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sábado, 24 de novembro de 2018

AOS 14 ANOS - artigo

Médico Escolar - Dr José Carlos Machado www.mediconaescola.com Acompanhe também nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar e @antroposofiaemdia







Quatorze anos.
Paulinho da Viola

Tinha eu 14 anos de idade
Quando meu pai me chamou (quando meu pai me chamou)
Perguntou se eu não queria
Estudar Filosofia,
Medicina ou engenharia
Tinha eu que ser doutor

Mas a minha aspiração
Era ter um violão
Para me tornar sambista
Ele então me aconselhou
Sambista não tem valor
Nesta terra de doutor
E seu doutor
O meu pai tinha razão

Vejo um samba ser vendido
E o sambista esquecido,
O seu verdadeiro autor
Eu estou necessitado
Mas meu samba encabulado
Eu não vendo não senhor

O jovem de quatorze anos está passando por um período mágico de sua vida, necessariamente não é um momento isento de sofrimentos, mas absolutamente importante, seu corpo que já vinha sofrendo transformações culmina nessa fase com uma nova aquisição o nascimento de seu corpo astral e isso é algo especialmente significativo em sua vida, mas essa aquisição acontece em um momento cheio de conflitos em sua vida. Um período de lutos.
O jovem se olha no espelho e vê algumas transformações, a menina já está mais exuberante, as curvas do seu corpo já se apresentam e chamam a atenção dos garotos da sua turma, algumas se envergonham e se vestem com roupas de manequins maiores para encobrir os seios que já começaram a surgir, muitas já menstruaram, estão diferentes; com os rapazes acontece a mesma coisa, os poucos pelos no rosto são cultivados com orgulho e exibem essa “barba” como um símbolo de maturidade, a voz sofre às alterações naturais e ambos moças e rapazes crescem muito, braços e pernas se esticam e ficam mais altos (estirão da puberdade), mas ainda não dominam seus corpos transformados, ficam desajeitados e tropeçam nas coisas à sua volta, precisam de tempo para se acostumar com esse novo corpo, portanto, a imagem refletida não é mais de uma menina ou de um menino, aquela criança morreu; este é o luto do corpo infantil.
De outro modo seus pensamentos e suas motivações também se modificam, começam a evitar os grupos familiares e se isolam em seus quartos ou em grupos de amigos, esse momento de introspecção os tornam calados, irritados e impacientes, é uma fase e é preciso que seja respeitada também, uma atitude comum nessa época quando os pais querem se aproximar e saber o que aconteceu? E recebem dos jovens uma atitude hostil como reposta, talvez eles mesmos nem saibam dizer o que está acontecendo, mas alguma coisa está diferente dentro deles, o mundo parece que cresceu e os jovens querem conquista-lo, mas se encontram limitados pela idade, pela família, pelas condições em que vivem; aquele mundo infantil em que viviam até então já deu para eles, ainda não sabem o que irão fazer, mas avisam que querem conquistar o mundo e não se conformam com a mediocridade dessa vida burguesa e monótona em que se acham inseridos, outra morte acontece aqui, o luto da identidade.
Por fim e não menos importante surge o luto dos pais idealizados, quando o jovem começa a questionar aquilo que os pais falam e como agem, então as comparações são inevitáveis e o natural confronto com o discurso propagado e a realidade, então é comum os questionamentos surgirem por parte dos jovens que perguntam aos pais: - Porque vocês falam isso e aquilo e não agem de modo consequente? Os pais passam a ter “os pés de barro”, ou seja, são humanos, carentes, contraditórios, injustos, severos, displicentes, enfim, absolutamente humanos deixaram de ser idealizados.
Interessante notar que os adultos por sua vez percebem essas transformações que o jovem está passando e que de certa forma isso também acaba resvalando neles próprios, o que fazer nessa nova versão, porque está assim tão diferente de antes? Constatar que o filho prefere a companhia dos amigos ao invés de acompanhá-los ao aniversário da prima que ele sempre ia, poderá ser um sinal que o jovem também tem o seu direito de escolha, os pais não devem ficar reféns de suas atitudes, afinal ele tem direito de escolher o que gosta de fazer, se para os pais é imprescindível que o filho os acompanhe a todos os seus compromissos, é bom que se preparem, porque a época das caras feias e das contrariedades veio para ficar, principalmente se não houver conversa e algumas vezes o resumo dessa ópera é óbvio: - Vocês não queriam que eu viesse não me obrigaram a vir? - Agora vão me obrigar também sorrir?  E, logicamente acompanhará de má vontade e demonstrará isso a todos à sua volta. E durma-se com um barulho desses! Portanto, é preciso ajustar essa sintonia, a partir de agora as coisas precisam e devem ser conversadas e não simplesmente impostas. Fala-se muito que os jovens são “arborescentes” e isso além da humilhação coloca-os em um lugar quase inatingível, porque os desclassificam e os rotulam como “chatos, difíceis, impossíveis, etc.”; os pais esqueceram que também foram assim ou se justificam dizendo que os pais deles eram mais severos e que eles próprios eram mais educados com os mais velhos e a pergunta permanece: - O que mudou? Na verdade o que mudou foi o próprio tempo e a observação de mundo que esse jovem começou a ter. O mundo BOM do primeiro setênio deu espaço para o mundo Belo do segundo e agora esse mundo torna-se VERDADEIRO e o jovem quer isso, quer ser respeitado, quer argumentar, quer saber o porquê das coisas e quer, sobretudo, questionar e entender e sabem fazer isso muito bem. Tiveram tempo de sobra de estudar os pais e a família e sabem conquistar as coisas que querem, mentem e também sabem esperar para conseguirem o que desejam isso não os transformam em delinquentes apenas atualiza-os no contexto familiar e social em que viveram esse tempo todo, a imitação aqui já não é mais reproduzida, mas a postura ainda precisa e deve ser mais do que nunca ser imposta e exercida pelos pais.
Costumo dizer aos pais que agora é preciso atualizar a fotografia de nossos filhos que guardamos dentro da nossa memória, o Joãozinho agora cresceu a Heleninha também, talvez já não gostem mais dos apelidos infantis e muito menos de serem tratados como crianças, podem ter direito a escolhas, que certamente deverão ser conversadas, mas a foto agora é outra e é preciso que os pais entendam que tudo o que plantaram com dedicação e amor está bem guardado dentro de cada um deles, mas não é o caso de se afastar e nem ficar grudado demais, para decepção de muitos pais o acesso a revelações íntimas de seus filhos não é prioritário para eles que podem eleger outras pessoas para suas confissões, portanto ao invés de reclamar, vale a pena aproximar-se dos amigos do filho, não para participar de suas rodas de conversa, mas para abrir espaço para que esses encontros aconteçam dentro de casa. A polaridade em tratar o filho como o grande amigo ou o grande desconhecido não funciona aqui, o que o jovem continua precisando é de alguém que o acompanhe, corrija, seja firme e que o tratem com respeito, amigos bem melhores ele irá descobrir fora de casa, o pai não é amigo do filho, o que não significa que seja inimigo, mas o pai é e deveria sempre se portar como pai, alguém que cobra, orienta e se mostra solidário quando seu filho precisa.
Cabe lembrar que também nessa fase os pais encaram uma morte, seu filho pequeno, cresceu e os pais se encontram diante de uma nova realidade, pois se tornaram mais desnecessários do que antes e isso incomoda e perturba, vão percebendo que o ninho vai ficar vazio, que eles próprios envelheceram e precisam encarar essa nova fase de suas vidas, curiosamente esquecem que começaram sós, depois se transformaram em um casal e com o passar dos anos essa relação vai se tornando mais distante, o que não significa abandono, mas afinal não criamos filhos para o mundo, ou essa também seria uma frase difícil de cumprir, realmente, não é tarefa fácil, mas absolutamente necessária.

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