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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Artigo 05

As fases do desenvolvimento

A INTEGRAÇÃO DO PENSAR, SENTIR E QUERER 
A OBSERVAÇÃO DOS TEMPERAMENTOS 
A EDUCAÇÃO COMPORTAMENTAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 
SUAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS E INTERCORRÊNCIAS MÉDICO-TERAPÊUTICAS.

Quando observamos a criança de sete anos, por exemplo, não devemos nos esquecer que muitos fenômenos já ocorreram neste organismo e que muitas influências já o permearam e é preciso saber “ler” nesta criança aquilo que já se passou e o que frente a sua individualidade que se apresenta diante de nós pode ser, em sua melhor forma, auxiliada para que se obtenha a maior expressão de sua potencialidade.

Se pensarmos que até os 21 anos de idade este indivíduo passou por três fases de sete anos cada, poderemos entender melhor o que se passa tanto em sua parte física como em seu desenvolvimento integral, os primeiros sete anos de vida da criança, são na verdade, decisivos em vários aspectos que certamente irão representar toda uma conseqüência que será observada nos respectivos anos que virão pela frente, então a criança quando nasce experimenta nos seus primeiros anos de vida três grandes ensinamentos que irão impregná-la e exercer forte influência no que virá a seguir, ao ensaiar os primeiros passos e conquistar o ANDAR, a criança que é respeitada nesta assim chamada procura de encontrar a sua própria direção espacial no mundo e dessa forma engajar o seu próprio organismo, ou seja, quando por seu próprio esforço ela mesma adquirir a posição vertical e der os seus primeiros passos e conseguir então coordenar seus movimentos do mundo exterior, poderá adquirir com mais segurança a próxima conquista que culmina com o FALAR, porque todo o matizado da fala é devido a sua organização motora, pois a vida se manifesta primeiramente em gestos e depois este gestual transforma-se interiormente no elemento motor da fala e é fácil observar-se a dificuldade na fala em uma criança que tropeça comparada àquela que caminha firme, em outras palavras, o falar desenvolve-se a partir de uma orientação no espaço e em conseqüência direta disso temos a seguir o desenvolvimento do PENSAR, que atinge o seu ápice quando estas outras atividades anteriores foram corretamente desenvolvidas e estimuladas, então naquelas crianças em que ao aprenderem as primeiras palavras, ouvem o adulto falar de maneira infantil, por imitação irão desenvolver também um pensar totalmente errado, porque através da clareza da fala o desenvolvimento do pensamento pode também se tornar claro, pois a criança é toda ela um órgão sensorial e como tal reproduz interiormente no organismo físico e pode extrair da fala um. pensar correto, desde que seja uma fala igualmente correta. Portanto ao conduzirmos de maneira adequada e amorosamente a criança no seu aprendizado do andar, cuidando da veracidade no aprendizado da fala, observando a clareza durante o aprendizado do pensar, transformam-se, nessa fase da infância, em organização física. Os três primeiros anos de vida e em conseqüência os demais até o sétimo, são de suma importância para o desenvolvimento integral do homem e muito dos problemas que surgem nessa fase irão, certamente se manifestar mais tarde, pois tudo que nessa fase é de natureza emocional e está presente no meio ambiente em que vive a criança irá mais tarde manifestar-se fisicamente neste indivíduo.

Podemos também observar a criança e sua relação com o mundo em que vive se ficarmos atento para a sua percepção desse mundo em que está em contato, então no assim chamado primeiro setênio a observação de mundo da criança é de que o MUNDO É BOM, ou seja, é esta a idéia e o que ela realmente espera e vivencia do mundo que a cerca e com essa compreensão de mundo tem o seu aprendizado e muitos dos conceitos que experimentarão e farão parte de sua biografia a partir de então estarão contidos nessa experimentação, de sete aos quatorze anos, já no segundo setênio, a observação que ela expressa do mundo é de que o MUNDO É BELO e na fase seguinte, de quatorze aos vinte e um anos é de que o MUNDO É VERDADEIRO e aqui já em plena adolescência podemos compreender que todos os questionamentos e intransigências tão característicos dessa fase se encontram justificados, pelo que diz respeito ao enfrentamento que o jovem tem na sua procura pela verdade, em um sentido pessoal, a sua verdade interior, a adequação dessa verdade com o mundo em que vive. Partindo dessas observações e se olharmos com cuidado para aquilo que verdadeiramente a criança, em cada um dos seus três primeiros setênios irá experenciar poderemos ajudar, em muito, a que essa expectativa não se frustre completamente, há toda uma série de situações e experiências pela qual a criança passa que comprometem essa constatação de mundo e que, de um certo modo, quando não existe uma coerência daquilo que ela anseia e do que experimenta, irá marcá-la significativamente. E isto é ao mesmo tempo preocupante e especialíssimo, pois existem possibilidades para que determinadas situações sejam corrigidas, desde que em tempo hábil e isto pode ser feito desde que prestemos atenção a certos sinais.

Quando falamos de temperamento, é preciso que se pense que aquilo que se coloca entre a linha hereditária da criança e a linha que representa a própria individualidade é o se chama temperamento, que irá por assim dizer dar uma característica, uma determinada qualidade aquele indivíduo e com isso salientar esta ou aquela peculiaridade que em conjunto poderão classificá-lo em quatro tipos distintos de temperamentos e desse modo, ao entendermos todo o mistério que cada um deles representa poderemos auxiliar esta criança a melhor expressar suas potencialidades, porque na verdade, o temperamento nada mais é do que o veículo da expressão da individualidade e que se sabe que a partir dos sete anos esse temperamento individual e, portanto único para aquela criança, começa a manifestar-se. Existem ,então, quatro tipos distintos de temperamento e cada um com suas características particulares e individuais, há o tipo SANGÜÍNEO, que é muito excitável pelo mundo exterior e que tem nas sensações e sentimentos sua grande paixão e isto é o que talvez  melhor o defina, um apaixonado por tudo e todos, pois tudo lhe causa interesse, por tudo se apaixona, mas geralmente, nada verdadeiramente o atrai, então tem uma grande dificuldade de fixar-se em algo, observamos o olhar vivo e alegre de uma criança sangüínea que rapidamente olha tudo a sua volta e com igual rapidez muda para outro ponto, poderíamos falar que tudo olha, mas nada vê e sua atitude perante a vida é de igual forma, pois tudo lhe desperta interesse e lhe traz curiosidade, o que é notável, embora tenha como uma sombra a imensa dificuldade de terminar aquilo que começou, devido a sua grande volubilidade, então ao atuarmos perante este indivíduo de natureza sangüínea poderemos ajudá-lo a que concretize aquilo que iniciou, para que mais tarde a depressão de um eterno começo não venha a aliená-lo mentalmente, o que é o perigo maior desse tipo de temperamento quando descontrolado e mal conduzido. Já em contra-partida temos o temperamento chamado MELANCÓLICO, que por sua vez encontra-se por demais ligado à sua corporalidade, transmitindo como que uma sensação dolorosa, pois não consegue dominar completamente o seu corpo físico e se nos fixarmos ao seu olhar podemos observar um olhar voltado para baixo, uma espécie de turvação em seus olhos, carregados de uma melancolia e uma dor muito significativas, o mundo exterior pouco lhe excita e o desafio maior está em que vença esse movimento que o prende à terra e liberte-se, o perigo maior é o manifestar-se a loucura como conseqüência negativa dessa força que o impele cada vez mais para baixo. O FLEUMÁTICO é aquele individuo que tem o seu temperamento expresso na figura exterior e por ser muito ligado ao sistema glandular, torna o indivíduo corpulento, chegando a inflar e na sua expressão anímica no bem-estar e no seu equilíbrio interno, seu olhar é fixo, voltado para dentro de si e justamente por isso tem uma grande dificuldade de expressar-se, há como que uma dificuldade nesse intercâmbio entre o interior e o exterior, então se o mundo externo pouco o movimenta ele tende a uma estagnação, corre-se o risco de um mal maior vir a instalar-se que é a debilidade mental e por fim temos o temperamento chamado COLÉRICO, que como os outros três tem o seu lado de luz e de sombra e se temos a observação na criança colérica para uma facilidade para liderar e vencer desafios e também muita persistência para conseguir o que deseja, que se pode notar pelos seus olhos firmes e na segurança de seu olhar e através de seu passo igualmente firme e decidido temos também a observação de sua natureza irascível, que já se demonstra na juventude e na grande dificuldade que estes indivíduos tem de se submeter a regras e adaptar-se a situações que não são de seu inteiro agrado, podendo chegar a um perigo maior que é a obsessão, quando partem em busca de um único objetivo, seja ele qual for. Enquanto os temperamentos se mantêm em seus limites normais, representam aquilo que faz a vida variada e harmoniosa, pois toda a multiplicidade, a beleza e toda riqueza da vida são possíveis graças aos temperamentos, não podemos cair na tentação de subestimar o valor do temperamento só por ser ele uma qualidade unilateral, não se trata de igualar, de nivelar os temperamentos, e sim, de conduzi-los pelos caminhos corretos para que possam melhor expressar-se, auxiliando esse indivíduo a desenvolver suas qualidades completamente a encontrar a sua cor (a cor é o resultado da luta entre a luz e a escuridão – Goethe)

Esta complexidade que é o ser humano pode ser observada das mais variadas formas e diante do desenvolvimento de sua biografia podemos ver que em torno dos três anos a criança apropria-se do conceito de sua individualidade, pois é em torno dessa idade que expressa pela primeira vez a palavra EU, com a idéia clara de que é um ser independente de sua mãe, esse desabrochar, por assim dizer, irá desenvolver-se cada vez mais até em torno dos nove anos onde há também uma nova ruptura quando a criança individualiza o seu SENTIR e o particulariza a tal ponto que emoções e sentimentos que antes eram compartilhados com sua própria família, são agora experimentados individualmente e surge depois em torno da adolescência a individuação de seu QUERER no mundo e nesta fase de vida o jovem enfrenta uma série de dificuldades que muitas vezes se expressam, também dependendo de seu temperamento, em grande sofrimento e solidão, que podem ser compreendidos e auxiliados, trata-se de uma fase de transição, de limiar, de passagem de um mundo para outro, se lembrarmos do mito de Adão e Eva e a expulsão do Paraíso, quando a vida passa por uma grande transformação e passa a ser “suada”  para o homem e “doída” para a mulher, os jovens agora “expulsos” da infância, parecem não mais caber em seus corpos, são desengonçados e se atrapalham com seus braços e pernas que cresceram demais, derrubando coisas e se sentindo estranhos em seus corpos que até pouco tempo eram de criança, as meninas começam a conviver com as primeiras menstruações e os incômodos que surgem a partir disto, os garotos modificam a voz,  tem mais pelos pelo corpo, ambos tem desejos sexuais, muitas vezes ardentes, mas não sabem bem o que fazer com eles, ou até que sabem mas fazem, na maioria das vezes, de forma caótica e desordenada e as perguntas “Quem sou eu?”, “De onde venho?,  “Prá onde vou?”, “Qual o meu papel no mundo?” muito os atormentam.
Existem as mais diversas manifestações clínicas, que vão desde simples dores de cabeça até crises de enxaqueca, passando por alterações de comportamento das mais variadas formas, desde a timidez até transtornos obsessivo-compulsivos, sendo que muitas delas merecem a atenção e o acompanhamento médico-terapêutico correspondente. A idéia é a de que na observação desses fenômenos que se sobressaem desde cedo nas crianças, possamos oferecer auxílio no sentido de ajudar a manifestar determinadas potencialidades que, muitas vezes, não encontram facilidade em se expressar e que podem desabrochar e completar essa individualidade.

O trabalho do médico em conjunto com o professor pode e deve ajudar a criança, sendo que estes dois profissionais podem em consonância, agir em benefício das potencialidades que se encontram reprimidas, assim como auxiliar na superação de seus desafios quando a criança e mais tarde o adolescente enfrentam face aos obstáculos que a vida os reserva.



Dr. José Carlos Neves Machado
Médico Escolar e Pediatra antroposófico da Casa Rafael


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Dr José Carlos Machado
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