As fases do desenvolvimento
A INTEGRAÇÃO DO PENSAR, SENTIR E
QUERER
A OBSERVAÇÃO DOS TEMPERAMENTOS
A EDUCAÇÃO COMPORTAMENTAL DA CRIANÇA
E DO ADOLESCENTE
SUAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS E INTERCORRÊNCIAS
MÉDICO-TERAPÊUTICAS.
Quando observamos a criança de
sete anos, por exemplo, não devemos nos esquecer que muitos fenômenos já
ocorreram neste organismo e que muitas influências já o permearam e é preciso
saber “ler” nesta criança aquilo que já se passou e o que frente a sua
individualidade que se apresenta diante de nós pode ser, em sua melhor forma,
auxiliada para que se obtenha a maior expressão de sua potencialidade.
Se pensarmos que até os 21 anos
de idade este indivíduo passou por três fases de sete anos cada, poderemos
entender melhor o que se passa tanto em sua parte física como em seu
desenvolvimento integral, os primeiros sete anos de vida da criança, são na verdade,
decisivos em vários aspectos que certamente irão representar toda uma
conseqüência que será observada nos respectivos anos que virão pela frente,
então a criança quando nasce experimenta nos seus primeiros anos de vida três
grandes ensinamentos que irão impregná-la e exercer forte influência no que
virá a seguir, ao ensaiar os primeiros passos e conquistar o ANDAR, a criança
que é respeitada nesta assim chamada procura de encontrar a sua própria direção
espacial no mundo e dessa forma engajar o seu próprio organismo, ou seja,
quando por seu próprio esforço ela mesma adquirir a posição vertical e der os
seus primeiros passos e conseguir então coordenar seus movimentos do mundo
exterior, poderá adquirir com mais segurança a próxima conquista que culmina com
o FALAR, porque todo o matizado da fala é devido a sua organização motora, pois
a vida se manifesta primeiramente em gestos e depois este gestual transforma-se
interiormente no elemento motor da fala e é fácil observar-se a dificuldade na
fala em uma criança que tropeça comparada àquela que caminha firme, em outras
palavras, o falar desenvolve-se a partir de uma orientação no espaço e em
conseqüência direta disso temos a seguir o desenvolvimento do PENSAR, que
atinge o seu ápice quando estas outras atividades anteriores foram corretamente
desenvolvidas e estimuladas, então naquelas crianças em que ao aprenderem as
primeiras palavras, ouvem o adulto falar de maneira infantil, por imitação irão
desenvolver também um pensar totalmente errado, porque através da clareza da
fala o desenvolvimento do pensamento pode também se tornar claro, pois a
criança é toda ela um órgão sensorial e como tal reproduz interiormente no
organismo físico e pode extrair da fala um. pensar correto, desde que seja uma
fala igualmente correta. Portanto ao conduzirmos de maneira adequada e
amorosamente a criança no seu aprendizado do andar, cuidando da veracidade no
aprendizado da fala, observando a clareza durante o aprendizado do pensar,
transformam-se, nessa fase da infância, em organização física. Os três
primeiros anos de vida e em conseqüência os demais até o sétimo, são de suma
importância para o desenvolvimento integral do homem e muito dos problemas que
surgem nessa fase irão, certamente se manifestar mais tarde, pois tudo que nessa
fase é de natureza emocional e está presente no meio ambiente em que vive a
criança irá mais tarde manifestar-se fisicamente neste indivíduo.
Podemos também observar a criança
e sua relação com o mundo em que vive se ficarmos atento para a sua percepção
desse mundo em que está em contato, então no assim chamado primeiro setênio a
observação de mundo da criança é de que o MUNDO É BOM, ou seja, é esta a idéia
e o que ela realmente espera e vivencia do mundo que a cerca e com essa
compreensão de mundo tem o seu aprendizado e muitos dos conceitos que
experimentarão e farão parte de sua biografia a partir de então estarão
contidos nessa experimentação, de sete aos quatorze anos, já no segundo
setênio, a observação que ela expressa do mundo é de que o MUNDO É BELO e na
fase seguinte, de quatorze aos vinte e um anos é de que o MUNDO É VERDADEIRO e
aqui já em plena adolescência podemos compreender que todos os questionamentos
e intransigências tão característicos dessa fase se encontram justificados,
pelo que diz respeito ao enfrentamento que o jovem tem na sua procura pela
verdade, em um sentido pessoal, a sua verdade interior, a adequação dessa
verdade com o mundo em que vive. Partindo dessas observações e se olharmos com
cuidado para aquilo que verdadeiramente a criança, em cada um dos seus três
primeiros setênios irá experenciar poderemos ajudar, em muito, a que essa
expectativa não se frustre completamente, há toda uma série de situações e
experiências pela qual a criança passa que comprometem essa constatação de
mundo e que, de um certo modo, quando não existe uma coerência daquilo que ela
anseia e do que experimenta, irá marcá-la significativamente. E isto é ao mesmo
tempo preocupante e especialíssimo, pois existem possibilidades para que
determinadas situações sejam corrigidas, desde que em tempo hábil e isto pode
ser feito desde que prestemos atenção a certos sinais.
Quando falamos de temperamento, é
preciso que se pense que aquilo que se coloca entre a linha hereditária da
criança e a linha que representa a própria individualidade é o se chama
temperamento, que irá por assim dizer dar uma característica, uma determinada
qualidade aquele indivíduo e com isso salientar esta ou aquela peculiaridade
que em conjunto poderão classificá-lo em quatro tipos distintos de
temperamentos e desse modo, ao entendermos todo o mistério que cada um deles
representa poderemos auxiliar esta criança a melhor expressar suas
potencialidades, porque na verdade, o temperamento nada mais é do que o veículo
da expressão da individualidade e que se sabe que a partir dos sete anos esse
temperamento individual e, portanto único para aquela criança, começa a
manifestar-se. Existem ,então, quatro tipos distintos de temperamento e cada um
com suas características particulares e individuais, há o tipo SANGÜÍNEO, que é
muito excitável pelo mundo exterior e que tem nas sensações e sentimentos sua
grande paixão e isto é o que talvez
melhor o defina, um apaixonado por tudo e todos, pois tudo lhe causa interesse,
por tudo se apaixona, mas geralmente, nada verdadeiramente o atrai, então tem
uma grande dificuldade de fixar-se em algo, observamos o olhar vivo e alegre de
uma criança sangüínea que rapidamente olha tudo a sua volta e com igual rapidez
muda para outro ponto, poderíamos falar que tudo olha, mas nada vê e sua
atitude perante a vida é de igual forma, pois tudo lhe desperta interesse e lhe
traz curiosidade, o que é notável, embora tenha como uma sombra a imensa
dificuldade de terminar aquilo que começou, devido a sua grande volubilidade, então
ao atuarmos perante este indivíduo de natureza sangüínea poderemos ajudá-lo a
que concretize aquilo que iniciou, para que mais tarde a depressão de um eterno
começo não venha a aliená-lo mentalmente, o que é o perigo maior desse tipo de
temperamento quando descontrolado e mal conduzido. Já em contra-partida temos o
temperamento chamado MELANCÓLICO, que por sua vez encontra-se por demais ligado
à sua corporalidade, transmitindo como que uma sensação dolorosa, pois não
consegue dominar completamente o seu corpo físico e se nos fixarmos ao seu
olhar podemos observar um olhar voltado para baixo, uma espécie de turvação em
seus olhos, carregados de uma melancolia e uma dor muito significativas, o
mundo exterior pouco lhe excita e o desafio maior está em que vença esse
movimento que o prende à terra e liberte-se, o perigo maior é o manifestar-se a
loucura como conseqüência negativa dessa força que o impele cada vez mais para
baixo. O FLEUMÁTICO é aquele individuo que tem o seu temperamento expresso na
figura exterior e por ser muito ligado ao sistema glandular, torna o indivíduo
corpulento, chegando a inflar e na sua expressão anímica no bem-estar e no seu
equilíbrio interno, seu olhar é fixo, voltado para dentro de si e justamente
por isso tem uma grande dificuldade de expressar-se, há como que uma
dificuldade nesse intercâmbio entre o interior e o exterior, então se o mundo
externo pouco o movimenta ele tende a uma estagnação, corre-se o risco de um
mal maior vir a instalar-se que é a debilidade mental e por fim temos o
temperamento chamado COLÉRICO, que como os outros três tem o seu lado de luz e
de sombra e se temos a observação na criança colérica para uma facilidade para
liderar e vencer desafios e também muita persistência para conseguir o que
deseja, que se pode notar pelos seus olhos firmes e na segurança de seu olhar e
através de seu passo igualmente firme e decidido temos também a observação de
sua natureza irascível, que já se demonstra na juventude e na grande
dificuldade que estes indivíduos tem de se submeter a regras e adaptar-se a
situações que não são de seu inteiro agrado, podendo chegar a um perigo maior
que é a obsessão, quando partem em busca de um único objetivo, seja ele qual
for. Enquanto os temperamentos se mantêm em seus limites normais, representam
aquilo que faz a vida variada e harmoniosa, pois toda a multiplicidade, a
beleza e toda riqueza da vida são possíveis graças aos temperamentos, não
podemos cair na tentação de subestimar o valor do temperamento só por ser ele
uma qualidade unilateral, não se trata de igualar, de nivelar os temperamentos,
e sim, de conduzi-los pelos caminhos corretos para que possam melhor
expressar-se, auxiliando esse indivíduo a desenvolver suas qualidades
completamente a encontrar a sua cor (a cor é o resultado da luta entre a luz e
a escuridão – Goethe)
Esta complexidade que é o ser
humano pode ser observada das mais variadas formas e diante do desenvolvimento
de sua biografia podemos ver que em torno dos três anos a criança apropria-se
do conceito de sua individualidade, pois é em torno dessa idade que expressa
pela primeira vez a palavra EU, com a idéia clara de que é um ser independente
de sua mãe, esse desabrochar, por assim dizer, irá desenvolver-se cada vez mais
até em torno dos nove anos onde há também uma nova ruptura quando a criança
individualiza o seu SENTIR e o particulariza a tal ponto que emoções e
sentimentos que antes eram compartilhados com sua própria família, são agora
experimentados individualmente e surge depois em torno da adolescência a individuação
de seu QUERER no mundo e nesta fase de vida o jovem enfrenta uma série de
dificuldades que muitas vezes se expressam, também dependendo de seu
temperamento, em grande sofrimento e solidão, que podem ser compreendidos e
auxiliados, trata-se de uma fase de transição, de limiar, de passagem de um
mundo para outro, se lembrarmos do mito de Adão e Eva e a expulsão do Paraíso,
quando a vida passa por uma grande transformação e passa a ser “suada” para o homem e “doída” para a mulher, os
jovens agora “expulsos” da infância, parecem não mais caber em seus corpos, são
desengonçados e se atrapalham com seus braços e pernas que cresceram demais,
derrubando coisas e se sentindo estranhos em seus corpos que até pouco tempo
eram de criança, as meninas começam a conviver com as primeiras menstruações e
os incômodos que surgem a partir disto, os garotos modificam a voz, tem mais pelos pelo corpo, ambos tem desejos
sexuais, muitas vezes ardentes, mas não sabem bem o que fazer com eles, ou até
que sabem mas fazem, na maioria das vezes, de forma caótica e desordenada e as
perguntas “Quem sou eu?”, “De onde venho?,
“Prá onde vou?”, “Qual o meu papel no mundo?” muito os atormentam.
Existem as mais diversas
manifestações clínicas, que vão desde simples dores de cabeça até crises de
enxaqueca, passando por alterações de comportamento das mais variadas formas,
desde a timidez até transtornos obsessivo-compulsivos, sendo que muitas delas
merecem a atenção e o acompanhamento médico-terapêutico correspondente. A idéia
é a de que na observação desses fenômenos que se sobressaem desde cedo nas
crianças, possamos oferecer auxílio no sentido de ajudar a manifestar
determinadas potencialidades que, muitas vezes, não encontram facilidade em se
expressar e que podem desabrochar e completar essa individualidade.
O trabalho do médico em conjunto
com o professor pode e deve ajudar a criança, sendo que estes dois
profissionais podem em consonância, agir em benefício das potencialidades que
se encontram reprimidas, assim como auxiliar na superação de seus desafios
quando a criança e mais tarde o adolescente enfrentam face aos obstáculos que a
vida os reserva.
Dr. José Carlos Neves Machado
Médico Escolar e Pediatra antroposófico da Casa Rafael
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