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sexta-feira, 11 de novembro de 2022

UM POUCO DE BOM SENSO AJUDA - artigo































 


UM POUCO DE BOM SENSO AJUDA.

 

Um certo conquistador perguntou a Nasrudin:

“Mulá, todos os grandes governantes do passado tinham títulos honoríficos formados com o termo DEUS; havia, por exemplo: “Abençoado por Deus”, “Reconhecido por Deus” e assim por diante. Que tal um nome desses para mim?”.

“Deus me livre”, respondeu Nasrudin.

 

“Mulá, seu burro desapareceu.”

“Graças a Deus eu não estava em cima do burro quando isso aconteceu, senão eu teria desaparecido também”

Idres Shah.

 

Pais precisam e devem ter autoridade sobre seus filhos (vide capítulo “Limites possíveis”), o que não significa que devam cria-los somente para si mesmos, ao contrário, o enorme e imenso desafio é prepara-los para o mundo, se tornando cada vez mais desnecessários para eles, por mais doloroso que isso venha a ser.

Como não existe manual de educação doméstica e o bom senso nem sempre é um artigo disponível nas prateleiras do supermercado, cabe aos pais criarem suas próprias regras, de preferência baseadas nos critérios de adequação e discernimento e tendo como princípio básico, que necessitamos entender e também ensinar às crianças que “o mundo não foi feito para nos satisfazer”, regra de ouro para estabelecer um limite entre o que a criança pode ou não fazer.

Nossos valores éticos, morais, a maneira como gostamos de expressar palavras e sentimentos, nossas manias, são coisas particulares e que nos pertencem e com as quais nos identificamos como família; aqueles que fazem parte desse grupo aceitam tudo isso muito bem, talvez os que estão de fora não entendam o jeito de ser daquele grupo. A gente se orgulha e se protege, em casa um cuida do outro. Essa é a ideia que transmitimos à criança: nossa família é assim!

O primeiro “teste-drive” acontece quando a criança vai para a escola, crianças pequenas ainda estão protegidas dentro de casa, pois, conhecem e compartilham uma socialização doméstica que será diferente da que encontrará nesse novo meio social. Para esse próximo passo mais coletivo, os novos elementos serão apresentados, talvez rejeitados a princípio, mas aos poucos serão também aceitos pela criança que se familiarizará com essas novidades. A criança também aprenderá gestos e atitudes dos seus novos colegas e levara para sua casa essas inovações (leia mais no capítulo Educação doméstica: onde encontro isso?).

 Não somente os bons hábitos são imitados, chutes, palavrões e outras coisas desagradáveis também costumam vir nesse pacote e os pais devem ter o discernimento de pontuarem que isso ou aquilo não faz parte de seus valores, da sua família, então a criança começa a perceber que o mundo é grande, tem muita coisa diferente que ela desconhecia, mas que dentro de sua casa, a família continua sendo referência e apoio. A sua família vai estar ali quando ela precisar.

A maneira como conduzimos nossos valores e trabalhamos internamente nossas dificuldades, a disponibilidade que cada um tem de refletir e reavaliar suas decisões faz toda a diferença. Essa atitude será absorvida e imitada pela criança. Ensinamos também a elas que muitas coisas novas estarão esperando por ela mundo afora e que não nascemos prontos, vamos nos completando a cada dia, aprendendo coisas que antes não sabíamos e melhorando através das pessoas que conhecemos. Que tem dias que nosso amigo está chateado e nem quis falar, mas que tem outros dias em que também ficamos de cara amarrada e não queremos conversar com ninguém. Enfim que tem espaço para todos nesse mundo.

Se temos como meta: “meus filhos, minhas regras”, corremos o risco de sermos intransigentes, algo dogmáticos, principalmente se as regras são absolutas e não admitam ser questionadas (no capítulo, “Falando com as paredes”, comentamos sobre isso). Dentro de casa é mais fácil estabelecermos os limites, à medida que a criança vai “ganhando o mundo” também começam os confrontos e algumas vezes precisamos reavaliar nossas fronteiras e repensar algumas considerações.

Não tem problema voltar atrás, refletir e admitir que cometemos um erro, faz parte do aprendizado, as crianças não nos julgarão e entenderão essas contradições se forem sinceras, mas, certamente, sofrerão com injustiças de nossos atos autoritários e sem propósito. Apenas porque um dia pensamos desse modo, não significa que precisamos ser inflexíveis. Geralmente a estagnação é o que de pior pode acontecer na educação das crianças e em nosso próprio desenvolvimento pessoal.

Conheço pais que se orgulham de serem rígidos e disciplinadores, acreditando que com austeridade e método severo conseguem atenção e respeito de seus filhos, não perceberam ainda que a educação mais eficiente vem através do ritmo, do amor, da atenção que lhes dispensamos e reconhecer que também erramos, mas que ainda somos os responsáveis por eles, entendem a diferença entre autoridade e autoritarismo. Preparamos nossos filhos para a vida fora de casa, além do nosso alcance, certos e confiantes que fizemos um bom trabalho.

Ter filhos não é para principiantes, embora os primeiros filhos encontrem pais completamente inexperientes e assustados, mas é assim mesmo. Dão trabalho e preocupações, percebemos isso assim que nascem e que apesar de nossa inabilidade, insegurança e imaturidade em cuidar de um ser tão pequeno e frágil essas crianças nos ensinam algo importantíssimo e fundamental: nos transformaram e nos fizeram melhores do que éramos antes delas.  




Médico Escolar - Dr José Carlos Machado www.mediconaescola.com Acompanhe também nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar e @antroposofiaemdia.

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