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terça-feira, 3 de junho de 2025

CONSIDERAÇÕES JOANINAS (crônica)



CONSIDERAÇÕES JOANINAS

 

“As pessoas que querem ser as portadoras do futuro têm de desenvolver a possibilidade de transformar os conceitos rígidos, dogmáticos, em conceitos móveis, porque assim como mudam os tempos, também têm de mudar nossos conceitos, se quisermos compreender o mundo”

(Rudolf Steiner)

 

“JOÃO foi aquele que veio redimir o amor e salvar o homem do egoísmo causado pela ação de forças destrutivas em sua natureza, chamando-o para uma outra realidade, para um novo comportamento ético”.

Os pais precisam indicar um novo caminho através da autonomia, abrindo mão de sua presença afim de que a criança se transforme, saindo da esfera egóica e resgatando esse amor que será apresentado de outra forma, não servindo, mas conduzindo amorosamente para que aconteça a mudança, as forças destrutivas deixam de existir apenas através da transformação.

“LUZ irradiava na escuridão, mas a escuridão não a compreendia e essa luz estava no mundo entre os homens, mas destes apenas poucos eram capazes de compreendê-la”.

Observar o comportamento da criança e indicar o caminho, deixando-a caminhar com suas próprias pernas é uma tarefa difícil para muitos pais, pois a incredulidade de que a criança alcance essa conquista é maior do que o desejo de que ela possa acabar se independendo dessa ajuda, que deve ser temporária e estimulada na medida adequada.

JOÃO BAPTISTA como precursor de JESUS CRISTO, pode dizer: “Eu vim ao mundo e fui aquele que preparou o caminho para um ser superior. Com minha boca exterior anunciei que o reino de DEUS, o reino dos Céus está próximo e que os homens devem modificar sua atitude interior”.

A criança preenche um grande vazio na vida dos pais, um desejo inconsciente de perpetuação, de deixar uma continuidade, uma semente, vêm de encontro à uma completude que é passageira e ilusória, pois na verdade, nossos filhos não nos pertencem, apenas convivemos uma fase de sua vida com eles e a nossa missão é prepará-los para agir no mundo, ajeitamos “joaninamente” o momento em que eles aparecerão e nós, então, poderemos nos recolher.

“Agora decrescerei (disse JOÃO), mas, Ele, o SOL ESPIRITUAL crescerá e sua LUZ irradiará na escuridão”. (O Evangelho segundo João – Rudolf Steiner – ed. Antroposófica – São Paulo, 1996).

Saber o momento de se retirar e deixar que a criança demonstre esse aprendizado com suas próprias características costuma ser algo adiado por muitos pais, por diversos motivos, mas que inconscientemente revelam a fragilidade e a incapacidade dessa exibição, afinal os filhos são a referência narcísica dos pais e nem sempre a exposição dessas fraquezas é suportável, será geralmente preferível que essa demonstração seja retardada mais um pouco. Na verdade, é um engano pois, mais cedo do que imaginávamos os filhos crescem, batem as asas e sem permissão voam para longe do ninho, independente de nosso desejo ou vontade.

Somente poderemos observar o reino dos céus se modificarmos nossa atitude interior diante dos outros e diante de nós mesmos. O aprendizado que João Baptista nos ensina é que devemos saber que algum dia outro irá se apresentar e, certamente, nos substituir. Esse entendimento, aparentemente simples, apresenta muitas consequências em nosso psiquismo e modo de agir, a começar pela própria referência narcísica que deve ser desconstruída já que o objetivo é sairmos do foco, cedendo lugar a outro e, nesse caso, ceder, significa literalmente transferir, doar, transmitir, abrir mão desse poder, simplesmente dar o seu lugar ao outro.

Quando relacionamos a atitude joanina com a vida prática (esse é o exercício difícil de vivenciar), aceitar a opinião de outra pessoa já seria um primeiro passo. No entanto, nossa esfera egocêntrica geralmente não oferece obstáculos e costuma aceitar os pontos de vistas, as ideias e teorias que se coadunam com as nossas convicções, o problema surge na oposição, ou seja, nas contradições e opiniões contrárias às nossas. Uma predisposição nesse sentido, uma tolerância inicial já seria promissora, respeitar a ideia do outro com acolhimento sem rejeitá-la a princípio, já é um alento, uma conquista, nem sempre fácil. Desse modo a intenção já adquire um outro aspecto totalmente diferente.

Sob o ponto de vista da educação infantil, a autonomia serviria como um bom exemplo. Ensinar à criança a fazer uma determinada tarefa, promovendo seu aprendizado e tornando-nos cada vez mais desnecessários para nossos filhos é um trabalho, às vezes muito custoso, mas absolutamente necessário. Sair de cena, de maneira gradual e em confiança, deixar que a criança, dentro de suas limitações, possa executar também as suas incumbências, com incentivo, paciência e persistência é imensamente produtivo. Tendo em mente que haverá o tempo de entrega e todo o esforço empregado em ensinar foi feito e a partir daí, um novo processo se inicia.

Quando lembramos da contribuição de Steiner a respeito dos Doze Sentidos, em que diversifica e classifica os sentidos em três grupos (Sentidos Primários, Corpóreos ou Volitivos: TATO, VITAL, EQUILÍBRIO e MOVIMENTO – Sentidos Afetivos, Intermediários, Emotivos ou Anímicos: OLFATO, PALADAR, VISÃO e TÉRMICO – Sentidos Superiores, Espirituais ou Cognitivos: AUDIÇÃO, LINGUAGEM, PENSAMENTO e EU ALHEIO), como possibilidades da individualidade humana interagir e se expressar no mundo, novamente poderemos lembrar desse princípio ensinado na atitude de João Baptista. Para que o sentido do EU ALHEIO, cujo mérito é exatamente o de acolher a opinião contrária, o que não significa aceita-la de forma integral, mas como disponibilidade afetiva, possa realmente acontecer é necessário o desenvolvimento do sentido mais primário (TATO) que então irá se metamorfosear naquele mais espiritualizado (EU ALHEIO).

O TATO primário irá se transformar em algo mais sutil, saindo da esfera física, volitiva e se direcionando para algo mais cognitivo e espiritual, o EU ALHEIO, onde a opinião do outro terá a mesma dimensão e valor que a nossa própria e assim, desse modo, poderemos evoluir como seres humanos. Porém, esse esforço requer que a atitude joanina seja trabalhada interna e incansavelmente dentro de cada um de nós.

 

Leitura complementar (livros de Rudolf Steiner - editora Antroposófica):

*O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO

*O APOCALIPSE DE JOÃO

*TEOSOFIA

*O CONHECIMENTO DOS MUNDOS SUPERIORES

*CIÊNCIA OCULTA

*A EDUCAÇÃO DA CRIANÇA SEGUNDO A CIÊNCIA ESPIRITUAL



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