AQUILO QUE COLOCO ADIANTE DE MIM,
COMO
MEU PROPÓSITO DE VIDA
É NÃO VIVER DESCONECTADO DE MIM.
Mario Sergio Cortella.
Em tempos
atuais onde as discussões e os diletantismos estão em moda e todos se sentem
compelidos a emitir as suas críticas parece não haver espaço para aqueles que
não se expressam ou que não compartilham suas opiniões. Seria quase como “nadar
contra a corrente” deixar de dar também o seu parecer sobre determinado assunto
e, caso desconheça, poder consultar
rapidamente, então após sentir-se satisfatoriamente atualizado responder e não
ficar “por fora” ou deixar a impressão de estar desatualizado sobre aquele
assunto tão importante que todos comentam, mas que pouco ou quase nada tem a
ver com interesse de fato, mas hoje em dia é assim, precisamos opinar e imediatamente de preferência, não podemos
ficar desconectados.
Saber das
coisas, adquirir informações certamente é muito interessante, não teria sentido
não disponibilizar de todo aparato tecnológico para se conectar com tudo e
todos, mas a questão talvez não fosse eleger a relevância desses dados? Afinal,
quem classifica essa relevância? Qual o propósito de tantas discussões e tantas
preocupações que na maioria das vezes nem ao menos tem algum significado em
nossas vidas?
Estão aí
presentes as mídias sociais que comprovam isso, os grupos de wattszap, o
facebook, o twitter, o instagram e a necessidade de registrar “on line” aquilo
que estamos observando no momento em que estamos vivendo, mas isso é realmente
viver, esse seria mesmo o propósito ou apenas exibição? Parece que não há a mesma graça em ir visitar
algum lugar bonito e deixar a memória fazer esse trabalho de registro, uma
selfie, uma foto, um comentário, isso sim comprova e certifica que realmente
estivemos lá. Não significa um passo para trás, um retrocesso ou uma negação
dos avanços tecnológicos os quais felizmente dispomos, mas trazer à reflexão
porque nos deixamos assim envolver a tal ponto que a hipótese de nos privarmos
desses itens em nossa vida já nos angustia e para alguns simplesmente,
paralisa.
Não devíamos
ficar assim tão expostos ao mundo exterior como cada vez mais estamos fazendo e,
embora isso possa parecer uma grande alienação, quando exercemos esse filtro
teremos mais capacidade de discernir e escolher, não por impulso ou modismo,
mas por identificação e consciência. Parece que não, mas essas inúmeras
mensagens que são diariamente remetidas nos grupos sociais não são pessoais, ao
contrário são reproduzidas antes de chegarem até nós que igualmente replicamos
e, desse modo, exercemos também nosso papel de transmissor de algo que muitas
vezes nem concordamos de fato, mas não deixamos de passar adiante essa
corrente.
Já dizia o
poeta Paulo Leminski: “o barro toma a
forma que você quiser você nem sabe estar fazendo a forma que o barro quer”
e como muitas vezes é difícil sair desse modelo vamo-nos acostumando com essa
massificação acreditando mesmo que estamos fazendo exatamente o que queremos.
Precisamos provocar dentro de nós esse incomodo, não optando pela neutralidade
e tampouco pela omissão, os caminhos que tomamos são frutos de nossas escolhas,
portanto, nessa época que dispomos de tantas respostas não seria interessante
pensar antes nas respostas tendo a tranquilidade necessária, buscando na
serenidade o critério de saber se determinadas perguntas necessitam mesmo de
retorno.
O ensinamento
de João Baptista que humildemente optou por não aparecer demais e dizia que “precisava diminuir para que outro
aparecesse” evoca dentro de nós essa grande dificuldade que padecemos em
nosso cotidiano em relação aos enfrentamentos nas nossas relações pessoais, nas
relações familiares, com os colegas de trabalho, com os nossos vizinhos, na
comunidade escolar, enfim precisamos também diminuir diante do outro, ter a
paciência de ouvir e não necessariamente responder, pois muitas vezes a escuta
é suficiente, pois estamos mesmos acostumados a falar antes de pensar, o
pensamento joanino expressa essa humildade de acolhimento de prestar atenção e
calar para poder refletir e talvez depois até responder, mas com consciência, isso
não é desconsideração, ao contrário é amparar com dignidade aquilo que o outro
expressou. Diminuir para que o outro apareça. Saber calar é um aprendizado
difícil, mas necessário. Falamos isso para as crianças: - Agora espera que o
papai está conversando, depois você fala. E a criança vai aprendendo aos poucos
que existe a hora de falar e a de calar, mas em muitas ocasiões esquecemos esse
ensinamento e as crianças também deixam de receber essa lição porque imitam
nossa verborragia.
As escolhas
também cobram o seu preço, ao optar por um desejo, necessariamente estamos abrindo mão de um outro e precisamos parar um pouco o que estamos fazendo
para refletir sobre o tempo gasto com tantas notícias e voltarmos nossa atenção
para algo mais estável, prioritário. Essa pode ser uma boa definição de
felicidade que é quando nossa vida se encontra em equilíbrio. Estabilidade é
feita de dentro para fora, necessita de calma, sossego e acolhimento, diminuir,
sair de cena e deixar o outro brilhar.
José Carlos N. Machado.
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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