AQUILO QUE ESTÁ ESCRITO
NO CORAÇÃO NÃO NECESSITA DE AGENDAS, PORQUE A GENTE NÃO ESQUECE. O QUE A
MEMÓRIA AMA FICA ETERNO.
RUBEM ALVES.
Educar
um filho não é tarefa fácil, mas todos nós principiantes recebemos um dia essa
incumbência e a exercemos da maneira que podíamos, geralmente com força de
vontade e, certamente, com boa intencionalidade, que descobrimos depois não
serem suficientes, mesmo assim insistimos, brigamos, erramos e finalmente
descobrimos que o que movimentou tudo isso foi revestido de amor e isso nos
conforta.
A
criança recebe o amor de seus pais, que lhe é dado de graça, nós também temos
essa reciproca, porém esquecemos na maioria das vezes de que o fato de amarmos
muito os nossos filhos não nos impede de também exigir deles respeito e
reverência, isso também faz parte da atitude de amar. Parece que nos esquecemos
de ler nas letras miúdas do contrato que fizemos com o mundo espiritual de que
cuidaríamos, protegeríamos e amaríamos os nossos filhos, mas, sobretudo os
conduziríamos com segurança, respeito e confiança; pois bem as crianças tem
essa expectativa dos adultos que as conduzem, principalmente de seus pais que
sabem o que é bom para elas e não necessitam barganhar com seus filhos esse
amor que já lhes pertence, portanto, podem e devem colocar limites, suportar
frustrações e ensinar para elas que a realidade não existe para nos satisfazer,
que não se pode ter tudo o que se quer na hora que desejarmos, que nem tudo sai
conforme planejado, mas que apesar disso tudo estamos ao seu lado, isso também
é amor e deve ser ensinado a elas.
Costumo
dizer que ser pai é também saber se tornar desnecessário, para
desconforto de muitos pais que questionam essa afirmação, pois me garantem que
sua presença é muito importante para a vida de seus filhos e eu respondo que
sim, existe e sempre existirá a importância dessa relação, mas ajudar na
autonomia e no desenvolvimento é uma qualidade que não deveríamos abrir mão,
trazendo à nossa própria consciência que nosso papel como condutores que somos
perante nossos filhos está justamente na importância dessa função, ou seja,
mostrar a direção a seguir, incentivar, torcer e se afastar à medida que vão
crescendo, trabalhar internamente essas dificuldades é um ato de amor. Na
contra mão disso fica nosso egoísmo em retermos nossos filhos para si e o
grande boicote que fazemos a eles é promover a acomodação de receberem tudo de “mão
beijada”, sem esforço e sem sacrifício o que demostra que mesmo amando muito se
pode confundir e inverter esses valores, com isso as crianças e os jovens não
aprendem o que é reconhecimento, não tiveram a experiência de que aquilo que
dispõem foi oferecido pelos pais, a roupa da moda, o tênis bonito, a comida, o
celular e tudo o mais foi oferecido pelos pais, que muitas vezes, não exigem
nada em troca, nem um gesto de carinho e desse modo é lógico que serão
necessários “ad infinitum”, porque atrás dessa abundância de excessos existe
também a incoerência de oferecer ao filho tudo aquilo que julgamos que seja bom
para ele, talvez sem refletir antes se exista de fato tal necessidade. As
coisas oferecidas às crianças deveriam passar por esse crivo, o que adianta
comprar o vigésimo carrinho ou a décima boneca se a criança nem brinca com todos
aqueles brinquedos que já tem isso gera desperdício que se atrela a duas outras
situações a falta de reverência e a ingratidão, pois, vira uma abundância, esse
excesso, mesmo revestido de carinho, fica desproporcional, inadequado,
demasiado, o amor também tem seus tempos e suas medidas. A criança entende
isso, os adultos nem sempre, porque desconfiam de que um gesto de amor também
pode estar na contido na palavra “não”, receiam perder o amor de seus filhos e
isso é um grande engano. Devemos estimular a criança a superar as suas
dificuldades e não fazendo isso por elas, o amor é também confiança, precisamos
confiar que sabemos o que é melhor para nossos filhos.
E
isso tudo fica na memória da criança, essas nossas atitudes, esses cortes que
precisam ser feitos para que a criança e depois o jovem possa se lembrar,
porque foi ensinado pelos pais que ele aprendeu a respeitar e confiar, essa
atitude dos pais é estruturante no equilíbrio psíquico da criança, pois norteia
e dá uma direção segura.
Precisamos
de coragem para isso. Coragem não é a ausência do medo, pois educar um filho
não é tarefa fácil. Coragem é lançar-se a despeito do medo. Desejo a todos, portanto,
coragem com amor.
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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