UM
POUCO DE BOM SENSO AJUDA.
Um certo conquistador perguntou a Nasrudin:
“Mulá, todos os grandes governantes do passado
tinham títulos honoríficos formados com o termo DEUS; havia, por exemplo:
“Abençoado por Deus”, “Reconhecido por Deus” e assim por diante. Que tal um
nome desses para mim?”.
“Deus me livre”, respondeu Nasrudin.
“Mulá, seu burro desapareceu.”
“Graças a Deus eu não estava em cima do burro
quando isso aconteceu, senão eu teria desaparecido também”
Idres Shah.
Pais
precisam e devem ter autoridade sobre seus filhos (vide capítulo “Limites
possíveis”), o que não significa que devam cria-los somente para si mesmos,
ao contrário, o enorme e imenso desafio é prepara-los para o mundo, se tornando
cada vez mais desnecessários para eles, por mais doloroso que isso venha a ser.
Como
não existe manual de educação doméstica e o bom senso nem sempre é um artigo
disponível nas prateleiras do supermercado, cabe aos pais criarem suas próprias
regras, de preferência baseadas nos critérios de adequação e discernimento e
tendo como princípio básico, que necessitamos entender e também ensinar às
crianças que “o mundo não foi feito para nos satisfazer”, regra de ouro para
estabelecer um limite entre o que a criança pode ou não fazer.
Nossos
valores éticos, morais, a maneira como gostamos de expressar palavras e
sentimentos, nossas manias, são coisas particulares e que nos pertencem e com
as quais nos identificamos como família; aqueles que fazem parte desse grupo
aceitam tudo isso muito bem, talvez os que estão de fora não entendam o jeito
de ser daquele grupo. A gente se orgulha e se protege, em casa um cuida do
outro. Essa é a ideia que transmitimos à criança: nossa família é assim!
O
primeiro “teste-drive” acontece quando a criança vai para a escola,
crianças pequenas ainda estão protegidas dentro de casa, pois, conhecem e
compartilham uma socialização doméstica que será diferente da que encontrará
nesse novo meio social. Para esse próximo passo mais coletivo, os novos
elementos serão apresentados, talvez rejeitados a princípio, mas aos poucos
serão também aceitos pela criança que se familiarizará com essas novidades. A
criança também aprenderá gestos e atitudes dos seus novos colegas e levara para
sua casa essas inovações (leia mais no capítulo Educação doméstica: onde
encontro isso?).
Não somente os bons hábitos são imitados,
chutes, palavrões e outras coisas desagradáveis também costumam vir nesse
pacote e os pais devem ter o discernimento de pontuarem que isso ou aquilo não
faz parte de seus valores, da sua família, então a criança começa a perceber
que o mundo é grande, tem muita coisa diferente que ela desconhecia, mas que
dentro de sua casa, a família continua sendo referência e apoio. A sua família
vai estar ali quando ela precisar.
A
maneira como conduzimos nossos valores e trabalhamos internamente nossas
dificuldades, a disponibilidade que cada um tem de refletir e reavaliar suas
decisões faz toda a diferença. Essa atitude será absorvida e imitada pela
criança. Ensinamos também a elas que muitas coisas novas estarão esperando por
ela mundo afora e que não nascemos prontos, vamos nos completando a cada dia,
aprendendo coisas que antes não sabíamos e melhorando através das pessoas que
conhecemos. Que tem dias que nosso amigo está chateado e nem quis falar, mas
que tem outros dias em que também ficamos de cara amarrada e não queremos
conversar com ninguém. Enfim que tem espaço para todos nesse mundo.
Se
temos como meta: “meus filhos, minhas regras”, corremos o risco de
sermos intransigentes, algo dogmáticos, principalmente se as regras são
absolutas e não admitam ser questionadas (no capítulo, “Falando com as
paredes”, comentamos sobre isso). Dentro de casa é mais fácil
estabelecermos os limites, à medida que a criança vai “ganhando o mundo”
também começam os confrontos e algumas vezes precisamos reavaliar nossas
fronteiras e repensar algumas considerações.
Não
tem problema voltar atrás, refletir e admitir que cometemos um erro, faz parte
do aprendizado, as crianças não nos julgarão e entenderão essas contradições se
forem sinceras, mas, certamente, sofrerão com injustiças de nossos atos
autoritários e sem propósito. Apenas porque um dia pensamos desse modo, não
significa que precisamos ser inflexíveis. Geralmente a estagnação é o que de
pior pode acontecer na educação das crianças e em nosso próprio desenvolvimento
pessoal.
Conheço
pais que se orgulham de serem rígidos e disciplinadores, acreditando que com
austeridade e método severo conseguem atenção e respeito de seus filhos, não
perceberam ainda que a educação mais eficiente vem através do ritmo, do amor,
da atenção que lhes dispensamos e reconhecer que também erramos, mas que ainda
somos os responsáveis por eles, entendem a diferença entre autoridade e
autoritarismo. Preparamos nossos filhos para a vida fora de casa, além do nosso
alcance, certos e confiantes que fizemos um bom trabalho.
Ter
filhos não é para principiantes, embora os primeiros filhos encontrem pais
completamente inexperientes e assustados, mas é assim mesmo. Dão trabalho e
preocupações, percebemos isso assim que nascem e que apesar de nossa inabilidade,
insegurança e imaturidade em cuidar de um ser tão pequeno e frágil essas
crianças nos ensinam algo importantíssimo e fundamental: nos transformaram e
nos fizeram melhores do que éramos antes delas.
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Médico na Escola
Dr José Carlos Machado
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