A vida não pode ser
economizada para o amanhã, acontece sempre no presente.
Rubem Alves.
Nosso
cotidiano, nossos problemas diários e nosso trabalho nos envolvem de tal forma
que às vezes parece que apenas reagimos às coisas a nossa volta e já não nos envolvemos
mais como antes, economizamos a alegria de viver para amanhã.
E
desse modo vamos levando a vida, nos desapegando dos amigos que nos esquecemos
de visitar, de nosso (a) companheiro (a) que não fazemos questão de agradar,
até dos nossos filhos que perdemos a chance de acompanhar e, desse modo,
guardamos um pouquinho da felicidade para um dia que ainda vai chegar e
deixamos de viver o agora.
A
palavra paixão vem do latim passio/passiones e significa
sofrimento, padecimento, um apaixonado é aquele que suporta, aguenta o
desprezo, a humilhação e o descaso do ser amado. Dizem que a paixão cega e o
ser apaixonado se conforma em esperar, a felicidade talvez demore, mas acontecerá.
A paixão seduz, envolve e nos aprisiona. Nos contos, na literatura e no ideário
romântico os apaixonados passam por várias provas de amor para finalmente
ficarem juntos. Mas a paixão, necessariamente, precisa acabar um dia, por uma
questão de equilíbrio, por uma possibilidade de algo menos sofrido, por um
renascimento, a paixão precisa morrer.
Estamos
nos aproximando da Semana Santa e a sexta-feira da paixão nos remete ao
sofrimento de Cristo que antes de ser preso e encaminhado à crucificação, disse
aos seus discípulos; “se o grão de trigo caindo na terra não
morrer, fica ele só; mas se morrer, produzirá muitos frutos – livro de
Jó (12; 24)”, ou seja, a paixão, o padecimento, o sofrimento acontecem e devem
dar lugar ao amor para que exista a continuidade. Se existe a paixão que é
fugaz, existe também o amor que é perene e na tradição católica cristã a
ressureição é a possibilidade dessa transformação.
Quando
pensamos na família e pela paixão que temos por nossos filhos é preciso também
avaliar que esse apaixonamento nos cega, nos paralisa e nos induz a alguns
equívocos, porque esse sentimento que ludibria nossa razão também nos desvia de
um distanciamento necessário e menos ardoroso, o que não significa frieza ou
distanciamento, mas que permita um renascimento necessário para que essa
relação se fortifique e se equilibre. Os pais amam seus filhos e geralmente são
correspondidos, mas a incondicionalidade não parece acontecer em via dupla, ou
seja, nossos filhos são menos apaixonados por nós do que ao contrário e cabe
aos adultos sofrerem menos por essa paixão não correspondida transformando esse
sentimento em amor. É lógico que os pais amam seus filhos e esse amor
transformado suporta a rejeição dos filhos que talvez não queiram nenhum tipo
de restrição, pois a paixão tudo suporta. A paixão renascida atua agora com a
força necessária para conduzir a criança na direção amorosa que ela precisa
seguir. Em outras palavras, não se tornam reféns de uma paixão cega que aceita
tudo. A relação parental também precisa se transformar algo precisa morrer para
renascer, algo mais forte ainda.
No
desenvolvimento infantil, a criança passa por fases é importante que os pais fiquem
emocionalmente distanciados ao menos para terem o discernimento necessário para
interferir quando necessário e para isso não podem se deixar seduzir pelas
contrariedades que certamente deverão surgir, pois desse modo estarão tão
apaixonadamente vinculados que terão uma percepção sem isenção e isso pode
gerar muitos problemas para a criança que precisa de uma condução segura e
amorosa.
Flagramo-nos
muitas vezes completamente apaixonados observando alguns comportamentos
infantis, ficamos apaixonados com as caras, bocas e trejeitos dos pequenos que
percebem essa força que exercem e que a utilizam com maestria na manipulação
dos seus desejos. Isso não significa que tenhamos de ser ressecados a essas
situações, mas convém redimensionar essa cegueira e agir quando essa artimanha
tomar um caminho inadequado. Por exemplo, os avós que tem seus olhos
apaixonados voltados aos netos que passam a abusar deles justamente porque não
recebem negativas, pois os apaixonados somente dizem sim. O amor que se
transforma pode dizer e também suportar um não.
José Carlos Neves Machado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
www.mediconaescola.com
Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar