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sexta-feira, 30 de novembro de 2018

MÍDIA ELETRÔNICA COMO BRINQUEDO - artigo

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A MÍDIA ELETRÔNICA COMO BRINQUEDO. 


Muito se tem discutido a respeito da presença cada vez mais constante do uso da tecnologia em nossa vida diária e essa, sem dúvida é uma aquisição maravilhosa de nossa época, portanto nada de tecnofobia, mas um olhar mais atento pode ser interessante.
A questão do uso é completamente diferente da frequência, ou seja, do abuso e essa tendência é cada vez maior e atingindo faixas etárias cada vez menores; crianças pequenas se “distraem” com tablets e os celulares de seus pais e esse cochilo pode trazer consequências nem sempre agradáveis, pois, fica difícil depois negar esse prazer obtido no contato com a “tela mágica” depois em outra situação em que isso não for oferecido. E é também preciso fazer a conta; a criança passa na frente de uma tela (televisão, celulares, tabletes, computadores, etc.) aproximadamente três horas por dia, isso cada vez mais precocemente, porque essa babá eletrônica ajuda nas tarefas chatas do dia a dia, como distrair a criança para comer sem reclamar, quando fica hipnotizada pelas imagens ou para ficar quietinha enquanto os adultos estão trabalhando; então até os sete anos ela já ficou, no mínimo, cinco mil horas sendo “alimentada” por conteúdos e imagens que os pais sequer sonham e mesmo aqueles que selecionam aquilo que consideram bom para seus filhos, se esquecem de colocar na balança a desvantagem que essas representações podem e, fatalmente, irão causar na vida desses expectadores mirins, o uso constante causa dependência e a precocidade causa um prejuízo maior ainda. Sob o ponto de vista pedagógico a competição é desleal, pois os professores precisam introduzir conceitos e valores éticos que muitas crianças rejaçam porque não tiveram o aprendizado de ouvirem estórias contadas pelos pais ou avós, não praticaram brincadeiras com outras crianças, não aproveitaram os seus momentos de ócio e deixaram de serem crianças, cresceram antes do tempo, trocaram tudo isso por seus novos brinquedos eletrônicos ofertados prazerosamente pelos pais, que embora tenham feito isso com a melhor das intenções, erraram na dose.
A Associação Japonesa de Pediatria alertou para as implicações do manuseio abusivo desses aparelhos pelas crianças, a Academia Americana de Pediatria e a Sociedade Canadense de Pediatria fizeram coro e traçaram alguns pontos que pais, professores, médicos e adultos que convivem com crianças deveriam levar em consideração. Muitos dos diversos problemas de aprendizagem cada vez mais frequentes como: déficit de atenção, atrasos cognitivos, aumento da impulsividade, falta de controle, alteração do sono, aumento na excitabilidade, violência, agressividade, depressão infantil, sedentarismo, obesidade, vício, emissão de radiação, superexposição, entre outras sequelas e para isso definiram que deve ter um máximo de tempo para que a criança e o jovem fiquem em contato com as mídias eletrônicas (incluindo computador, televisão, tablets e celulares): crianças até dois anos de idade não deveriam ter contato algum; dos três aos cinco anos no máximo uma hora por dia e dos seis até os dezoito anos duas horas diariamente. O que está muito distante da realidade.
Isso também deve chamar nossa atenção para o tempo em que nós adultos dedicamos à mídia eletrônica, em detrimento da leitura e do próprio contato com as pessoas, porque com a facilidade do Facebook, do Instagram e do Wattszap ficou mais fácil a comunicação sem a necessidade da presença física, mas as mensagens  virtuais não se comparam ao contato pessoal e na observação que se pode obter na expressão do ouvinte.
Hoje se algum extraterrestre chegasse ao nosso planeta e descrevesse ser humano, seria uma criatura encurvada com a cabeça voltada para baixo portando um objeto nas mãos, falando sozinho e movimentando os dedos sobre ele. A cervicalgia (dor em região cervical atribuída por posição viciosa) é uma das tantas sequelas desse hábito praticado várias vezes durante o dia. Curiosamente essa é uma aquisição recente, pois, há aproximadamente dez, quinze anos atrás não tínhamos à disposição essas tecnologias e gerações que hoje estão com 35, 40 anos não tiveram esse privilégio. Novamente vem a pergunta: - Afinal quando posso orientar meu filho sobre os malefícios desse abuso? A resposta vem na contramão e com igual intensidade: - Como você lida com o seu excesso? “Nada é tão contagioso como o exemplo” já dizia o filósofo francês François de La Rochefoulcauld, portanto, é daí mesmo que a imitação se inicia. Se você é daqueles que não conseguem ficar sem acompanhar as notícias “online”, fica angustiado enquanto não confere as mensagens que recebe e mesmo na companhia de outras pessoas não se incomoda em atender as ligações e ignorar completamente a presença do outro, talvez você já esteja envolvido pelo assédio virtual que esses aparelhos fazem, talvez você nem perceba ou nem saiba nominar direito que tem dificuldade de enfrentar o tédio, ou melhor (dependendo da adição) do micro tédio, em ficar consigo mesmo ou na presença de alguém que está à sua frente ao vivo, sem a distância e a frieza que a tela oferece (protege?). Uma espécie de “autismo social”, onde o indivíduo atua, comunica e reage aos estímulos virtuais, mas fracassa ou fica mais restrito quando o contato passa a ser mais humano, você se reconhece em algum grau nessas situações? Seria interessante mudar por você ou pelo seu filho? Essas são as indagações que deveríamos fazer.
Como as crianças imitam tudo à sua volta, logicamente farão o mesmo com suas atitudes e aí não vale explicar que o uso é para fins profissionais, criança não sabe nem o que é isso, mas vai imitar os pais em suas tarefas e ações; talvez por aí já seja um bom exemplo de como começar uma transformação no abuso desse novo elemento que veio prá ficar e sem rejeições sobre isso, mas que deve ser utilizado com parcimônia pelos adultos e adiado o maior tempo possível pelas crianças.
As coisas precisam ser transformadas para que gerem mudança, ficar sem atender o celular na hora das refeições, ou restringir o seu uso na presença de amigos e família pode causar sofrimento, mas é uma opção que se faz, uma escolha e, geralmente, na imensa maioria das vezes essas chamadas nem sempre são tão urgentes assim, talvez seja alguém que do outro lado da linha também não consiga enfrentar o seu tédio e precise compartilhá-lo com você. Caso queira praticar e, aos poucos, consiga pensar menos como autônomo e mais como humano e eu torço por isso, poderá também ensinar como conseguiu e assim por aí as coisas caminham mais lentamente, talvez, mas mais humanizadas como deveriam ser.

   José Carlos Machado.








quinta-feira, 29 de novembro de 2018

MEU FILHO ESTÁ SEMPRE DOENTE! - artigo

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MEU FILHO ESTÁ SEMPRE DOENTE!

Curioso como essa frase é cada vez mais ouvida nas rodas de conversas e nos encontros dos pais quando vem buscar seus filhos na escola. Também ouço muito essa queixa no meu consultório. E isso realmente procede, muitas crianças permanentemente doentes. Será possível que com todo aparato tecnológico que dispomos atualmente as crianças fiquem assim tão expostas e constantemente doentes? Infelizmente sim. Existem causas de natureza biológica, ligadas às questões de imunidade e alimentação, mas não podemos desconsiderar o fato que uma grande quantidade de crianças encontram-se muito adoecidas, ou no linguajar que muitas vezes ouvimos, tentando resumir o quadro: - Essa criança está muito desvitalizada!  Realmente estão e seria interessante considerarmos um pouco sobre isso.
O chamado corpo etérico ou corpo vital tem a função de revestir e proteger, vamos entender assim, a corporalidade física, mas precisa também ser tratado e guarnecido, para isso precisamos cuidar do ritmo de vida, uma criança que é agitada, que pula, brinca, corre e está o tempo todo em alguma atividade, acaba desgastando essa vitalidade caso não tenha uma quantidade de horas para dormir e revitalizar-se, também é importante observarmos a qualidade desse sono, porque um sono agitado, interrompido muitas vezes e nos casos daqueles que adiam quanto podem ir para a cama ou que só dormem na cama dos pais, esse ritmo precisa ser trabalhado se quisermos interferir na doença crônica das crianças, sono por exaustão é diferente de sono bom. Os antigos diziam que “uma boa noite de sono ajuda a curar” e tinham razão quando pensamos que o corpo precisa descansar para se reequilibrar para a jornada do dia seguinte, a vitalidade para se reconstituir precisa de ritmo, precisa de tempo e esse é o grande problema da nossa época, nos falta tempo para quase tudo e as crianças, de um modo geral, também não tem tempo para, por exemplo, ficarem sem fazer nada olhando para o céu, ou brincarem sozinhas, parece desperdício ficar assim sem fazer nada e lá vem atividade para “passar o tempo” e as propostas oferecidas (principalmente as virtuais), estimulam e desgastam mais ainda e à noite o dano é maior, pois ficam muito despertas e o ritmo do sono fica prejudicado, existe um ritual aqui que deixa de ser cumprido e em sua ausência desaprende a dormir cedo e incorpora em sua rotina o mesmo ritmo caótico dos adultos. Observamos que no final do dia acontece uma série de fatores que se somam e atrapalham essa preparação. Em muitas famílias esse é o horário que todos novamente se encontram, o pai volta do trabalho, muitas mães também trabalham fora e os filhos ficam fora de casa um bom tempo, seja na recreação da própria escola, ou em outras atividades (judô, natação, sessões de fonoaudiologia, psicólogo, etc.), todos chegam exaustos de tanta coisa e ainda existem as atividades domésticas. Enquanto os pais preparam o jantar a criança pode se distrair vendo um vídeo no computador, isso se ela já não voltar dormindo no banco do carro e esse cochilo acabar empurrando o sono mais para frente ainda. Essa rotina vai se estabelecendo e tudo vai se ajeitando caoticamente assim, mas não seria interessante observar que quando aparecem situações que passam da conta vale a pena considerar se esse provisório já não está se tornando definitivo demais e tentar mudar isso?
No meu modo de pensar a família é a prioridade, então vamos eleger a criança como a grande preocupação, algumas escolhas devem ser feitas, portanto, mesmo muito cansados depois do trabalho, o desejo dos pais de ficar na frente da televisão ou de ler todas as mensagens do celular e de verificar o face book devem ser postergados, sendo a criança a nossa maior prioridade, podemos perguntar a ela como foi seu dia, ajuda-la com o banho, incentivando para que ajude no jantar, que guarde suas roupas e prepare a sua mochila para o dia seguinte, trocar tudo isso por um jogo de videogame ou por um filminho não contribui com esse relaxamento que a criança precisa para se desligar de todas as emoções e atividades que viveu durante o dia, quando os pais começam a se preocuparem com isso, as coisas igualmente também tendem a mudar, a família começa a se compartilhar. Dá trabalho, mas vale a pena.
O tempo justamente nos escapa das mãos porque o desperdiçamos com coisas tolas e fúteis que atualmente fazem parte de nosso cotidiano e ficamos tão absortos com isso que simplesmente somos engolidos por ele; lembro-me de algumas passagens da minha infância e faço isso como modelo não como saudosismo, que as tardes naquela época eram arrastadas e modorrentas, mas cabiam as lições de casa, depois ler os gibis e ainda brincar com vizinhos e conversar com a minha mãe e depois ainda esperar meu pai que trazia as novidades do mundo lá de fora, dava tempo prá isso tudo e também ouvir história antes de dormir, no dia seguinte tudo isso se repetia e parece que o tempo era mais camarada com a gente. De fato, nossas crianças dispõem de muitas opções de brinquedos, informações e recursos tecnológicos que antes, mas o material humano ainda é o mesmo, ainda existe um pai, uma mãe, uma criança que convivem na mesma casa como antes, mas que parece que não tem oportunidade de usufruírem essa coisa bonita e gostosa que é a família, porque a menos que consideremos o tablet, a tv e o celular como nossos familiares, as crianças de carne e osso, os nossos filhos ainda precisam de atenção e não de uma observação breve entre um link e uma curtida virtual, isso sim rouba o nosso tempo e instala algo que ouvimos muito como queixa: - Estou entediado e não tenho mais nada pra fazer! Pois bem, hoje as pessoas reclamam disso e os pequenos que nos ouvem reclamar repetem a mesma queixa, estamos criando uma geração de crianças entediadas que não sabem viver sem seus aplicativos eletrônicos.
Crianças que apresentam resfriados constantes ficam prostradas e sem apetite, desanimadas, desvitalizadas como nos referimos antes, precisam de uma boa qualidade de vida e isso significa que a qualidade do seu tempo precisa ser igualmente saudável, se tiver muitas coisas para fazer, experimente diminuir suas atividades, assim como diminuir seu tempo na frente da TV, chame-a para ajudar nas tarefas domésticas, criança adora ajudar, mas precisa insistir e até mandar se for o caso, mas não aceite que seu filho faça você se sentir culpado pelo tédio dele, nesse caso “a necessidade é a mãe da invenção” (outro desses ditados antigos), a solução mais fácil, nem sempre poderá ser a melhor escolha, quando a criança entende que dependendo do seu queixume as coisas acontecem e o ganho secundário se justifica e isso se torna um “ciclo vicioso doentio” difícil de sair, em outras palavras, quando surge esse tédio e o presente é brincar um pouquinho com o celular até os pais terminarem as suas atividades, a criança aprende também que para conseguir as coisas é preciso barganhar e essa é uma combinação infeliz. Sugiro que aqueles que têm uma grande dificuldade de negar as coisas para seus filhos seja por culpa ou incapacidade de lidar com a frustração deles, que se lembrem de seus tempos de criança, porque essas inovações tecnológicas são relativamente recentes e a maioria dos pais de hoje não tiveram esse acesso quando crianças, quem sabe a própria biografia pessoal não possa indicar um caminho, nem sempre o mais fácil, mas, certamente, mais simples 
Aí vem a pergunta: - Mas o que eu faço com a criança doente doutor?
- Fica junto dela, abra mão dos seus compromissos e cuide dela, ofereça a sua atenção e faça-a entender que ela pode confiar em você, que você estará ali ao seu lado e que ela irá melhorar.
Isso é terapêutico, os remédios e a ajuda do médico são muito bem vindos, mas a presença desse cuidador amoroso faz toda a diferença, muitas vezes eu peço para que os pais lembrem de sua infância e tragam situações curiosas para contar aos seus filhos, bons contos também são excelentes remédios, podemos transformar essa "pausa" para nos aproximar mais de nossas crianças, muitas vezes é exatamente esse o significado daquela alteração, uma pausa para "recarregar" a vitalidade.
Rubem Alves, como poeta, uma de suas tantas atividades, dizia que: “A borboleta passa por diversas fases de vida, por diversas transformações antes de se tornar aquilo que é”, isso precisa de tempo, ou seja, a infância está cada vez mais curta e doentia, justamente devido à precocidade com que permitimos que as crianças se transformem em mini adultos, cheias de coisas para fazer, de compromissos e sem tempo de serem apenas crianças.

                                                                          Dr. José Carlos Machado – médico escolar.



quarta-feira, 28 de novembro de 2018

OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA - resenha de livro

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OSTRA FELIZ NÃO FAZ PÉROLA.
Rubem Alves
Editora Planeta, 2ª edição, São Paulo, 2015.
276 páginas.


São onze direções (Caleidoscópio, Amor, Beleza, Crianças, Educação, Natureza, Política, Saúde Mental, Religião, Velhice e Morte), em que o autor lança seu olhar aguçado, atento e provocador trazendo ao leitor pequenas crônicas que vão recheando esse livro com questionamentos, incômodos e provocações; ele mesmo confessa: “este livro está cheio de áreas pontudas que me machucaram. Para me livrar da dor, escrevi”.
Rubem Alves (1933 – 2014) foi pedagogo, poeta, cronista, ensaísta, teólogo, contador de estórias, acadêmico e psicanalista e deixou um extenso legado literário e uma grande legião de leitores e admiradores do seu modo de escrever tratando de assuntos “pontudos” de uma maneira simples, direta e, sobretudo esperançosa de ver o mundo.
O título que dá nome a esse livro é o primeiro texto do capítulo Caleidoscópio, em que o autor explica que o minúsculo grão de areia dentro da ostra lhe traz sofrimento e a pérola é o resultado disso, quando as arestas desse grão são transformadas em uma estrutura lisa e delicada, portanto, aquelas que são felizes não tiveram de passar por isso, mas não é só isso que Rubem Alves quer atingir, porque a indagação que fica é: - Precisamos sofrer para produzirmos as nossas pérolas? E responde: - Pessoas felizes não sentem necessidade de criar, pois o ato criador seja na ciência ou na arte provém de uma dor! E os questionamentos continuam: - O que você tem feito com suas dores? Quais são as suas cicatrizes? Como você ficou depois das tempestades da vida?
Mas o sofrimento faz parte da vida e pode ser superado.
A ostra não se entrega ao sofrimento, transformando o grão de areia em pérola, transforma a tragédia em felicidade, em beleza, porque “a felicidade é um dom que deve ser simplesmente gozado. Ela se basta”. Ensina o autor e explica ainda que as ideias aparecem quando querem e não quando nós queremos, comparando sua obra como uma fotografia que tem o seu valor por si mesma sem estar ligada à outra foto e com a vantagem de que qualquer página é um começo e um fim.
Talvez o exercício de ler um escritor multifacetado e polêmico como Rubem Alves seja se deparar frequentemente com a intensidade das coisas, pois, se ele fala do amor como algo tranquilo e reparador também irá chamar atenção para seu lado destrutivo e perigoso, as polaridades existem e o autor as questiona e mostra as suas contrariedades a todo instante.
Esse é um livro para se ler várias vezes e encontrar também novas respostas, novas perspectivas, pois, tudo tem no mínimo dois lados.
“Felicidade é discreta, silenciosa e frágil, como a bolha de sabão, vai-se muito rápido. Mas sempre se podem assoprar outras”. Vamos assopra-las então.





terça-feira, 27 de novembro de 2018

MÁRIO QUINTANA - poesias

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DOS MILAGRES
 
O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloquência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!


DO AMOROSO ESQUECIMENTO

Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?



EMERGÊNCIA

Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo —
para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.



POEMINHO DO CONTRA

Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!



Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...



Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter minha resposta, afirmativa ou não? O que importa é saber se Deus acredita em mim.



Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?



Não tentes consolar o desgraçado,
que chora amargamente a sorte má.
se o tirares por fim do seu estado
Que outra consolação lhe restará?



Um dia...pronto!
Pois seja o que tem de ser.
Morrer: Que me importa?
O diabo é deixar de viver!



Mário Quintana (1906 - 1994)


segunda-feira, 26 de novembro de 2018

CLAUDE LÉVI-STRAUSS (frase)

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Claude Lévi-Strauss  (1908 - 2009) - Foi antropólogo, professor e filósofo. Considerado fundador da antropologia estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX, porém,suas ideias são muito diferentes do pensamento da época em que viveu, rompem com a ideia de que indíos são somente indíos, não concordava com a divisão em civilizados e selvagens ou a divisão em superiores e inferiores. Suas teorias revolucionárias para época ganharam força, anos mais tarde (final da década de 60) com o aparecimento da contracultura marxista cultural e ambientalista radical, embora as obras de Lévi-Strauss vejam os índios do Cerrado de forma "eurocêntrica" ou "colonialista" em certo ponto.
 Professor honorário do Collège de France, ali ocupou a cátedra de antropologia social de 1959 a 1982. Foi também membro da Academia Francesa - o primeiro a atingir os 100 anos de idade. Desde seus primeiros trabalhos sobre os índios do Brasil Central, que estudou em campo, no período de 1935 a 1939, publicou sua tese As estruturas elementares do parentesco   (1949),  e também uma extensa obra, reconhecida internacionalmente. Dedicou trabalhos ao estudo dos mitos, mas também obras que escapam do enquadramento estrito dos estudos acadêmicos - dentre as quais o famoso Tristes Trópicos,  em (1955) que o tornou conhecido e apreciado por um vasto círculo de leitores.



Como etnólogo, só posso constatar que o mundo contemporâneo perdeu a fé em seus próprios valores. Sei que este não é nem o nosso problema principal, mas todos sabemos que, no final das contas, nenhuma civilização pode se desenvolver se não possui valores aos quais se agarrar profundamente. Acredito, por sinal, que nenhuma civilização possa sequer se manter na situação em que a nossa se encontra. 



A humanidade está constantemente às voltas com dois processos contraditórios, um tende a criar um sistema unificado, enquanto o outro visa manter ou restaurar a diversificação.




O SÁBIO NÃO É O HOMEM QUE FORNECE AS VERDADEIRAS RESPOSTAS 
É O QUE FORMULA AS VERDADEIRAS PERGUNTAS


Claude Lévi-Strauss

domingo, 25 de novembro de 2018

FRANÇOIS DE LA ROCHEFOULCAULD (frase)

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Há três espécies de ignorância:
Não saber o que se devia saber;
Saber mal o que se devia saber;
Saber o que não se devia saber.



É MAIS FÁCIL SER SÁBIO COM OS OUTROS DO QUE COM NÓS MESMOS.


SÓ ACHAMOS QUE AS OUTRAS PESSOAS TÊM BOM SENSO QUANDO SÃO DA NOSSA OPINIÃO.


O MAIS VALIOSO DOS BENS, DEPOIS DA SAÚDE É A PAZ INTERIOR.


NADA É TÃO CONTAGIOSO COMO O EXEMPLO.



sábado, 24 de novembro de 2018

IMAGENS PARA CONTEMPLAÇÃO



Contemplar imagens significa mais do que simplesmente observá-las. O exercício contemplativo é a experiência de se deixar imerso na imagem sem a preocupação de críticas ou interpretações, mas tentar buscar dentro de si o que aquela cena representa e o seu significado.
No final das atividades diárias, criar o hábito de contemplar alguma imagem (como, por exemplo, as expostas abaixo), devido a suavidade e a própria definição que expressam, transmitem uma serenidade que poderá ser muito benvinda antes de dormir.













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OS QUATRO TIPOS DE TEMPERAMENTO - artigo










                                OS QUATRO TEMPERAMENTOS

Ao definir o temperamento da criança, é preciso avaliar que aquilo que se coloca entre a linha hereditária e a linha que representa sua própria individualidade que também a caracteriza e determina sua qualidade individual salientando uma peculiaridade o que permite classificá-la entre quatro tipos distintos de temperamento. Desse modo, compreendendo a dinâmica de cada temperamento pode-se auxiliar a criança na demonstração de suas potencialidades, porque na verdade, o temperamento nada mais é do que o veículo da expressão de sua individualidade que começa a se manifestar com maior intensidade a partir dos sete anos de idade.
Podemos classificar quatro tipos distintos de temperamento; cada um com suas características particulares e individuais há o tipo SANGUÍNEO, que é muito excitável pelo mundo exterior e que tem nas sensações e sentimentos sua grande paixão e isto é o que talvez melhor o defina, um apaixonado por tudo e todos, pois tudo lhe chama atenção, por tudo se apaixona, geralmente, nada verdadeiramente o atrai, embora seu interesse seja amplo, porém fugaz, então tem uma grande dificuldade de fixar-se em algo, observamos o olhar vivo e alegre de uma criança sanguínea que, interessada, olha tudo que está à sua volta e com igual rapidez muda para outro ponto, poderíamos definir que “tudo olha, mas nada vê!“. Percebemos que essa também passa a ser sua atitude perante a vida, pois tudo lhe desperta interesse e lhe traz curiosidade, o que é notável, embora tenha como uma sombra a imensa dificuldade de terminar aquilo que começou, devido a sua grande volubilidade e falta de persistência principalmente diante de obstáculos; então, ao atuarmos perante um indivíduo de natureza sanguínea muito intensificada, o apoio seria em ajudá-lo a que   concretize  aquilo que  iniciou, auxiliando a terminar suas tarefas e estimulando-o a observar seus trabalhos concluídos, para que mais tarde a depressão de um eterno começo sem finalização não venha a aliená-lo mentalmente, o que é o perigo maior desse tipo de temperamento quando descontrolado e mal conduzido.
O temperamento chamado MELANCÓLICO apresenta como característica marcante encontrar-se ligado demais à sua corporalidade, transmitindo à sua própria expressão uma sensação dolorosa, pois não consegue dominar completamente o seu corpo físico e, se nos fixarmos ao seu olhar, podemos observar um olhar voltado para baixo, uma espécie de turvação em seus olhos, carregados de uma melancolia e uma expressão introspectiva muito característica. Ao contrário do sanguíneo, o mundo exterior pouco excita e interessa ao melancólico. O desafio maior está em ajuda-lo para que consiga vencer esse movimento que o prende a terra e o aprisiona e poder olhar o outro, sair de si e ver o que está à sua volta.O mundo parece ser cruel e injusto para ele e algumas crianças muito melancólicas definem seus fracassos diante da vida como responsabilidade de alguém ou de alguma coisa, a tarefa é mostrar que os outros também encontram as mesmas dificuldades que podem ser superadas.
O indivíduo FLEUMÁTICO é aquele que tem o seu temperamento expresso em sua própria figura exterior que por ser muito ligado ao sistema glandular, torna o indivíduo corpulento, chegando a inflar e na sua expressão anímica muito característica em procurar o seu bem-estar e no seu equilíbrio interno; seu olhar é fixo, voltado para dentro de si e justamente por isso tem uma grande dificuldade de expressar-se, há uma grande dificuldade nesse intercâmbio entre o interior e o exterior, então se o mundo externo pouco o movimenta ele tende a uma estagnação, na vida prática são pessoas pacientes que aceitam situações que muitos outros rejeitariam, bons ouvintes, também planejam e são muito persistentes em suas tarefas e realizações, mas tem grande resistência às mudanças e sair de sua letargia que pode se transformar em algo muito patológico.A criança fleumática é geralmente comportada e com persistência executa tarefas difíceis e acaba sendo um bom exemplo para os sanguíneos (por exemplo) que não conseguem se fixar e deixam as coisas de lado, mas os pais e professores devem ficar atentos com essa facilidade da criança em ficar em seu mundo próprio, é necessário colocá-la em movimento.
O temperamento COLÉRICO assim como os outros três também possui seu lado de luz e de sombra e quando observamos uma criança que demonstra facilidade para liderar é competitiva e sente muito prazer em vencer desafios, existe uma grande chance de que essas características façam parte desse temperamento que também apresenta muita determinação para conseguir aquilo que deseja; a segurança em seu olhar e seu passo firme e decidido desafia seus pais e professores que precisam deixar esclarecidos seus limites e obrigações, pois geralmente apresenta uma natureza irascível e questionadora com grande dificuldade em se submeter a regras e adaptar-se a situações que não são de seu inteiro agrado. Uma pessoa com esse tipo de temperamento é muito solicitada nas situações em que é preciso tomar decisões, sua visão prática e analítica é muito bem vinda, mas existe aí uma grande inconveniência quando as suas determinações passam a ser questionadas, nessa hora a grande e custosa tarefa de rever que nem sempre aquilo que falou está absolutamente certo poderá ser muito difícil de admitir. O líder poderá se tornar um tirano, esse é o desafio de quem convive com coléricos muito inflamados.
As características dos temperamentos quando se apresentam dentro de certos critérios, representam aquilo que faz a vida variada, colorida e harmoniosa, pois toda a multiplicidade, a beleza e toda riqueza da vida é possível graças a essas peculiaridades que são expressas nos diferentes temperamentos, não devemos subestimar o valor do temperamento só por ser ele uma qualidade unilateral, não se trata de igualar, de tentar nivelar ou valorizar essa ou aquela característica que apresenta, rotulando o indivíduo com comportamentos presumíveis por se enquadrar neste ou naquele temperamento. Existe algo mais abrangente na observação dos temperamentos que permite utilizar essas características de uma forma mais vantajosa, por assim dizer, auxiliando esse indivíduo a desenvolver suas qualidades completamente, podendo se expressar melhor e conseguir vencer suas dificuldades.


José Carlos Neves Machado
(este artigo faz parte de um livro que se encontra atualmente em revisão para posterior edição)








AOS 14 ANOS - artigo

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Quatorze anos.
Paulinho da Viola

Tinha eu 14 anos de idade
Quando meu pai me chamou (quando meu pai me chamou)
Perguntou se eu não queria
Estudar Filosofia,
Medicina ou engenharia
Tinha eu que ser doutor

Mas a minha aspiração
Era ter um violão
Para me tornar sambista
Ele então me aconselhou
Sambista não tem valor
Nesta terra de doutor
E seu doutor
O meu pai tinha razão

Vejo um samba ser vendido
E o sambista esquecido,
O seu verdadeiro autor
Eu estou necessitado
Mas meu samba encabulado
Eu não vendo não senhor

O jovem de quatorze anos está passando por um período mágico de sua vida, necessariamente não é um momento isento de sofrimentos, mas absolutamente importante, seu corpo que já vinha sofrendo transformações culmina nessa fase com uma nova aquisição o nascimento de seu corpo astral e isso é algo especialmente significativo em sua vida, mas essa aquisição acontece em um momento cheio de conflitos em sua vida. Um período de lutos.
O jovem se olha no espelho e vê algumas transformações, a menina já está mais exuberante, as curvas do seu corpo já se apresentam e chamam a atenção dos garotos da sua turma, algumas se envergonham e se vestem com roupas de manequins maiores para encobrir os seios que já começaram a surgir, muitas já menstruaram, estão diferentes; com os rapazes acontece a mesma coisa, os poucos pelos no rosto são cultivados com orgulho e exibem essa “barba” como um símbolo de maturidade, a voz sofre às alterações naturais e ambos moças e rapazes crescem muito, braços e pernas se esticam e ficam mais altos (estirão da puberdade), mas ainda não dominam seus corpos transformados, ficam desajeitados e tropeçam nas coisas à sua volta, precisam de tempo para se acostumar com esse novo corpo, portanto, a imagem refletida não é mais de uma menina ou de um menino, aquela criança morreu; este é o luto do corpo infantil.
De outro modo seus pensamentos e suas motivações também se modificam, começam a evitar os grupos familiares e se isolam em seus quartos ou em grupos de amigos, esse momento de introspecção os tornam calados, irritados e impacientes, é uma fase e é preciso que seja respeitada também, uma atitude comum nessa época quando os pais querem se aproximar e saber o que aconteceu? E recebem dos jovens uma atitude hostil como reposta, talvez eles mesmos nem saibam dizer o que está acontecendo, mas alguma coisa está diferente dentro deles, o mundo parece que cresceu e os jovens querem conquista-lo, mas se encontram limitados pela idade, pela família, pelas condições em que vivem; aquele mundo infantil em que viviam até então já deu para eles, ainda não sabem o que irão fazer, mas avisam que querem conquistar o mundo e não se conformam com a mediocridade dessa vida burguesa e monótona em que se acham inseridos, outra morte acontece aqui, o luto da identidade.
Por fim e não menos importante surge o luto dos pais idealizados, quando o jovem começa a questionar aquilo que os pais falam e como agem, então as comparações são inevitáveis e o natural confronto com o discurso propagado e a realidade, então é comum os questionamentos surgirem por parte dos jovens que perguntam aos pais: - Porque vocês falam isso e aquilo e não agem de modo consequente? Os pais passam a ter “os pés de barro”, ou seja, são humanos, carentes, contraditórios, injustos, severos, displicentes, enfim, absolutamente humanos deixaram de ser idealizados.
Interessante notar que os adultos por sua vez percebem essas transformações que o jovem está passando e que de certa forma isso também acaba resvalando neles próprios, o que fazer nessa nova versão, porque está assim tão diferente de antes? Constatar que o filho prefere a companhia dos amigos ao invés de acompanhá-los ao aniversário da prima que ele sempre ia, poderá ser um sinal que o jovem também tem o seu direito de escolha, os pais não devem ficar reféns de suas atitudes, afinal ele tem direito de escolher o que gosta de fazer, se para os pais é imprescindível que o filho os acompanhe a todos os seus compromissos, é bom que se preparem, porque a época das caras feias e das contrariedades veio para ficar, principalmente se não houver conversa e algumas vezes o resumo dessa ópera é óbvio: - Vocês não queriam que eu viesse não me obrigaram a vir? - Agora vão me obrigar também sorrir?  E, logicamente acompanhará de má vontade e demonstrará isso a todos à sua volta. E durma-se com um barulho desses! Portanto, é preciso ajustar essa sintonia, a partir de agora as coisas precisam e devem ser conversadas e não simplesmente impostas. Fala-se muito que os jovens são “arborescentes” e isso além da humilhação coloca-os em um lugar quase inatingível, porque os desclassificam e os rotulam como “chatos, difíceis, impossíveis, etc.”; os pais esqueceram que também foram assim ou se justificam dizendo que os pais deles eram mais severos e que eles próprios eram mais educados com os mais velhos e a pergunta permanece: - O que mudou? Na verdade o que mudou foi o próprio tempo e a observação de mundo que esse jovem começou a ter. O mundo BOM do primeiro setênio deu espaço para o mundo Belo do segundo e agora esse mundo torna-se VERDADEIRO e o jovem quer isso, quer ser respeitado, quer argumentar, quer saber o porquê das coisas e quer, sobretudo, questionar e entender e sabem fazer isso muito bem. Tiveram tempo de sobra de estudar os pais e a família e sabem conquistar as coisas que querem, mentem e também sabem esperar para conseguirem o que desejam isso não os transformam em delinquentes apenas atualiza-os no contexto familiar e social em que viveram esse tempo todo, a imitação aqui já não é mais reproduzida, mas a postura ainda precisa e deve ser mais do que nunca ser imposta e exercida pelos pais.
Costumo dizer aos pais que agora é preciso atualizar a fotografia de nossos filhos que guardamos dentro da nossa memória, o Joãozinho agora cresceu a Heleninha também, talvez já não gostem mais dos apelidos infantis e muito menos de serem tratados como crianças, podem ter direito a escolhas, que certamente deverão ser conversadas, mas a foto agora é outra e é preciso que os pais entendam que tudo o que plantaram com dedicação e amor está bem guardado dentro de cada um deles, mas não é o caso de se afastar e nem ficar grudado demais, para decepção de muitos pais o acesso a revelações íntimas de seus filhos não é prioritário para eles que podem eleger outras pessoas para suas confissões, portanto ao invés de reclamar, vale a pena aproximar-se dos amigos do filho, não para participar de suas rodas de conversa, mas para abrir espaço para que esses encontros aconteçam dentro de casa. A polaridade em tratar o filho como o grande amigo ou o grande desconhecido não funciona aqui, o que o jovem continua precisando é de alguém que o acompanhe, corrija, seja firme e que o tratem com respeito, amigos bem melhores ele irá descobrir fora de casa, o pai não é amigo do filho, o que não significa que seja inimigo, mas o pai é e deveria sempre se portar como pai, alguém que cobra, orienta e se mostra solidário quando seu filho precisa.
Cabe lembrar que também nessa fase os pais encaram uma morte, seu filho pequeno, cresceu e os pais se encontram diante de uma nova realidade, pois se tornaram mais desnecessários do que antes e isso incomoda e perturba, vão percebendo que o ninho vai ficar vazio, que eles próprios envelheceram e precisam encarar essa nova fase de suas vidas, curiosamente esquecem que começaram sós, depois se transformaram em um casal e com o passar dos anos essa relação vai se tornando mais distante, o que não significa abandono, mas afinal não criamos filhos para o mundo, ou essa também seria uma frase difícil de cumprir, realmente, não é tarefa fácil, mas absolutamente necessária.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

BRINCADEIRA TEM HORA - artigo

Médico na Escola Dr José Carlos Machado www.mediconaescola.com Acompanhe tampem nosso canal no You Tube! https://www.youtube.com/user/medicinaescolar







BRINCADEIRA TEM HORA

BRINCAR É COISA SÉRIA.
Friedrich Nietzsche

Muitas vezes os adultos se esquecem, mas puxando pela memória lembram, com saudade, que também já foram crianças um dia. E o que toda criança mais gosta de fazer? Brincar! Hoje, por incrível que possa parecer isso precisa ser explicado, já não é, como se imagina, algo tão simples assim. Quem veio do interior para a cidade grande ou mesmo os daqui da capital, há alguns anos atrás (nem tantos assim), podem se lembrar das brincadeiras de rua e das atividades que elas tinham quando crianças: soltar pipa, brincar de esconde-esconde, pega-pega, passa-anel, jogar taco ou simplesmente ficar nos portões conversando até a hora de ir pra casa tomar banho, jantar e dormir e no dia seguinte encontrar-se de novo na rua ou na escola. Chega-se até a acreditar que antes era melhor, mas a realidade hoje é outra, existem situações que não podemos deixar de enxergar, tem a própria dificuldade de brincar na rua, parece que não existe mais ruas para isso, tem os carros, tem o próprio desuso das pessoas saírem de suas casas, até de conhecerem o vizinho do lado já é difícil, o que dizer então interagir com esse estranho, mas acontece que as crianças de hoje são os nossos filhos e a preferência pela brincadeira ainda continua, só que precisamos refletir e tentar enxertar nisso uma qualidade especial que precisa ser ensinada, porque, até pela falta de hábito, muitas crianças nem sabem mais brincar e trocam tudo isso por um bom videogame ou um programa de televisão e aí começa um grande problema que os adultos precisam ficar atentos e interferir.Uma parcela significativa da população infantil fica não menos de quatro horas na frente de um aparelho de televisão (nos EUA a média é de seis horas/dia).
Através desse aparelhinho tirano, que direciona e autoriza muitas brincadeiras das crianças e pensando nisso realmente dá saudade do tempo em que não se tinha muito contato com a TV, ou pelo menos, sua influência não era tão decisiva, muitas crianças condicionam suas atividades antes ou depois de determinadas programações de TV, com total conivência e absoluto descaso de seus pais (sabe-se que praticamente toda a população do planeta Terra, exceto áreas extremamente inóspitas, já tiveram contato de alguma maneira com um aparelho de televisão, inclusive no pólo ártico).
As crianças, principalmente as pequenas, não entendem aquilo que a TV lhes apresenta, não se trata de subestimar a capacidade de percepção da criança, elas captam tudo, até muito bem, percebem, mas não interagem, não há troca nessa relação, a imagem vem e inunda a mente da criança, com uma série de emoções e conflitos que ela não consegue processar, nem tampouco interagir e aí está a explicação para tantos conteúdos esquisitos que observamos nos nossos filhos, nas insônias que muitos apresentam (não conseguem se desligar daquelas imagens) e do sono no dia seguinte durante as aulas, já que foram dormir muito tarde depois de assistirem “aquele filme imperdível”. Acostumaram-se a assistirem a todas essas bobagens completamente passivas, sentadas diante da TV e imitam tudo aquilo que lhes é permitido (e até estimulado) a ver, isso só levando-se em conta a programação considerada infantil, que já é sofrível, sem contar toda a erotização presente nos comerciais de TV, nas propagandas de bebidas e cigarros, nos telejornais, principalmente naqueles sanguinolentos, nas novelas, nos filmes e por aí vai, a propaganda descobriu que o pequeno espectador é também um grande consumidor: assiste na TV e pede aos pais que comprem aquilo que é anunciado.
Talvez fosse muito interessante que parássemos e nos lembrássemos das brincadeiras que já fizemos ou aquelas que nem pudemos fazer e agora resgatá-las e brincar com os nossos filhos. É verdade que tem o trabalho, tem o cansaço, tem o momento de relaxar depois de um dia duro, existe o caso da criança que fica em casa sem ter o que fazer ou amigos para brincar e ela fica “só um pouquinho” vendo aquele “programa bonitinho” do canal X, mas tem principalmente o hábito e a tirania que essa mesma TV impõe a desconstrução que ela causa, porque acaba roubando da família a possibilidade de conversar, de trocar informações sobre aquilo que experenciaram durante o dia, padroniza muitos jargões que as crianças repetem à exaustão quando vêem e imitam essas caricaturas que assistem na televisão. Na pior das hipóteses, se há a opção da família em ver TV que isso aconteça com todos juntos, é bom que os pais vejam e reflitam sobre o que os seus filhos assistem e conversem a respeito disso ou até permitam esse ou aquele programa, mas que se posicionem e restrinjam aquilo que chega aos seus filhos, na maioria das vezes os pais, quando questionados, não tem a mínima idéia do que acontece com seus filhos, quando ausentes, ainda mais aquilo que assistem na telinha da TV. Realmente brincadeira tem hora e é saudável que as crianças tenham um tempo reservado do seu dia para que corram, pulem, se divirtam, brinquem, saiam da frente da TV e do videogame, porque o tempo passa, o hábito fica e elas acabam crescendo sem a chance de saber brincar e o maior prejuízo que advem daí é a falta de contato com a fantasia e a criatividade que as brincadeiras propiciam e que cada vez mais observamos que vão sendo substituídas pelos modelos dos heróis que a televisão lhes apresenta: a cólera desenfreada do Pato Donald, as maldades e a agressividade contidas nos desenhos do Pica-Pau, a indolência e a preguiça do Garfield, a ironia e a sordidez expressas nos personagens dos Simpsons, sem contar os poderes fantásticos dos super-heróis, a erotização explícita em tantos personagens, as lutas marciais e as armas que soltam raios e matam todos que ousem se aproximar. É preciso diferenciar o bonitinho do conceito estético de beleza, no geral, alguns (senão todos), os desenhos são extremamente feios e propositadamente assustadores. Isso tudo faz parte do universo de muitas crianças e interfere mais dos que os próprios pais muitas vezes imaginam e é importante que isso seja observado por eles, pois realmente há uma identificação muito negativa com esses personagens, que as crianças imitam e expressam em gestos, frases, atitudes e palavras, afinal ela tem um longo e antigo contato com essas caricaturas, quer estampados em suas roupas, nos posters que decoram suas paredes, nas figurinhas que colecionam, ou ali pertinho, bem ao alcance de suas mãos, no aparelho de TV que fica em seu próprio quarto bem acima de sua cama. Um grande desafio seria de nos propormos a ficar pelo menos um dia sem ligarmos ou deixarmos que as crianças tenham qualquer contato com o aparelho de televisão, vídeos inclusive (para alguns com sendo uma grande dose de sacrifício, tal o vínculo que é estabelecido), para podermos experimentar a sensação de ficarmos juntos e colocar a conversa em dia ou contar boas histórias, as da própria família, por exemplo, que tanto agrada às crianças, com o sucesso dessas experiências esse tempo poderia ser gradativamente aumentado e então a tirania desse terrível aparelhinho poderia ser desbancada, é lógico que pode ser difícil, mas deverá ser ao menos tentado, essa tarefa é dos adultos de casa, não é responsabilidade infantil, mas falta de postura de seus pais. Sabe-se que as crianças brasileiras assistem uma média de três horas diárias de TV e como consequência direta as que menos lêem e também com pouca atividade física, o maior passatempo é ficar na frente da televisão, fazendo suas refeições inclusive com a TV ligada (Folha de São Paulo – outubro/2004).
Existe uma conta que precisa ser feita e quem chama atenção disso é o Professor Mario Sérgio Cortella em seu livro “NÃO NASCEMOS PRONTOS – Ed. Vozes, Petrópolis, 2017”, exatamente no capítulo em que trata sobre a mídia, diz o mestre; “uma criança dos centros urbanos, a partir dos dois anos de idade, assiste, em média, três horas diárias de televisão, o que resulta em mais de mil horas como expectadora durante um ano (sem contar as outras mídias eletrônicas como rádio, cinema, computador); ao chegar aos sete anos, idade escolar obrigatória; ela já assistiu a mais de cinco mil horas de programação televisiva”. Ou seja, isso influencia e muito a formação ética dessas crianças, trata-se de outro corpo não escolar que têm um absurdo domínio sobre crianças e jovens e isso precisa ser observado e transformado rapidamente.
O problema maior consiste nos efeitos tremendamente nocivos que esse tipo de “brincadeira” acaba causando na cabeça de nossas crianças e isso certamente não tem a menor graça é chegada a hora de parar e pensar sobre isso, no mínimo questionarmos sobre essa influência absolutamente dispensável na educação de nossas crianças.
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Dr. José Carlos Neves Machado