Lembro-me de
ser uma criança muito tímida, falava pouco, observava tudo à minha volta, mas
tinha grande dificuldade de participar das brincadeiras com as outras crianças,
lembro também como gostava de ouvir histórias, não me recordo dos meus pais contarem
histórias de livros, mas ficaram na memória as coisas que diziam sobre a
família e as dificuldades que passaram em suas juventudes e de minha mãe que inventava
estórias para eu comer ou dormir.
Mais tarde
tive uma experiência muito curiosa, havia um empregado que trabalhava no sítio
de meu pai, ele era andarilho e de tempos em tempos aparecia e pedia emprego,
ficava o tempo de juntar algum dinheiro para partir depois para mais uma
aventura e ele gostava de contar causos e histórias de suas viagens para nós,
na minha imaginação infantil aquilo era o mais próximo que experimentava com o
universo mágico e aventuresco do mundo ainda desconhecido e da forma como ele
descrevia suas narrativas trazendo suas peripécias de uma forma encantadora,
não importava se havia uma sombra de mentira nesses contos e recordo que por
mais inverossímeis que fossem essas histórias envolveram minha imaginação
durante anos. Naturalmente, como todo bom contista ele sabia agradar os seus ouvintes,
era isso que o instigava a inventar mais ainda, o estimulante em ouvi-lo era
justamente isso, ele tinha prazer em contar suas histórias que imaginadas ou
não, de fato não importava muito, era pura diversão, uma delícia poder ouvi-lo.
Mais tarde
experimentei essa sensação com os meus filhos, contava histórias, inventava
outras, então descobri que contar uma história para mim traz a sensação de
poder transmitir essa excitação que sentia quando ouvia aquele homem contar
suas aventuras, quando conto uma história seja para crianças ou para adultos o
meu prazer é envolver esse expectador no universo mágico e fantasioso que
somente os bons contos, aqueles que nos motivam podem propiciar aqueles que
estão ouvindo. Realizo-me quando escolho uma história que me traz emoção e
encantamento podendo compartilha-la com alguém e fico imaginando que devia ser
isso que o contador de causos da minha infância também deveria sentir. Quem conta um conto ganha um ponto e a magia
desse universo é o que ajuda à criança a suportar a realidade que terá de
enfrentar durante a vida.
Alguns pais
questionam a insistência na narrativa de contos de fadas introduzidos desde
cedo no ritmo de vida da criança, temem que desse modo seus filhos tenham uma
visão distorcida da realidade e se preocupam que as crianças ouvindo essas
fantasias não estejam preparadas para o futuro. O que talvez esses pais não
percebam é que, justamente ao contrário, são exatamente essas histórias
recheadas de arquétipos que as crianças entendem perfeitamente que possibilitarão
que elas possam enfrentar a realidade que a vida irá impor futuramente. A falsa
ideia de que devemos precocemente explicar e mostrar tudo para a criança sem
ressalvas acarreta em uma restrição de sua infância e no grande roubo de
expectativa em tirar esse tempo importante na vida infantil, à criança precisa
ter tempo de ser criança. Portanto, bem vindos esses maravilhosos e fantásticos
contos de fadas.
(vejam algumas indicações de livros e também sugestões de contos em
outras postagens desse Blog).
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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