilidade de conversar, de trocar informações sobre aquilo que experenciaram durante o dia, padroniza muitos jargões que as crianças repetem à exaustão quando vêem e imitam essas caricaturas que assistem na televisão. Na pior das hipóteses, se há a opção da família em ver TV que isso aconteça com todos juntos, é bom que os pais vejam e reflitam sobre o que os seus filhos assistem e conversem a respeito disso ou até permitam esse ou aquele programa, mas que se posicionem e restrinjam aquilo que chega aos seus filhos, na maioria das vezes os pais, quando questionados, não tem a mínima idéia do que acontece com seus filhos, quando ausentes, ainda mais aquilo que assistem na telinha da TV. Realmente brincadeira tem hora e é saudável que as crianças tenham um tempo reservado do seu dia para que corram, pulem, se divirtam, brinquem, saiam da frente da TV e do videogame, porque o tempo passa, o hábito fica e elas acabam crescendo sem a chance de saber brincar e o maior prejuízo que advem daí é a falta de contato com a fantasia e a criatividade que as brincadeiras propiciam e que cada vez mais observamos que vão sendo substituídas pelos modelos dos heróis que a televisão lhes apresenta: a cólera desenfreada do Pato Donald, as maldades e a agressividade contidas nos desenhos do Pica-Pau, a indolência e a preguiça do Garfield, a ironia e a sordidez expressas nos personagens dos Simpsons, sem contar os poderes fantásticos dos super-heróis, a erotização explícita em tantos personagens, as lutas marciais e as armas que soltam raios e matam todos que ousem se aproximar. É preciso diferenciar o bonitinho do conceito estético de beleza, no geral, alguns (senão todos), os desenhos são extremamente feios e propositadamente assustadores. Isso tudo faz parte do universo de muitas crianças e interfere mais dos que os próprios pais muitas vezes imaginam e é importante que isso seja observado por eles, pois realmente há uma identificação muito negativa com esses personagens, que as crianças imitam e expressam em gestos, frases, atitudes e palavras, afinal ela tem um longo e antigo contato com essas caricaturas, quer estampados em suas roupas, nos posters que decoram suas paredes, nas figurinhas que colecionam, ou ali pertinho, bem ao alcance de suas mãos, no aparelho de TV que fica em seu próprio quarto bem acima de sua cama. Um grande desafio seria de nos propormos a ficar pelo menos um dia sem ligarmos ou deixarmos que as crianças tenham qualquer contato com o aparelho de televisão, vídeos inclusive (para alguns com sendo uma grande dose de sacrifício, tal o vínculo que é estabelecido), para podermos experimentar a sensação de ficarmos juntos e colocar a conversa em dia ou contar boas histórias, as da própria família, por exemplo, que tanto agrada às crianças, com o sucesso dessas experiências esse tempo poderia ser gradativamente aumentado e então a tirania desse terrível aparelhinho poderia ser desbancada, é lógico que pode ser difícil, mas deverá ser ao menos tentado, essa tarefa é dos adultos de casa, não é responsabilidade infantil, mas falta de postura de seus pais. Sabe-se que as crianças brasileiras assistem uma média de três horas diárias de TV e como consequência direta as que menos lêem e também com pouca atividade física, o maior passatempo é ficar na frente da televisão, fazendo suas refeições inclusive com a TV ligada (Folha de São Paulo – outubro/2004).
Existe uma conta que precisa ser feita e quem chama atenção disso é o Professor Mario Sérgio Cortella em seu livro “NÃO NASCEMOS PRONTOS – Ed. Vozes, Petrópolis, 2017”, exatamente no capítulo em que trata sobre a mídia, diz o mestre; “uma criança dos centros urbanos, a partir dos dois anos de idade, assiste, em média, três horas diárias de televisão, o que resulta em mais de mil horas como expectadora durante um ano (sem contar as outras mídias eletrônicas como rádio, cinema, computador); ao chegar aos sete anos, idade escolar obrigatória; ela já assistiu a mais de cinco mil horas de programação televisiva”. Ou seja, isso influencia e muito a formação ética dessas crianças, trata-se de outro corpo não escolar que têm um absurdo domínio sobre crianças e jovens e isso precisa ser observado e transformado rapidamente.
O problema maior consiste nos efeitos tremendamente nocivos que esse tipo de “brincadeira” acaba causando na cabeça de nossas crianças e isso certamente não tem a menor graça é chegada a hora de parar e pensar sobre isso, no mínimo questionarmos sobre essa influência absolutamente dispensável na educação de nossas crianças.
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Dr. José Carlos Neves Machado





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