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terça-feira, 6 de novembro de 2018

ECONOMIA DE VIDA (artigo)









A vida não pode ser economizada para o amanhã, acontece sempre no presente.
Rubem Alves.



Nosso cotidiano, nossos problemas diários e nosso trabalho nos envolvem de tal forma que às vezes parece que apenas reagimos às coisas a nossa volta e já não nos envolvemos mais como antes, economizamos a alegria de viver para amanhã.
E desse modo vamos levando a vida, nos desapegando dos amigos que nos esquecemos de visitar, de nosso (a) companheiro (a) que não fazemos questão de agradar, até dos nossos filhos que perdemos a chance de acompanhar e, desse modo, guardamos um pouquinho da felicidade para um dia que ainda vai chegar e deixamos de viver o agora.
A palavra paixão vem do latim passio/passiones e significa sofrimento, padecimento, um apaixonado é aquele que suporta, aguenta o desprezo, a humilhação e o descaso do ser amado. Dizem que a paixão cega e o ser apaixonado se conforma em esperar, a felicidade talvez demore, mas acontecerá. A paixão seduz, envolve e nos aprisiona. Nos contos, na literatura e no ideário romântico os apaixonados passam por várias provas de amor para finalmente ficarem juntos. Mas a paixão, necessariamente, precisa acabar um dia, por uma questão de equilíbrio, por uma possibilidade de algo menos sofrido, por um renascimento, a paixão precisa morrer.
Estamos nos aproximando da Semana Santa e a sexta-feira da paixão nos remete ao sofrimento de Cristo que antes de ser preso e encaminhado à crucificação, disse aos seus discípulos;se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, produzirá muitos frutos – livro de Jó (12; 24)”, ou seja, a paixão, o padecimento, o sofrimento acontecem e devem dar lugar ao amor para que exista a continuidade. Se existe a paixão que é fugaz, existe também o amor que é perene e na tradição católica cristã a ressureição é a possibilidade dessa transformação.
Quando pensamos na família e pela paixão que temos por nossos filhos é preciso também avaliar que esse apaixonamento nos cega, nos paralisa e nos induz a alguns equívocos, porque esse sentimento que ludibria nossa razão também nos desvia de um distanciamento necessário e menos ardoroso, o que não significa frieza ou distanciamento, mas que permita um renascimento necessário para que essa relação se fortifique e se equilibre. Os pais amam seus filhos e geralmente são correspondidos, mas a incondicionalidade não parece acontecer em via dupla, ou seja, nossos filhos são menos apaixonados por nós do que ao contrário e cabe aos adultos sofrerem menos por essa paixão não correspondida transformando esse sentimento em amor. É lógico que os pais amam seus filhos e esse amor transformado suporta a rejeição dos filhos que talvez não queiram nenhum tipo de restrição, pois a paixão tudo suporta. A paixão renascida atua agora com a força necessária para conduzir a criança na direção amorosa que ela precisa seguir. Em outras palavras, não se tornam reféns de uma paixão cega que aceita tudo. A relação parental também precisa se transformar algo precisa morrer para renascer, algo mais forte ainda.
No desenvolvimento infantil, a criança passa por fases é importante que os pais fiquem emocionalmente distanciados ao menos para terem o discernimento necessário para interferir quando necessário e para isso não podem se deixar seduzir pelas contrariedades que certamente deverão surgir, pois desse modo estarão tão apaixonadamente vinculados que terão uma percepção sem isenção e isso pode gerar muitos problemas para a criança que precisa de uma condução segura e amorosa.
Flagramo-nos muitas vezes completamente apaixonados observando alguns comportamentos infantis, ficamos apaixonados com as caras, bocas e trejeitos dos pequenos que percebem essa força que exercem e que a utilizam com maestria na manipulação dos seus desejos. Isso não significa que tenhamos de ser ressecados a essas situações, mas convém redimensionar essa cegueira e agir quando essa artimanha tomar um caminho inadequado. Por exemplo, os avós que tem seus olhos apaixonados voltados aos netos que passam a abusar deles justamente porque não recebem negativas, pois os apaixonados somente dizem sim. O amor que se transforma pode dizer e também suportar um não.
A paixão é uma necessidade do ser humano, precisamos dela para nossas realizações diárias, no trabalho, afazeres, relações, mas talvez o segredo seja estar continuamente se reapaixonando e desse modo se encantando e transformando esse sentimento em algo mais forte e permanente que é o amor.  


                                                                                   José Carlos Neves Machado.

      

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