OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA.
Rubem Alves
Editora Planeta, 2ª edição, São Paulo, 2015.
276 páginas.
São onze direções (Caleidoscópio, Amor, Beleza, Crianças, Educação,
Natureza, Política, Saúde Mental, Religião, Velhice e Morte), em que o autor
lança seu olhar aguçado, atento e provocador trazendo ao leitor pequenas
crônicas que vão recheando esse livro com questionamentos, incômodos e provocações;
ele mesmo confessa: “este livro está
cheio de áreas pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi”.
Rubem Alves (1933 – 2014) foi pedagogo, poeta, cronista, ensaísta,
teólogo, contador de estórias, acadêmico e psicanalista e deixou um extenso
legado literário e uma grande legião de leitores e admiradores do seu modo de
escrever tratando de assuntos “pontudos” de uma maneira simples, direta e,
sobretudo esperançosa de ver o mundo.
O título que dá nome a esse livro é o primeiro texto do capítulo
Caleidoscópio, em que o autor explica que o minúsculo grão de areia dentro da
ostra lhe traz sofrimento e a pérola é o resultado disso, quando as arestas desse
grão são transformadas em uma estrutura lisa e delicada, portanto, aquelas que
são felizes não tiveram de passar por isso, mas não é só isso que Rubem Alves quer
atingir, porque a indagação que fica é: - Precisamos sofrer para produzirmos as
nossas pérolas? E responde: - Pessoas felizes não sentem necessidade de criar,
pois o ato criador seja na ciência ou na arte provém de uma dor! E os
questionamentos continuam: - O que você tem feito com suas dores? Quais são as
suas cicatrizes? Como você ficou depois das tempestades da vida?
Mas o sofrimento faz parte da vida e pode ser superado.
A ostra não se entrega ao sofrimento, transformando o grão de areia em
pérola, transforma a tragédia em felicidade, em beleza, porque “a
felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta”. Ensina o autor e explica ainda que as
ideias aparecem quando querem e não quando nós queremos, comparando sua obra
como uma fotografia que tem o seu valor por si mesma sem estar ligada à outra
foto e com a vantagem de que qualquer página é um começo e um fim.
Talvez o exercício de ler um escritor multifacetado e polêmico como
Rubem Alves seja se deparar frequentemente com a intensidade das coisas, pois,
se ele fala do amor como algo tranquilo e reparador também irá chamar atenção
para seu lado destrutivo e perigoso, as polaridades existem e o autor as
questiona e mostra as suas contrariedades a todo instante.
Esse é um livro para se ler várias vezes e encontrar também novas
respostas, novas perspectivas, pois, tudo tem no mínimo dois lados.
“Felicidade é discreta, silenciosa e frágil, como a
bolha de sabão, vai-se muito rápido. Mas sempre se podem assoprar outras”. Vamos assopra-las
então.
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Dr José Carlos Machado
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