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terça-feira, 3 de junho de 2025

WAGNER (conto)




WAGNER

 

O pai deu ao filho único o nome de Wagner, fez questão do dábliu, se tivesse outro se chamaria Wilson e se fosse menina Waleska, pois gostava da letra. Ele José, filho de João e neto de Francisco quis fazer diferente e desde cedo traçou para o menino uma trajetória de vida que ele próprio jamais conseguira trilhar a começar pelo nome que fazia questão de registrar é Wagner com dábliu e vai ser um escritor, um poeta. Pronto, estava traçado o seu destino.

O pai incentivava ou melhor exigia do menino que colocasse no papel alguma coisa, uma poesia, um verso pequeno que fosse, tantos livros comprados, nada lhe inspirava? José insistia: - Faz um versinho aí Wagner.

O menino se esforçava escreveu em um papelzinho, caprichando na letra, um versinho para agradar o pai. Aquilo emocionou José que mesmo não entendendo o significado, considerou que o dinheiro investido nos livros tinha valido a pena e o filho estava no caminho certo, seria um poeta, sem dúvida.

José não mediu esforços e ofereceu ao filho o melhor estudo que seu salário de pedreiro poderia dar, nunca lhe faltaram livros, incentivos e também cobranças e quando o menino, dentro de casa, espichava o olho para ver o jogo de bola que as crianças brincavam na rua, o pai atento reclamava:

- Concentra no livro Wagner e me conta o que está escrito aí.

Se o pai acalentava para o filho um futuro cercado de livros e letras o menino por sua vez imaginava jogar em um grande clube, fazer muitos gols, viajar pelo mundo, viver no estrangeiro e ouvir o seu nome ser gritado nos estádios como um grande craque. Mas nada disso aconteceu, a vida tem seus próprios caminhos. O pai morreu antes de ver o filho se tornar um poeta e este por sua vez também não foi um jogador famoso, resolveu fazer outra coisa, talvez para agradar o pai escolheu ser professor de literatura. Apreciava os versos de Drummond e Fernando Pessoa e rabiscava no papel alguma coisa, mas nunca superou o versinho escrito na infância, gostava de seu ofício e estimulava a leitura de seus alunos apresentando autores e incentivando as crianças a tomarem gosto pelas palavras dizendo:

- Livros podem ser os seus grandes amigos!

Certa vez, depois da aula, recebeu de um aluno um papelzinho dobrado.

- O que é isso? (perguntou ao aluno).

 – É um presente que fiz prá você professor.

Wagner abriu o papel dobrado e leu o verso: "O Pássaro Preferiu Permanecer Preso, Próximo, Perto, Porque a Prisão o Protegia de Prováveis Possibilidades de Partir Podendo Praticar Pecados". Não acreditava que uma criança de sete anos havia escrito aquilo, duvidou:

- Foi você mesmo que escreveu isso?

– Fui eu mesmo professor (respondeu o menino).

Aquilo só podia ser obra do pai que colocou justamente no seu caminho um poeta promissor. O professor riu e perguntou se o menino gostava de ler.

- Eu adoro professor.

- E de futebol, você gosta? (quis saber).

- Prefiro ler. (disse o menino).

Foi buscar um livro de poesias e deu de presente para o menino que sorriu de alegria. O professor satisfeito também sorriu com as voltas que o destino trás e disse ao garoto:

- Continue escrevendo e leia bastante, você tem talento para ser um poeta.

E o menino foi embora feliz, um pequeno aprendiz de poeta chamado Walter assim mesmo com com dábliu, José deveria também gostar.



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