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terça-feira, 6 de novembro de 2018

VIVER EM CONEXÃO CONSIGO MESMO (artigo para o informativo da Escola Waldorf Francisco de Assis)









AQUILO QUE COLOCO ADIANTE DE MIM,
 COMO MEU PROPÓSITO DE VIDA
É NÃO VIVER DESCONECTADO DE MIM.
Mario Sergio Cortella.

Em tempos atuais onde as discussões e os diletantismos estão em moda e todos se sentem compelidos a emitir as suas críticas parece não haver espaço para aqueles que não se expressam ou que não compartilham suas opiniões. Seria quase como “nadar contra a corrente” deixar de dar também o seu parecer sobre determinado assunto e, caso desconheça, poder  consultar rapidamente, então após sentir-se satisfatoriamente atualizado responder e não ficar “por fora” ou deixar a impressão de estar desatualizado sobre aquele assunto tão importante que todos comentam, mas que pouco ou quase nada tem a ver com interesse de fato, mas hoje em dia é assim, precisamos opinar e  imediatamente de preferência, não podemos ficar desconectados.
Saber das coisas, adquirir informações certamente é muito interessante, não teria sentido não disponibilizar de todo aparato tecnológico para se conectar com tudo e todos, mas a questão talvez não fosse eleger a relevância desses dados? Afinal, quem classifica essa relevância? Qual o propósito de tantas discussões e tantas preocupações que na maioria das vezes nem ao menos tem algum significado em nossas vidas?
Estão aí presentes as mídias sociais que comprovam isso, os grupos de wattszap, o facebook, o twitter, o instagram e a necessidade de registrar “on line” aquilo que estamos observando no momento em que estamos vivendo, mas isso é realmente viver, esse seria mesmo o propósito ou apenas exibição?  Parece que não há a mesma graça em ir visitar algum lugar bonito e deixar a memória fazer esse trabalho de registro, uma selfie, uma foto, um comentário, isso sim comprova e certifica que realmente estivemos lá. Não significa um passo para trás, um retrocesso ou uma negação dos avanços tecnológicos os quais felizmente dispomos, mas trazer à reflexão porque nos deixamos assim envolver a tal ponto que a hipótese de nos privarmos desses itens em nossa vida já nos angustia e para alguns simplesmente, paralisa.
Não devíamos ficar assim tão expostos ao mundo exterior como cada vez mais estamos fazendo e, embora isso possa parecer uma grande alienação, quando exercemos esse filtro teremos mais capacidade de discernir e escolher, não por impulso ou modismo, mas por identificação e consciência. Parece que não, mas essas inúmeras mensagens que são diariamente remetidas nos grupos sociais não são pessoais, ao contrário são reproduzidas antes de chegarem até nós que igualmente replicamos e, desse modo, exercemos também nosso papel de transmissor de algo que muitas vezes nem concordamos de fato, mas não deixamos de passar adiante essa corrente.
Já dizia o poeta Paulo Leminski: “o barro toma a forma que você quiser você nem sabe estar fazendo a forma que o barro quer” e como muitas vezes é difícil sair desse modelo vamo-nos acostumando com essa massificação acreditando mesmo que estamos fazendo exatamente o que queremos. Precisamos provocar dentro de nós esse incomodo, não optando pela neutralidade e tampouco pela omissão, os caminhos que tomamos são frutos de nossas escolhas, portanto, nessa época que dispomos de tantas respostas não seria interessante pensar antes nas respostas tendo a tranquilidade necessária, buscando na serenidade o critério de saber se determinadas perguntas necessitam mesmo de retorno.
O ensinamento de João Baptista que humildemente optou por não aparecer demais e dizia que “precisava diminuir para que outro aparecesse” evoca dentro de nós essa grande dificuldade que padecemos em nosso cotidiano em relação aos enfrentamentos nas nossas relações pessoais, nas relações familiares, com os colegas de trabalho, com os nossos vizinhos, na comunidade escolar, enfim precisamos também diminuir diante do outro, ter a paciência de ouvir e não necessariamente responder, pois muitas vezes a escuta é suficiente, pois estamos mesmos acostumados a falar antes de pensar, o pensamento joanino expressa essa humildade de acolhimento de prestar atenção e calar para poder refletir e talvez depois até responder, mas com consciência, isso não é desconsideração, ao contrário é amparar com dignidade aquilo que o outro expressou. Diminuir para que o outro apareça. Saber calar é um aprendizado difícil, mas necessário. Falamos isso para as crianças: - Agora espera que o papai está conversando, depois você  fala. E a criança vai aprendendo aos poucos que existe a hora de falar e a de calar, mas em muitas ocasiões esquecemos esse ensinamento e as crianças também deixam de receber essa lição porque imitam nossa verborragia.
As escolhas também cobram o seu preço, ao optar por um desejo, necessariamente estamos abrindo mão de um outro e precisamos parar um pouco o que estamos fazendo para refletir sobre o tempo gasto com tantas notícias e voltarmos nossa atenção para algo mais estável, prioritário. Essa pode ser uma boa definição de felicidade que é quando nossa vida se encontra em equilíbrio. Estabilidade é feita de dentro para fora, necessita de calma, sossego e acolhimento, diminuir, sair de cena e deixar o outro brilhar.

José Carlos N. Machado.


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Dr José Carlos Machado
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